Foi um desserviço a entrevista de André Motta Ribeiro à Globonews nesta manhã. Em poucos minutos, o secretário de Estado da Saúde desprezou os fatos, escorregou nas explicações e perdeu a oportunidade de chamar atenção da população para o colapso que Santa Catarina enfrenta na saúde.
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A fala trouxe pistas sobre a forma como o governo está lidando com a mais séria crise sanitária pela qual SC já passou. Enquanto catarinenses morrem na fila de espera por um leito de UTI, o Estado busca manter as aparências de um controle que já não existe.
Confrontado com as informações de 44 mortes entre as pessoas que aguardavam vaga de terapia intensiva, o secretário tentou negar o óbvio: tratar um doente em estado grave, fora do ambiente de UTI, potencializa os riscos. Também negou que enviar pacientes para o Espírito Santo tenha sido “a última alternativa” para Santa Catarina – que, segundo ele, vai muito bem com sua rede de assistência. O que nos leva a pensar por que crueldade, então, estaríamos enviando pessoas doentes para muito longe de casa.
Questionado sobre as frouxas medidas de restrição, diante do colapso na rede hospitalar, André Motta Ribeiro se perdeu nas justificativas. Primeiro, disse que o lockdown “não funciona”, citando equivocadamente o exemplo de Portugal – país onde 92% dos casos foram reduzidos em quatro semanas com o confinamento total. Foi confrontado com a verdade. Mudou o discurso.
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Na fala do secretário, Santa Catarina é um oásis de saúde pública com regramentos, protocolos, leitos suficientes e insumos para dar e vender. Um quadro que contrasta de com os relatos que chegam de dentro das unidades de saúde, em todas as regiões. Como o do Hospital Regional São Paulo, de Xanxerê, que emitiu um alerta esta semana em que dizia o seguinte:
“Não tem mais possibilidade para receber mais pacientes que necessitem de ventilação mecânica ou suporte de oxigênio. Estamos com pacientes graves, acomodados em poltronas ou em espaços improvisados, pois já se esgotou toda a estrutura física para atendimento”.
Informações como essas vêm de todo o Estado, de equipes médicas que estão saturadas, exaustas e impotentes diante de pacientes com falta de ar que chegam sem parar às emergências.
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Admitir que estamos em meio a uma crise profunda, com consequências sérias à saúde pública, e que empurra as pessoas para a morte, é uma verdade incômoda, dolorida, mas necessária. Santa Catarina não está isolada do restante do país, e sofre com a mesma falta de gestão e articulação nacional. O Estado não responde sozinho pela pandemia – mas, ao tergiversar, negar os dados e minimizar a morte, assume para si o ônus da tragédia.
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