Há uma clara linha de marketing em rede social de políticos de Santa Catarina. Independentemente do cargo, os eleitos catarinenses se utilizam do ambiente virtual para tornar as decisões sobre o colapso do coronavírus no Estado “mais fáceis”. Esquecem, porém, que foram eleitos para tomar medidas duras e difíceis. Muitas delas não rendem um comentário positivo sequer dos eleitores, mas são necessárias diante de um cenário como o atual. Os casos de Covid-19 se espalham pelas cidades na mesma velocidade em que os políticos fazem vídeos e fotos para simplificar o enfrentamento.

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As apostas são praticamente as mesmas: mais UTIs, tratamento precoce e promessas contra fechamentos. Como bem percebemos em casos como Chapecó e Itajaí, medicamentos sem comprovação de eficácia contra a doença não ajudam. Enquanto isso, o pedido de mais UTIs começa a se tornar inviável na prática diante de fatores como a falta de profissionais para trabalhar e a ausência de sinais positivos para a tentativa do governo do Estado de contratar leitos privados em hospitais.

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O debate sobre restrições, que deveria ser maduro e embasado na ajuda econômica diante da necessidade de fechamentos, torna-se ideológico. Especialistas em epidemiologia apontam a restrição de circulação como fundamental para conter o avanço acelerado de internações e mortes. Esse fator importante, contudo, fica em segundo plano.

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Os políticos conseguem avançar ainda mais o discurso de marketing lançando propostas efetivamente inviáveis. É o caso da compra de vacinas por prefeitos e pelo governador Carlos Moisés da Silva. Nos últimos dias foram inúmeras as postagens em redes sociais de diferentes autoridades tratando do assunto. Na prática, porém, a compra de Estados e municípios diretamente de fabricantes não tem a menor viabilidade neste momento. A guerra comercial é entre países e algumas empresas já informaram que a negociação ocorre diretamente com o Ministério da Saúde.

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Para piorar, ainda há políticos catarinenses que dão péssimo exemplo nas próprias redes sociais. Postam fotos aglomerados em pequenos espaços. Em um dos casos, um parlamentar publicou imagem de jantar com prefeitos catarinenses em Brasília no mês passado, sendo que muitos deles estavam sem máscara, em clima de festa. Enquanto isso, moradores de SC já começavam a lotar unidades médicas.

Na sexta-feira, o ministro Eduardo Pazuello vem a Santa Catarina para agendas em Xanxerê e Chapecó. Espera-se que a vinda resulte em medidas, em atos suficientemente sólidos para salvar as vidas. Mas, pelo que tudo indica, será mais um show nas redes sociais dos políticos catarinenses, que vão tentar a todo custo estar próximos a Pazuello nas fotos.

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Chegou o momento dos representantes eleitos de SC que ainda não abriram os olhos se atentarem para a realidade dos hospitais, para o relato dos médicos, para o choro dos familiares de quem entrou num leito de UTI sem data para retorno. Por que não uma ação conjunta, um pacto pela vida? Sem bandeiras partidárias ou interesses? Essa é a hora dos políticos mostrarem para o que realmente foram eleitos.

Uma pandemia não se enfrenta com medidas simplistas e propaganda em redes sociais. O momento pede medidas duras e decisões difíceis, e elas precisam ser tomadas por quem foi eleito pelos catarinenses.

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