Visionário urbanista franco-colombiano, o professor Carlos Moreno, diretor científico da Universidade de Paris 1 Pantheón Sorbonne, criou o modelo de “Cidade de 15 minutos” na qual as pessoas podem fazer quase tudo a pé ou de bicicleta. A grande adesão ao modelo, cerca de 400 cidades pelo mundo até agora, tendo como um dos exemplos a icônica Paris, mostra que é um conceito ideal ao presente e ao futuro: reduz emissões de carbono, ativa a economia local,  incentiva atividade física e aproxima as pessoas com incentivo a moradias e trabalho a todas classes sociais.

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Numa iniciativa das empresas Urbana e Cidade das Águas, de Santa Catarina, com apoio do Instituto Pedra Branca, Carlos Moreno esteve terça-feira em Florianópolis, quando teve reunião com 15 prefeitos, entre os quais Topazio Neto, de Florianópolis, e Adriano Silva, de Joinville para falar sobre o modelo que criou.

Veja mais imagens da visita do professor Carlos Moreno a SC e SP:

Ele também fez palestra a grupo de urbanistas e arquitetos do estado, na Casa Urbana, onde foi recebido pelos empresários Valério Gomes e Marcelo Gomes. Além disso, participou em São Paulo no seminário Complan, sobre cidades planejadas, em painel com Marcelo Gomes. Em Santa Catarina, Carlos Moreno, destacou a série de vantagens do conceito, mas alertou que a adoção requer plano de longo prazo, continuidade, independentemente de quem assume a gestão das cidades.

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O modelo está se propagando pelo mundo principalmente pelo livro que o professor lançou, “A Cidade de 15 Minutos”, já traduzido para 13 idiomas, inclusive o mandarim.  Saiba mais sobre as vantagens e desafios do modelo “Cidade de 15 Minutos” a seguir, na entrevista exclusiva que ele concedeu para o portal NSC Total:

O que propõe o conceito “Cidade de 15 Minutos” que o senhor criou?
– Eu proponho este conceito, primeiro, há 10 anos, em 2015. Foi depois da COP21, em Paris, e agora teremos a COP30, em Belém, porque eu pensava que as cidades são os mais importantes contribuintes em emissões de CO₂. Eu propus uma vida em cidade policêntrica, com muitos serviços, com transformação de uma cidade para pessoas e não para automóveis, e com vida em todos os todos os bairros.

Portanto o que importa é a distância. Eu a chamei Cidade de 15 Minutos como exemplo de curtas distâncias, mas o número 15 não é o mais importante. O que importa são curtas distâncias e serviços. E o conceito ficou famoso quando a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, fez dele o centro de sua política urbana e transformou a cidade com muito êxito. E agora, depois da Covid, e com a influência de muitos prefeitos e organizações mundiais, o conceito está em todos os continentes.

Qual é a vantagem para as pessoas em uma cidade com esse conceito?
– A principal vantagem para as pessoas é mudar o modo de vida do século 20 nas cidades, que está baseado em separar as zonas em que o trabalho, a vida e a cultura estão localizadas. Estão longe e, para se deslocar de um lugar a outro, dependemos fundamentalmente dos carros.

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Gastou-se muito dinheiro em rodovias, viadutos, pontes… e a cidade acabou se desumanizando. Os habitantes da cidade, pouco a pouco (e eu costumo dizer isso com frequência), se transformaram em homens e mulheres centauros: metade humano, metade carro. O automóvel virou um objeto de status social.

E quais são os sintomas dessa desumanização?
– Com isso, surgiram problemas de saúde: pela poluição, pelas partículas finas, pela falta de exercício, pela carência de áreas verdes e até mesmo de água. A cidade foi se tornando cada vez mais desumanizada e passou a ser uma cidade que adoece. Tudo é rápido, a vida está acelerada. Pais e mães quase não veem seus filhos. Criou-se uma cidade totalmente desconectada do ponto de vista humano. E, além disso, a cidade cresce cada vez mais para fora.

Qual é o modelo possível de cidade que resolveria esses problemas?
– A principal vantagem do modelo de proximidade é reencontrar nossa vida individual, familiar e social de forma mais conectada. E, ao mesmo tempo, reduzir excessos. Reduzir nossa pegada de carbono, fortalecer a economia local, o comércio de bairro, incentivar novas formas de trabalho e regenerar os bairros, criando mais interações sociais por meio do uso compartilhado do espaço público.

E como foi essa mudança em Paris, uma cidade antiga? O que fizeram para que ela se transformasse em uma cidade de 15 minutos?
– A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, adotou esse conceito em 2019 e fez dele o eixo de sua transformação urbana em três áreas. A mais visível: reduzir a presença de carros e ampliar os espaços para caminhar, circular pelo bairro, usar a bicicleta ou o transporte público.

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O exemplo mais conhecido no mundo: o Rio Sena, que antes não era um rio, mas sim duas imensas autoestradas em cada margem. Essas autoestradas deixaram de existir e hoje são parques para as pessoas. Foram construídos 1.200 km de ciclovias protegidas, segregadas, para dar segurança aos ciclistas. Agora é possível atravessar Paris inteira sem carro. As praças passaram a ser, de fato, praças para as pessoas, não mais para os automóveis.

Foram criadas florestas urbanas, áreas verdes, e a água foi trazida de volta para muitos espaços da cidade. No Sena, hoje existem três piscinas nos canais Saint-Martin e Ourcq, que se tornaram áreas de lazer para a população. Mas a transformação foi além: a prefeita promoveu também mudanças no uso dos edifícios, que antes serviam apenas para uma única atividade.

Que mudanças foram essas?
– Prédios de escritórios, só para trabalhar. Prédios residenciais, só para morar. E a habitação social concentrada em alguns bairros específicos. Agora, há uma política de mistura: cada edifício deve abrigar diferentes usos. A habitação social também não deve ficar restrita a um único bairro, mas estar integrada à cidade como um todo.

O terceiro eixo foi a atividade econômica. A prefeitura criou políticas para oferecer espaços a baixo custo em toda a cidade, para instalação de negócios. Padarias, açougues, peixarias, livrarias, espaços de coworking, ateliês de artesãos… para que o trabalho possa ser realizado em locais próximos e acessíveis.

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Porque, se há comércio no próprio bairro, as pessoas vão a pé ou de bicicleta. Isso faz com que os bairros tenham vida. Em vez de pegar o carro e rodar 20 ou 30 quilômetros até um grande supermercado, shopping ou loja de rede, como a Ikea, agora as necessidades são atendidas dentro da cidade.

Esse modelo gera economia local, empregos de proximidade e circuitos curtos de produção e consumo. Eu resumiria assim: ecologia, economia e impacto social positivo, graças à proximidade recriada em toda a cidade.

Incrível, não é? Gostaria de saber: o senhor nasceu na Colômbia, e a cidade de Bogotá também adotou esse modelo de urbanismo. Poderia falar sobre quais transformações foram feitas lá?
– Bom, Bogotá quis adotar o modelo. Mas, ao contrário de Paris, a cidade não teve continuidade entre os prefeitos. A prefeita de Paris tinha esse projeto e, durante 12 anos, ele foi desenvolvido de forma contínua. Em Bogotá também se quis avançar com esse conceito, mas lá o mandato é de quatro anos e não existe reeleição. Então, o projeto já nasce com essa limitação.

O que se vê em Bogotá são as ciclovias, mas elas funcionam basicamente nos fins de semana, não durante a semana. E nos dias úteis a cidade ainda enfrenta muito engarrafamento, muito congestionamento. Além disso, muitos bairros populares, que representam quase um terço dos 9 milhões de habitantes, vivem em áreas carentes de serviços.

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Por isso, Bogotá gostaria de ter um projeto de cidade de 20 ou 30 minutos, para garantir acesso a esses serviços. Mas isso exige um plano que, como em Paris, seja conduzido com instrumentos próprios da cidade. Em Paris, por exemplo, existem agências econômicas municipais que cuidam do comércio, das áreas verdes…

Em Bogotá, esse esforço está sendo tentado, mas é preciso continuidade política, para que, quando muda o prefeito, não seja necessário começar tudo do zero novamente. É isso que sempre digo aos prefeitos na América Latina. Não se pode criar um projeto pensando que em quatro anos será possível transformar uma cidade. Nenhuma cidade do mundo muda em quatro anos. É um processo lento, que leva tempo.

Por isso é necessário ter projetos que continuem. Mesmo que o prefeito seguinte não seja o mesmo, ou até que não pertença ao mesmo espectro político. Porque fazer cidades para as pessoas não tem cor partidária. Tem apenas uma cor: o urbanismo humanista e o urbanismo social.

E isso deveria ser natural para qualquer gestor público que queira melhorar a qualidade de vida de seus habitantes. Mas, muitas vezes, o ego do prefeito pesa. Ele pensa: “se me disseram que sou melhor que o anterior, então vou mudar tudo”. E cada mudança dessas representa tempo perdido.

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E para que haja continuidade as cidades precisam de um plano de desenvolvimento de longo prazo que possa ser seguido e executado?
– Sim, é exatamente o que eu recomendo aos prefeitos. E é a experiência que vemos hoje no mundo inteiro. O legado, a herança de Anne Hidalgo, não é apenas o sucesso da transformação de Paris, que hoje é visível no plano ecológico; para quem acompanha, também é perceptível no plano econômico e, de forma muito clara, na revitalização dos bairros.

Mas, além disso, Anne Hidalgo fez um trabalho profundo, muito importante, que durou três anos: propôs e fez com que o Conselho de Paris aprovasse, porque é uma instância democrática, o novo plano de ordenamento territorial da cidade. Ele se chama Plano Local Urbano Bioclimático. Ou seja, esse plano definiu as novas regras de urbanismo de Paris, válidas por 10 ou 15 anos.

Para alterá-lo, é preciso refazer todo o processo, porque ele tem força de lei. Foram mais de três anos de trabalho, consultando cidadãos, dialogando com especialistas, cientistas, discutindo com políticos, até chegar a um plano. Quando temos um plano local de urbanismo ou um plano de ordenamento territorial de longo prazo, temos uma rota clara, uma trajetória, um farol que aponta o caminho.

E como reproduzir esse plano de longo prazo aqui?
– Eu sempre digo a amigos e amigas, prefeitos, prefeitas, governadores e agora também a ministros e presidentes: é preciso dar prioridade aos planos de ordenamento territorial que coloquem no centro da agenda a cidade para as pessoas, a cidade policêntrica, a cidade da proximidade, como eixo do desenvolvimento urbano.

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O 12º Fórum Mundial Urbano, organizado pela ONU-Habitat a cada dois anos (o último, o 14º, aconteceu no Cairo), trouxe, no chamado à ação resultante desse encontro, um ponto muito claro: o número cinco dizia que proximidade e circularidade devem estar no coração do desenvolvimento urbano.

É por isso que digo aos governos locais: adotem a proximidade e a circularidade como eixos do desenvolvimento urbano. Porque é a partir disso que se pode traçar um plano de dez anos. Hoje mesmo Anne Hidalgo falava em Nova York, na Assembleia Geral das Nações Unidas sobre cidades, e dizia: esses planos estratégicos baseados na proximidade, seja a cidade de proximidade, a cidade feliz, a cidade de 15 minutos, o território de 30 minutos ou a cidade de curta distância, são a melhor alavanca estratégica para transformar a cidade, se forem concebidos a longo prazo.

O senhor visitou Florianópolis hoje, é a sua primeira vez aqui. Já deu uma olhada na cidade? Florianópolis pode se tornar uma cidade de 15 minutos?
– Sim, conheço bem o Brasil, mas é a primeira vez que venho ao estado de Santa Catarina e a Florianópolis. Hoje de manhã também estivemos em Pedra Branca, e pude visitar lugares realmente incríveis. Pelo que entendi, Florianópolis se beneficia por ser uma das maiores cidades de Santa Catarina, não é a maior, é a segunda, com cerca de 1 milhão e 200 mil habitantes (no aglomerado urbano da Grande Florianópolis). Mas tem a seu favor uma economia ligada à inovação, à tecnologia, ao turismo, além de uma qualidade de vida que se percebe e, também, um ambiente social agradável, sem tensões excessivas.

Ao visitar Pedra Branca, conheci esse projeto tão importante junto à universidade, com todo o desenvolvimento urbano de proximidade que foi realizado. E acredito que Florianópolis tem um potencial extraordinário para se tornar referência não apenas no Brasil, mas também em nível internacional, como uma cidade voltada para as pessoas, para a qualidade de vida. Eu insistiria que a governança local dê prioridade a esse tipo de desenvolvimento.

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Todos os elementos estão aqui: há empreendedores da construção civil, da promoção imobiliária, com quem estive em contato, há pesquisadores, laboratórios, o mundo acadêmico, tecnologia nas startups e, claro, a cidadania. Portanto, todos os ingredientes estão presentes para, na minha visão, construir um projeto icônico.

O Brasil já tem cidades icônicas, como Curitiba, graças ao esforço do saudoso Jaime Lerner, lembrado por todos pelo seu espírito inovador de transformação urbana. Florianópolis tem todas as condições para assumir esse papel de cidade icônica da transformação. Espero que isso tenha continuidade e que possamos aprofundar esse caminho nos próximos anos.

O senhor teve um encontro com um grupo de prefeitos, inclusive o de Florianópolis. Ficaram interessados no seu modelo de cidade?
– Sim. Tive a oportunidade de participar de um almoço que reuniu prefeitos de Santa Catarina, além de representantes do estado e também do setor tecnológico ligado à Acate. Fui convidado a falar, meu livro estava presente, e pude me dirigir a essa audiência. Fui muito bem recebido. Houve até uma sessão de autógrafos, pude conversar com muitos deles e percebi um grande interesse nesse conceito.

Eu ainda diria: nasci na América Latina, na Colômbia, onde vivi até os 20 anos. Depois me mudei para a França, onde vivo desde então. Sou cidadão francês, integrado à cultura francesa, faço parte do meio intelectual que reflete sobre as cidades. Mas sempre preservei minhas raízes latinas. Por isso, apresentar esse conceito aqui, diante dos prefeitos e da audiência, tem a vantagem de vir de alguém que compartilha a cultura latino-americana. Isso torna o diálogo muito mais permeável, quase imediato, porque temos o mesmo DNA, os mesmos códigos culturais.

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Não é a mesma coisa quando quem traz a proposta não tem essa bagagem cultural, aí é preciso aprender os códigos, o que leva tempo. Aqui, pelo contrário, tudo flui de forma natural. Por isso achei a audiência muito receptiva e espero que haja continuidade nos próximos dias, semanas e meses, para aprofundar esse debate aqui em Florianópolis.

Santa Catarina é um estado de cidades pequenas. É mais fácil implantar esse modelo em cidades pequenas ou em cidades grandes?
– Não temos preferência, porque este conceito tem uma particularidade e uma vantagem muito grandes do ponto de vista teórico: eu o concebi para que fosse independentemente do tamanho da cidade ou da densidade. No livro eu explico que ele se aplica tanto em cidades superdensas, como Paris, uma das mais densas do mundo, quanto em povoados muito pequenos, de 4 a 5 mil habitantes, de baixíssima densidade.

O conceito é o mesmo porque não se trata de uma lista de ações com um resultado final, um coeficiente ou uma etiqueta. É, sim, um marco de pensamento para que a cidade seja mais para as pessoas: onde moram, trabalham, fazem compras, cuidam da saúde, têm acesso à educação, praticam agricultura e lazer.

Ele se organiza em três indicadores de bem-estar: o bem-estar individual e familiar; o bem-estar social, com vizinhos e colegas de trabalho; e o bem-estar ecológico, que envolve a pegada ambiental e a relação com outras pessoas da cidade. Disso resulta a chamada “matriz de alta qualidade de vida”.

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E o que seria isso?
Em cidades densas, privilegiam-se caminhada, bicicleta, transporte público e serviços acessíveis em toda parte. Já em cidades pequenas ou de baixa densidade, onde as distâncias são maiores, é necessário incluir novas formas de mobilidade, como carros elétricos compartilhados, transporte sob demanda e linhas virtuais.

A lógica é que, nesses casos, nem sempre a população vai até os serviços; muitas vezes, são os serviços que precisam ir até as pessoas. Na saúde, por exemplo, em áreas densas há centros de atendimento, mas em áreas dispersas podem ser necessários caminhões de saúde equipados, que levem atendimento médico até a população. O mesmo vale para abastecimento e cultura: se não há teatro por perto, podemos levar o teatro até as pessoas, em apresentações temporárias em espaços alternativos.

Por isso, em 4 e 5 de setembro realizamos em Paris a primeira Conferência Mundial de Proximidades Sustentáveis. Participaram grandes cidades como Paris, Barcelona, Milão e Tóquio, mas também cidades menores, como Montería, na Colômbia, e municípios pequenos em Portugal e Espanha. Isso demonstra o encanto e a força do conceito, que pode ser aplicado em qualquer lugar, independentemente do tamanho ou da densidade.

O senhor tem ideia de quantas cidades já adotaram esse conceito no mundo?
– Temos o Observatório Mundial de Proximidades Sustentáveis, que reúne as experiências implementadas. Hoje conhecemos, nos cinco continentes, entre 300 e 400 cidades que já trabalham com esse conceito. Mas, a cada dia, descobrimos novas cidades que estão aplicando a proposta.

Recebi hoje mesmo uma mensagem de um colega na Itália: ele passou por uma cidade e me enviou uma foto mostrando a implementação da “cidade de 15 minutos”. Há muitos casos acontecendo que só vamos descobrir mais tarde. Por exemplo, meus livros estão traduzidos para 13 idiomas, incluindo agora o chinês simplificado, para Taiwan, e o chinês tradicional, para a China.

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O governo chinês decidiu implementar o conceito em suas cidades e, quando a decisão parte de cima, sabemos que terá grande alcance, mesmo que ainda não tenhamos informações completas sobre isso. O fato de o livro estar traduzido em tantas línguas mostra a força e a difusão do conceito.

Quem constrói a cidade, o setor da construção civil, participa facilmente do conceito?

É uma ótima pergunta. Em um mundo em transformação, setores tradicionais mudaram seus modelos de negócio com a chegada da internet, do Airbnb, das novas tecnologias. O mesmo ocorre com a construção civil, que precisou se adaptar positivamente, especialmente em momentos de crise como a pandemia de Covid-19, quando o setor de escritórios entrou em crise.

Em Paris, o bairro corporativo de La Défense, o maior da Europa, já não atrai os trabalhadores como antes. Hoje, os jovens, ao buscar emprego, querem pelo menos dois dias de teletrabalho. Esse novo comportamento pressiona a construção corporativa a se reinventar: criar espaços de uso misto, que combinem trabalho, restaurantes, lazer e serviços médicos.

Essa mudança também se dá com as moradias?
– O setor habitacional também precisou se transformar. O modelo de moradias isoladas, monofuncionais e sem serviços próximos está em crise. Assim como o setor de varejo: os grandes shoppings já não atraem consumidores dispostos a percorrer longas distâncias de carro. Empresas como a Ikea mudaram de estratégia, instalando lojas menores nas cidades e adotando modalidades como click and collect.

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A Federação Mundial do Real Estate (Fiabci) adotou nosso conceito para orientar esses novos modelos de negócio. Na Mipim, a mais importante feira mundial do setor imobiliário, realizada na França, o prêmio de melhor regeneração urbana foi concedido a um projeto em Łódz, na Polônia, que transformou uma antiga área industrial em um bairro de uso misto, acessível a toda a população. Esse projeto foi desenvolvido a partir do nosso conceito.

A grande diferença é que esses bairros não são apenas para os mais ricos. São projetos inclusivos, com habitação social e serviços acessíveis a todos. Esse é o grande desafio: criar cidades para todos, e não apenas para poucos que podem pagar. Em contraste, na América Latina, proliferaram condomínios fechados, distantes e inacessíveis para a maioria. Nossa visão é exatamente o oposto: cidades abertas, democráticas e inclusivas.

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