O tarifaço de 50% anunciado nesta quarta-feira (9) pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para todos os produtos importados do Brasil surpreendeu pelo tamanho da alíquota e, se realmente entrar em vigor, vai afetar as exportações catarinenses ao mercado americano, que nos últimos anos tem sido o principal destino de produtos de SC. O primeiro vice-presidente e presidente eleito da Federação das Indústrias de SC (Fiesc), Gilberto Seleme, diz que agora os diplomatas brasileiros devem negociar com o governo americano porque se a tarifa prevalecer, indústrias do estado vão perder a competitividade.
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– O setor industrial catarinense se modernizou tanto para achar mercados… Se globalizou, as empresas estão modernas e a maioria das exportações da indústria de Santa Catarina é para o mercado norte-americano. Mas com um tarifaço desses, nós perdemos toda a competitividade que fomos ganhando ano a ano. Sem poder exportar aos EUA, a opção é jogar para um outro país as vendas. Mas não existe mercado para comprar o volume que nós produzimos. E o mercado interno também não suporta tudo o que nós fazemos – lamenta Gilberto Seleme.
Na avaliação dele, os diplomatas brasileiros por meio do Itamaraty e do Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços devem procurar Donald Trump para negociar. No final da carta, o presidente americano sinalizou que está disposto a negociar, observa Seleme.
O vice-presidente da Fiesc para o Planalto Norte, Arnaldo Huebl, também ficou surpreso com o tamanho do tarifaço. Afirmou que o setor de móveis de madeira, forte em São Bento do Sul, região em que ele atua, ficará inviabilizado se essa tarifa entrar em vigor. Atualmente, a taxação soma cerca de 15% entre tarifa de importação dos EUA e impostos no Brasil.
– A tarifa de 50% inviabiliza nossas vendas aos EUA. Não tem como ser competitivo. A China vai estar mais barata do que nós. Isso que eles já têm produtos mais baratos. Nós tínhamos uma vantagem porque os chineses tinham uma taxação maior do que a nossa. Agora, se nós tivermos uma taxação maior do que a China, acabou-se. Ninguém exporta mais – alerta Arnaldo Huebl.
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Segundo ele, a maior taxação vai gerar desemprego ao setor de móveis e madeira e os impactos serão imediatos. Isso porque o setor não tem contratos de fornecimento de longo prazo. São contratos simples. O importador até pode ligar e suspender a compra de uma carga. No caso de móveis, em média, os pedidos são feitos em prazo de três meses, tempo para produzir e entregar, explica o empresário.
Tanto Seleme, quanto Arnaldo Huebl defendem negociação para evitar que essa tarifa entre em vigor. Eles preferiram não entrar na discussão política que parece ter sido a principal motivação do tarifaço de Donald Trump ao Brasil.
EUA são o maior mercado de SC
Santa Catarina tem nos EUA o maior mercado das exportações e também, o principal comprador de produtos de alto valor agregado. Em 2024, o estado exportou US$ 1,7 bilhão aos EUA e no primeiro semestre deste ano, US$ 847,2 milhões.
Trump definiu que a nova tarifa entra em vigor em 1º de agosto. Caso não ocorra um acordo para reversão dessa decisão, as vendas de produtos de Santa Catarina aos EUA vão cair gradativamente, dependendo dos prazos de contratos entre exportadores e importadores. Alguns se encerram logo, mas outros demoram anos. A princípio, a China, principal concorrente do Brasil, ficará mais competitiva porque no acordo que negociou conseguiu reduzir tarifa de 125% para 30%.
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Santa Catarina exporta uma lista expressiva de produtos industrializados e também alguns itens do agronegócio aos EUA. Entre os mais exportados, segundo dados da balança comercial de 2024 apurados pelo Observatório Fiesc estão produtos de madeira, principalmente para construção civil, motores elétricos e partes de motores (autopeças).
A lista inclui também móveis de madeira, madeira MDF, compressores de ar, transformadores elétricos, revestimentos cerâmicos, iates, bombas de líquidos, carne suína, couro bovino, gelatina, suco de frutas, madeira densificada e outros.
SC também tem uma lista importante de itens que importa dos EUA. Entre os principais estão polímeros de etileno, veículos, borracha sintética, reagentes de laboratórios e instrumentos médicos. Também estão na lista polímeros de cloreto de vinilo, motores de pistão, carbonatos, partes e acessórios de veículos, coque de petróleo, proteína solúvel, aparelhos para análises, aços planos, medicamentos, pasta química de madeira, produtos imunológicos e rolamentos.
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