Alerta
Basta olhar os dados. A segunda onda da Covid-19 em Blumenau acelerou como da primeira vez. Tudo aponta para um dezembro terrível. Se nada for feito, pior do que foi julho.
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Chegamos à atual situação porque Estado e município fizeram pouco para controlar a transmissão do vírus durante o período de reabertura. Só se testa quem procura uma unidade de saúde porque acredita estar doente. Não há política para rastrear os contatos dos casos positivos, testá-los e isolá-los. Do Ministério da Saúde, infelizmente, não se espera nada.
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Enquanto isso, o debate estéril sobre fechar ou não fechar atividades ocupa as mentes e transfere responsabilidades. Pior para as famílias de quem padecerá nas próximas semanas. Não será pouca gente.
Confira cinco razões para intensificar os cuidados e cobrar maior responsabilidade das autoridades neste fim de ano.
O número de testes de novembro (564 por dia) é levemente superior ao de julho (548). Essa diferença não é suficiente para explicar a disparada. A cada 10 pacientes testados, quatro dão positivo, o maior índice da pandemia.
A média móvel diária de casos novos superou 300 pela primeira vez. Nesta quarta-feira (18), 479 pacientes foram diagnosticados, um recorde.
Em apenas 11 dias, essa média aumentou em 100 casos. Lembre-se: a cada centena de casos, morre uma pessoa. Agora imagine onde estaremos no fim do mês.
Entre 1º de outubro e 10 de novembro, 10,7% dos casos positivos eram idosos, menos que o índice geral da pandemia (11,7%). Pessoas de até 39 anos eram 57,8%, mais que os 55,2% no cômputo total.
Parece pouca diferença, mas o diretor-técnico do Hospital Santa Isabel, Marcos Sandrini de Toni, afirma que a juventude dos doentes nesta fase da pandemia funcionou como fator de alívio para o sistema hospitalar. O problema é que, com o nível de contágio tão acelerado, o vírus chegará aos vulneráveis cedo ou tarde. E em grande número.
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O que se pode esperar para os próximos dias é um aumento repentino no número de internações. Já começou, aliás. Havia 24 leitos de UTI ocupados por doentes de Covid-19 na sexta-feira (13) passada. Nesta quarta (18), já eram 34.
Os leitos de UTI geral estão quase sempre lotados. Isso era comum antes da pandemia, mas não em junho-julho, no primeiro pico. Naquela época, a redução na circulação de pessoas havia derrubado o número de acidentes, traumas e internações para cirurgias eletivas.
Segundo De Toni, isso é preocupante porque, se a necessidade de leitos para Covid-19 crescer demais, podem faltar profissionais para atender a todos.
Um outro ponto de atenção é a falsa sensação de segurança expressa pelo número de UTIs disponíveis divulgado pelo município. Na conta de 94 lugares há os chamados "leitos de guerra", que são unidades a serem improvisadas em quartos de enfermaria — que precisariam estar desocupados. Além disso, parte dos leitos extras para Covid-19 em Blumenau perdeu a habilitação do Ministério da Saúde, porque acabou o prazo acordado. Eventuais internações podem não ser pagas pelo governo federal.
A Secretaria de Estado da Saúde informou aos hospitais de Blumenau que arcará com as despesas, se necessário. Enquanto isso, há uma tentativa de habilitar novamente os leitos.
Basta olhar ao redor. Há mais blumenauenses vivendo como se não houvesse uma pandemia. O cansaço com as medidas preventivas gera relaxamento e a liberação de praticamente todas as atividades, incluindo festas noturnas, transmite sensação de normalidade.
A força-tarefa que fiscalizava o cumprimento de medidas foi desmobilizada. Festas e churrascos nos fins de semana deixaram de ser alvo das autoridades.
Na situação do prefeito Mário Hildebrandt (Podemos), medidas restritivas poderiam arruinar a campanha eleitoral justamente na reta final. Elas são impopulares e, em julho, provocaram enorme pressão contra o governo municipal.
Para a governadora Daniela Reinerh (sem partido), restringir a circulação de pessoas significaria romper com o bolsonarismo. Não se deve esperar dela uma mudança de postura.
Então estamos assim: até o segundo turno, no dia 29 de novembro, ou o retorno de Carlos Moisés (PSL) ao governo, provavelmente no início de dezembro, nada muda. Se é que muda depois.
Há fatores que os números ainda não dão conta de explicar. Por exemplo, médicos e enfermeiros intensivistas têm mais experiência e conhecimento sobre a doença desta vez, o que pode ajudar a reduzir a letalidade. Não estão faltando medicamentos e nem equipamentos de proteção, como chegou a ocorrer no primeiro semestre.
A descentralização dos testes, incluindo os ambulatórios gerais, ajuda a encontrar os doentes mais cedo. E o número de profissionais de saúde contaminados é menor desta vez. Centenas já tiveram contato com o vírus.
Tudo isso pode ajudar, mas fará menor diferença num quadro de explosão no número de pacientes graves. E é este cenário que Blumenau está construindo para as próximas semanas.
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