Blumenau, manhã de segunda-feira (22). Um homem sem máscara chega à loja de conveniências de um posto de combustíveis. O diálogo a seguir é uma amostra de como o decreto de SC que libera a população de usar máscaras ao ar livre, publicado na quarta-feira (24), delegará ao comércio a função de fiscal do coronavírus:
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— Posso entrar rapidinho sem máscara só para pegar pão?
— Negativo — respondeu, mascarado, o homem no caixa.
— Você pode, então, pegar o pão para mim e eu pago para você aqui na porta?
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— Desculpe, mas não tenho permissão para sair do caixa.
— Mas eu só vou ali e já saio.
— Não posso, amigo. Tem câmeras e você vai me complicar.
Irritado, o cliente ainda permaneceu à porta por um instante antes de ir embora soltando impropérios contra o funcionário diligente.
A decisão do governador Carlos Moisés (sem partido) não produz efeitos práticos significativos para a situação nas ruas. Já havia mais rostos descobertos do que cobertos circulando pelas cidades de Santa Catarina. O resultado direto da flexibilização é pressionar a exigência ainda em vigor: o uso de máscaras em ambientes fechados. Episódios como o descrito acima, vividos desde o início da pandemia, vão multiplicar-se.
É confortável para o governo legislar desta forma porque, em primeira análise, não será ele o responsável por garantir que, entre quatro paredes, bocas e narizes estejam sob máscaras. Recairá sobre comerciantes, motoristas de ônibus, donos de restaurantes, bares, farmácias, clubes, associações, teatros, cinemas e empresas em geral o peso de dizer não a cada pessoa que esquecer, perder ou recusar-se a usar máscara. Pela experiência pregressa, o que deve ocorrer é um relaxamento na última fronteira contra o vírus.
Especialistas têm contestado de forma quase unânime a flexibilização aqui e em São Paulo, que anunciou a mesma medida para 11 de dezembro. Alegam que, apesar da já avançada campanha de vacinação contra a Covid-19, o risco de contágio em ambientes abertos existe, embora reconheçam ser menor. Ainda há muito Sars-Cov-2 circulando no mundo, especialmente onde grupos criminosos antivacina fazem estrago. A guerra não está vencida.
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O resultado prático da medida catarinense tende a ser um número menor de máscaras em mochilas, bolsas, bolsos e automóveis. O acessório pode cair em desuso justamente na época em que ar-condicionado e janelas fechadas são regra.
Esperar um pouco mais não mataria ninguém. A pressa, por outro lado, ainda pode fazer vítimas.
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