É impossível revisitar o cotidiano de Blumenau nas últimas décadas e não se deparar com a figura de Cao Hering. Ele era publicitário, mas dono de um talento tão grande que não cabia em um único ofício. Para quem é da área da comunicação ou simplesmente apreciava charges e crônicas publicadas por cerca de 40 anos no Jornal de Santa Catarina, a morte dele, confirmada nesta sexta-feira (21), é daquelas notícias difíceis de digerir. Cao foi presente na vida de muita gente, mesmo sem talvez conhecer a fundo a maioria delas.

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Ao longo de sua carreira, Cao abusou da perspicácia, do refino e da acidez – com o raro dom de muitas vezes misturar tudo isso em uma mesma tirinha de jornal. Fez piada, sugeriu, criticou, alfinetou, discordou, contrariou. Seus traços inconfundíveis e personagens memoráveis – como a intrépida dupla de “alemóns” Ralf und Rolf – fizeram os leitores do Santa rirem, refletirem, sentirem raiva, indignação. Não existe prêmio maior para alguém da comunicação do que ver seu trabalho despertar todo tipo de emoção nas pessoas.

Relembre charges marcantes de Cao

Cao foi um gênio do humor, mas também um cronista de mão cheia. Com uma memória aguçada e uma facilidade imensa para traduzir sentimentos em palavras, ele soube como poucos interpretar o dia a dia de Blumenau e as regionalidades, manias e comportamentos de sua gente.

Por algum tempo, fui o responsável por “baixar” – jargão interno do jornalismo relacionado à edição – as colunas de Cao no Jornal de Santa Catarina. Era uma das tarefas mais fáceis e prazerosas da minha rotina de editor de páginas de jornal impresso. O texto vinha sempre irreparável, ortograficamente perfeito, gramaticalmente impecável, quase sempre provocativo. Na verdade, eu me sentia até de certa forma privilegiado por ler a coluna do Cao antes do resto do mundo. E era.

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Vez e outra o próprio Cao telefonava para a redação para “explicar” o sentido das crônicas – como se isso fosse realmente preciso. Como a coluna dele estava comigo, atendi muitas dessas ligações. Cao provavelmente não sabia com quem estava falando ou quem eu era, mas ainda assim investia parte do tempo dele para contar histórias. Esse, aliás, é o brilhante legado deixado por ele: a retratação das relações humanas, seja em um cartum ou em poesia.

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