Uma decisão liminar suspendeu a licença ambiental que permitia a instalação do Ponta da Vila Parque, mega condomínio imobiliário projetado para o bairro Ponta Aguda, em Blumenau. Despacho na última semana do juiz Bernardo Augusto Ern, da 1ª Vara da Fazenda Pública, Acidentes do Trabalho e Registros Públicos de Blumenau, também proibiu qualquer intervenção na área onde o empreendimento está previsto, incluindo corte de vegetação, até a conclusão de uma perícia para avaliar possíveis danos ambientais provocados pela interferência e a possibilidade de atenuá-los com medidas compensatórias. A determinação atende a pedido do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) em ação civil pública ajuizada em 2014.

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Para entender o imbróglio é preciso voltar um pouco no tempo. O terreno onde hoje está mapeado o Ponta da Vila Parque é o mesmo que, no passado, receberia um empreendimento com outro nome, o Bosque Europeu – embora diferentes, tratam-se, ambos, de um grande condomínio de lotes. 

A 13ª Promotoria de Justiça de Blumenau alega que o projeto original foi embargado em 2011 para análise de eventuais danos ambientais. A empresa responsável, constituída como Bosque Europeu Empreendimentos Imobiliários, acabou cancelando o registro da incorporação, transferindo, na sequência, o imóvel para outra companhia, a Vale Europeu Empreendimentos Imobiliários – da qual a Bosque Europeu faz parte ao lado da Master Administradora de Bens e Loteamentos. Em fevereiro a coluna noticiou que novos investidores estavam dispostos a resgatar o projeto.

O condomínio foi relançado com um novo nome – Ponta da Vila Parque. Na ação, o MPSC argumenta ainda que a realização de novas obras em desrespeito ao embargo administrativo anterior “alterará a verdade dos fatos”, inviabilizando a realização da perícia determinada pela Justiça e “mascarando os enormes prejuízos causados ao meio ambiente”.

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Veja fotos do projeto do empreendimento

Empreendimento vai ocupar área de 400 mil metros quadrados no bairro Ponta Aguda
Empreendimento vai ocupar área de 400 mil metros quadrados no bairro Ponta Aguda – (Foto: Divulgação)
Infraestrutura de apoio conta com espécie de vila com quadras esportivas, piscina e gastropub
Infraestrutura de apoio conta com espécie de vila com quadras esportivas, piscina e gastropub – (Foto: Divulgação)
Ao todo, serão 267 lotes residenciais
Ao todo, serão 267 lotes residenciais – (Foto: Divulgação)
Projeto inclui áreas de contemplação junto à natureza
Projeto inclui áreas de contemplação junto à natureza – (Foto: Divulgação)
Projeto prevê áreas de lazer ao ar livre
Projeto prevê áreas de lazer ao ar livre – (Foto: Divulgação)
Projeto prevê áreas de lazer ao ar livre
Projeto prevê áreas de lazer ao ar livre – (Foto: Divulgação)
Empreendimento terá acesso pela Rua República Argentina
Empreendimento terá acesso pela Rua República Argentina – (Foto: Divulgação)
Além da área residencial, complexo também será formado por um strip mall, tipo diferente de shopping
Além da área residencial, complexo também será formado por um strip mall, tipo diferente de shopping – (Foto: Divulgação)

O MPSC reportou também que lotes do empreendimento antigo, na mesma área, que já haviam sido comprados estariam novamente à venda, apesar da empresa responsável pelo Bosque Europeu ter informado que não tinha comercializado unidades do terreno. O órgão atenta para “eventuais danos financeiros de terceiros que venham adquirir lotes possivelmente já alienados pelo empreendimento anterior ou que venham a ser inviabilizados pela necessária recuperação ambiental”.

O juiz responsável pelo caso anotou na decisão que “a situação pode acarretar prejuízos tanto aos novos consumidores quanto aos que adquiriram unidades imobiliárias” do Bosque Europeu. O magistrado acrescentou ainda que a licença ambiental de instalação e a autorização de corte para o Ponta da Vila Parque foram concedidos sem levar em consideração a ação civil pública já movida pelo MPSC.

“A urgência do caso, ademais, é patente, porquanto, além da ampla divulgação do empreendimento e das propostas de compra e venda já efetuadas, há indicativos de que o início de execução das obras está previsto para o mês de março de 2022, o que pode prejudicar a escorreita análise dos danos ambientais investigados na presente demanda por meio da perícia”, conclui o juiz.

O empreendimento

O Ponta da Vila Parque foi apresentado a potenciais investidores em um evento no dia 10 de novembro. O projeto inicial prevê cerca de 260 lotes de 500 a 1,2 mil metros quadrados espalhados em uma área de pouco mais de 400 mil metros quadrados rica em vegetação. Segundo os investidores, cerca de metade da área verde seria preservada.

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O empreendimento prevê praças, quadras esportivas, espaços gourmet e de lazer, playground, piscina, sauna, academia e um gastropub com deck e mirante. Ele já foi alvo de estudo de impacto de vizinhança (EIV).

Além da área residencial, a proposta também contempla a criação de um strip mall, uma espécie de shopping a céu aberto, com 22 mil metros quadrados de área construída e operações gastronômicas, serviços de saúde e decoração, espaços de lazer e um ambiente corporativo com coworking, além de áreas para instalação de empresas.

Contraponto

Procurada pela coluna, a Master Administradora de Bens e Loteamentos, responsável pelo Ponta da Vila Parque, enviou o que chamou de nota de esclarecimento. No texto, alega que o condomínio Bosque Europeu “não prosperou por força de embargo administrativo”, o que somado à cassação de licenças e aprovações tornou o empreendimento “absolutamente inexequível”.

A empresa sustenta, no entanto, que a partir de 2018 estudos complementares foram feitos para viabilizar um novo projeto que cumprisse as determinações legais e de recuperação ambiental da área. A Master diz ainda que o Ponta da Vila Parque foi aprovado por unanimidade pelo mesmo órgão ambiental estadual – hoje Instituto do Meio Ambiente (IMA), na época do primeiro embargo, Fatma.

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Segundo a empresa, a íntegra do procedimento administrativo que possibilitou a emissão das novas licenças ambientais, onde constam laudos e relatórios do órgão ambiental que evidenciariam que as licenças foram emitidas de forma legal, ainda não estavam no processo judicial – elas teriam sido emitidas em definitivo, conforme a Master, dois dias antes da decisão.

“A empresa Master informa que cumprirá com as determinações judiciais, e adotará as medidas cabíveis a fim de comprovar que não houve atuação de forma contrária à lei, acreditando que de forma breve terá por esclarecida toda a questão, com o prosseguimento dos trâmites legais para as devidas aprovações e registro do empreendimento”, diz um trecho da nota.

A companhia também diz que não estão sendo vendidas unidades no empreendimento e que as campanhas de divulgação do Ponta da Vila Parque “respeitam integralmente a legislação vigente, não havendo nada em seus conteúdos que prejudique interesses de quem quer que seja”.

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