Quem assiste a Fórmula 1 pela televisão pode não ter ideia da magnitude de tudo que gira em torno das corridas. Todas as semanas, uma verdadeira operação de guerra, com uma alta complexidade logística, é responsável por montar e desmontar o circo da principal categoria de automobilismo do mundo, às vezes de um continente para outro. Carros das equipes são transportados por aviões e outros insumos, como pneus, vêm de navios.
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Em São Paulo, que recebe corridas há quase 50 anos, o aeroporto de Viracopos chega a ser fechado temporariamente e os equipamentos das escuderias são levados com a ajuda de uma centena de carretas escoltadas até o autódromo de Interlagos. Enquanto os pilotos vestem o macacão, calçam as luvas e entram no cockpit para pisarem fundo no acelerador, existe um bilionário negócio nos bastidores, que é objeto de desejo de várias das principais marcas do mundo.
Diretor executivo da categoria no Brasil, Francisco Mattos contou um pouco do que acontece por trás das corridas em uma palestra a empresários promovida pela Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing de Santa Catarina (ADVB-SC) nesta semana em Blumenau. Para além do que acontece nas pistas, Mattos abordou a F1 do ponto de vista de um negócio de escala global que, mesmo tradicional, também tem capacidade de inovar e se reinventar.
— O que acontece na corrida eu não posso controlar, e essa é a beleza do esporte. Mas todo o restante eu posso gerenciar — disse ele.
Novidades recentes implementadas pela F1, como a adoção das chamadas corridas sprint – mais curtas e que servem para definir o grid de largada – e a criação de um campeonato de simuladores associado à marca ajudaram, por exemplo, a rejuvenescer a audiência. Além disso, experiências de ativações de marcas em torno das corridas – são 400 clientes corporativos só no país – também ajudaram a catapultar as receitas. Só em 2024, o GP São Paulo injetou quase R$ 2 bilhões na economia da maior cidade brasileira. Fora a projeção de imagem para o mundo inteiro.
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Pouco antes da apresentação, Mattos bateu um rápido papo com a coluna. Nesta conversa, ele também falou sobre as especulações envolvendo uma possível corrida da F1 em Santa Catarina.
Quais as suas principais atribuições na função?
A principal responsabilidade é a organização do GP São Paulo e tudo que toca o evento, desde a comunicação, organização, produção, venda de ingressos, venda de patrocínios. É um planejamento de um ano inteiro para que tudo se materialize ao longo de três dias – neste ano, 7, 8 e 9 de novembro. É o ápice de tudo aquilo que a população acompanha na audiência ao longo de todas as etapas do ano. É quando o circo da F1 chega ao Brasil e aproxima essa relação do fã com os seus ídolos no autódromo do Interlagos.
É um evento que movimenta quanto?
No ano passado, segundo um estudo da Fundação Getulio Vargas, foi um evento que injetou R$ 1,96 bilhão em São Paulo. São praticamente R$ 2 bilhões em dinheiro que entra na economia local, além do retorno de visibilidade e mídia da marca São Paulo para o mundo inteiro, de algo entre US$ 400 milhões e US$ 500 milhões. Estamos falando aí de mais R$ 2,5 bilhões, R$ 3 bilhões de retorno de imagem.
E em patrocínios?
Os números de patrocínio não são tratados abertamente e nem de maneira global. Existem algumas especulações e alguns estudos na internet que, se você pesquisar, vai encontrar algumas ordens de grandeza. Não tratamos esses números abertamente, mas todos os anos vendemos todas as cotas de patrocínios disponíveis. É um evento que é realmente um sucesso do ponto de vista comercial, e um evento em que as marcas tentam se associar porque é um tema que está em alta, é uma audiência que está renovada. As marcas entendem que o GP e a F1 como um todo podem ser uma plataforma de comunicação e relacionamento com o público através da emoção da corrida e do entretenimento.
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Qual os principais desafios e dificuldades de organizar um evento deste tamanho?
O grande desafio é organizar um evento desse tamanho com a escala que ele tem. Estamos falando de um público de 300 mil pessoas ao longo de três dias. É o maior evento esportivo da América do Sul. Então você precisa ter tudo funcionando em uma cidade com alta ocupação de rede hoteleira, com desafios de mobilidade urbana, com esquema de segurança, a parte esportiva precisa funcionar bem. São desafios em escalas muito grandes que tornam tudo isso muito complexo. Mas por sorte o evento vem funcionando muito bem e batendo recordes de público e audiência ano a ano, vem numa crescente. Isso se reflete no sucesso de avaliação do público. Não à toa a gente esgota os ingressos em poucos minutos quase que com um ano de antecedência.
Recentemente o prefeito Leonel Pavan, de Camboriú, disse que se reuniu com dirigentes da F1 e que se estuda a construção de um autódromo na cidade. O que existe de fato nessa história?
O que eu conheço da história foi realmente o que saiu na imprensa local e até nacional. Sabemos que existe um projeto de construção de um autódromo na região. Eu acho ótimo que isso aconteça. Quanto mais equipamentos qualificados tivermos no Brasil, melhor não só para a F1, mas para o automobilismo como um todo. O Brasil tem uma paixão por automobilismo e é um país que carece de bons equipamentos. Agora, de concreto, de conversa de F1 aqui na região, eu realmente desconheço. Não tivemos nenhuma conversa sobre isso recentemente.
Por enquanto é só a especulação?
Pode ser que tenha havido conversas de outros caminhos e fontes, mas através da gente que organiza o GP no Brasil não houve nenhuma conversa. Mas sabemos, sim, que existe uma conversa para a construção de um autódromo na região.
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Existe alguma possibilidade de o GP no Brasil sair de São Paulo e ir para outro lugar?
Existem algumas construções de autódromos. A F1 está em um momento de muito mais demanda do que oferta. São várias cidades do mundo que querem levar, porque realmente é um movimento e uma visibilidade que a F1 empresta para as economias locais. Hoje a F1 tem um contrato com a cidade e é muito feliz em São Paulo. Funciona muito bem, é uma parceria muito forte com a prefeitura local. Não vejo perspectiva dela sair de lá no curto ou no médio prazos.
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