A Teka está no radar de uma holding que atua na reestruturação de empresas. A Bretton Participações, de São Paulo, tem interesse em comprar a tradicional fabricante de artigos de cama, mesa e banho de Blumenau. E promete disponibilizar R$ 25 milhões em linhas de crédito para fomentar a operação fabril da companhia caso o negócio seja concretizado. O aporte poderia dobrar para até R$ 50 milhões, dependendo da evolução do projeto.
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A coluna teve acesso a documentos que constam nos autos do processo de recuperação judicial da Teka e revelam as intenções da Bretton. Em 15 de outubro do ano passado, a holding enviou um ofício à 2ª Vara Cível de Blumenau pedindo à Justiça que homologasse a transferência do controle acionário da companhia. Nas palavras da interessada, essa seria “a melhor e mais efetiva forma de recuperar e manter as atividades” da empresa.
Dez dias antes, em 5 de outubro, Bretton e Frederico Kuehnrich Neto, ex-presidente e controlador das empresas que detêm a maior fatia acionária da Teka, celebraram um contrato de opção de compra de ações. Pelo acordo, a holding pagaria R$ 180 milhões, parcelados em até cinco anos, para adquirir a participação do empresário no negócio.
Para justificar a necessidade de uma troca de comando, a Bretton recorreu a informações de balanços financeiros da Teka que apontariam um passivo superior a R$ 2 bilhões e um prejuízo anual da operação que passaria dos R$ 100 milhões. Também alegou que alguns credores, diante da situação, já pediram a conversão da recuperação judicial em falência.
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No documento, a holding diz que o quadro atual colocaria em risco o cumprimento integral do plano de recuperação judicial da Teka, homologado em 2013. Apesar disso, sustenta que a empresa blumenauense é “uma excelente oportunidade de negócio” e tem “considerável potencial” de reestruturação, geração de receitas para o pagamento dos débitos, reorganização do fluxo de caixa e geração de lucros para seus novos acionistas.
O aporte financeiro prometido, acrescenta a Bretton, seria suficiente para criar novas receitas por meio de contratos já firmados, o que permitiria a quitação de dívidas. A empresa também disse que, confirmada a venda, pretende dar continuidade ao plano de pagamentos já aprovado pelos credores.
Assembleia
A Bretton tentou, pela via judicial, acrescentar a proposta de transferência do controle acionário na pauta de uma assembleia geral da Teka convocada para o dia 28 de abril deste ano.
Em despacho do dia 25 daquele mês, o juiz Clayton Cesar Wandscheer, da 2ª Vara Cível de Blumenau, anotou que o pedido de aquisição ainda não havia sido analisado pelo juízo. E acrescentou que a inclusão do tema na assembleia deveria ser formulada diretamente à própria direção da companhia.
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Tanto a Teka quanto a administradora judicial da empresa argumentaram que a negociação de ações não seria possível, já que os papéis estariam bloqueados em função de cumprimento de uma sentença judicial. A posição foi acompanhada pelo Ministério Público de Santa Catarina, que se manifestou contrário à inclusão do tema na pauta por haver pendências relacionadas às ações que a Bretton pretende adquirir.
No fim, o assunto ficou de fora da assembleia.
Histórico
A Teka pediu recuperação judicial em 2012 para tentar contornar uma dívida exorbitante, à época superior a R$ 700 milhões. Nos últimos anos, o passivo cresceu. Para piorar o quadro, divergências internas sobre os rumos da empresa foram parar na Justiça. Em 2017, diretores e conselheiros da companhia foram afastados por decisão judicial sustentada em uma auditoria que revelava a gravidade da situação financeira.
Um ano depois, Frederico deixou a presidência da Teka, também por determinação da Justiça. Gestora judicial então nomeada para tocar a companhia junto do empresário, Fabiane Paula Esvicero acabou tomando a frente do negócio. Em 2019, ela foi oficializada presidente após ser eleita em assembleia de credores.
Apesar do quadro financeiro ainda ser bastante desafiador – a atual gestão diz que o passivo elevado é consequência de administrações anteriores –, houve avanços neste meio tempo, informados em relatórios das atividades apresentados à Justiça. Em outubro de 2020, a Teka colocou o pagamento dos funcionários em dia, algo que não acontecia desde 2012 – antes os vencimentos eram quitados em três parcelas ao longo do mês.
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No ano passado, a companhia registrou um faturamento de cerca de R$ 290 milhões, o mais alto desde o início da recuperação judicial, e fechou o ano com 1,4 mil funcionários. Também em 2021 voltou a recolher impostos. Além disso, a grife ainda tem força no mercado, figurando entre as marcas mais lembradas de cama, mesa e banho em levantamentos feitos pelo setor hoteleiro.
É justamente a tradição da Teka um dos pontos que chamam a atenção da Bretton. O plano proposto pela holding fala em “revitalizar umas das maiores companhias e marcas do setor”.
O que dizem os envolvidos
Procurada, a atual diretoria da Teka disse que não iria falar sobre o assunto. O empresário Frederico Kuehnrich Neto também alegou que não se manifestaria. Contatado, o escritório de advocacia que representa a Bretton não deu retorno.
A coluna não conseguiu contato com a holding por telefone. Uma mensagem enviada a um e-mail informado no site da empresa também não foi respondida.
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