A morte de peixes nas águas da Lagoa da Conceição, em Florianópolis, tem como causa a ocorrência de uma alga. As análises dos técnicos das amostra recolhidas pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) apontaram para a Fibrocapsa, considerada perigosa. Esta é a primeira vez que o fenômeno ocorre em Santa Catarina.

Continua depois da publicidade

> Receba notícias de Florianópolis e região no seu WhatsApp

As brevetoxinas produzidas pela Fibrocapsa japonica são um risco ao ser humano, causando sintomas gastrointestinais como náusea, diarreia, vômito e neurológicos, como formigamento, dormência e perda de controle motor.

Por causa disso, foi recomendada a suspensão do consumo de pescados daquela área, do Norte da Ponta das Almas (a Oeste) e do final da Rua dos Coroas, além de outros pontos em que haja presença de animais mortos. Além disso, é desaconselhado que pescadores e mesmo visitantes entrem nas águas. O alerta é do Instituto do Meio Ambiente (IMA) e da Fundação Municipal do Meio Ambiente (Floram).

> Pesquisador alerta para o consumo de peixes e banho na Lagoa da Conceição

Continua depois da publicidade

> O que abre e fecha em SC nos próximos fins de semana com as novas restrições

– Estou muito preocupado com que os técnicos nos disseram. Nem na água a gente deve entrar, e isso vale para pescadores e banhistas – explica José Frutuoso Goés, o seu Zequinha, presidente da Colônia de Pescadores Z-11.

O resultado do laudo deixou os profissionais do mar preocupados. Agora, eles aguardam pela divulgação de um diagnóstico mais aprofundado.

– Além do cheiro muito ruim e cor escura, nós nos deparamos com uma grande quantidade de peixes mortos. A gente sabe que as espécies morreram por falta de oxigenação da água – diz Zequinha.

> Ônibus circulam em Florianópolis para atender trabalhadores essenciais nos próximos finais de semana

Continua depois da publicidade

Bruno Negri, presidente da Associação de Moradores da Lagoa da Conceição, também está preocupado:

– A Lagoa precisa de um monitoramento profundo para que sejam indicadas ações corretivas. Por sorte, a temperatura baixou e a chuva vai amenizar um pouco o problema causado por esta alga. Mas até quando?

FLORAÇÃO INÉDITA
Em 22 de fevereiro de 2021, moradores da Lagoa da Conceição visualizaram animais agonizando e mortos na região do Saquinho. A tese é que a mortalidade foi causada pela intensificação da eutrofização, com a floração de alga nociva e geração da zona morta.
Florianópolis
Praia do
Saquinho
Lagoa da
Conceição
O fenômeno está sendo registrado pela primeira vez no Estado de Santa Catarina. As florações de Fibrocapsa japonica ocorrem em áreas marinhas, estuarinas e lagunares. Além da salinidade adequada, o excesso de nutrientes e certa estagnação da coluna de água são necessárias para a proliferação.
*1 μ equivale à um milionésimo de metro
PERIGO
Esta microalga libera um muco que causa inflamação nas brânquias dos animais, impedindo a troca de gases necessárias à sobrevivência. Além disso produz potentes neurotoxinas e depois de mortas sua decomposição contribui para a redução dos níveis do O2 nas áreas afetadas.
ECOSSISTEMA DA LAGOA DA CONCEIÇÃO
O aumento da urbanização e a baixa qualidade da gestão do esgotamento sanitário são alguns dos fatores responsáveis pela atual situação.
Antes de 1980
áreas
úmidas
vegetação
aquática
Barra fechada / aberta com oxigênio em toda a coluna da água
entrada de
nutrientes
Antes de 2007
Barra aberta e salinização
Água salgada no fundo recebe menos oxigênio e gera a zona morta
maior entrada de nutrientes
zona
morta
zona
morta
2021
Barra aberta e salinização, somados à entrada de nutrientes e matéria orgânica, resultaram na proliferação de algas tóxicas, intensificação da zona morta e morte de animais
maior volume de nutrientes e bactérias
O rompimento da LEI-Casan, resultou na entrada de toneladas de nutrientes e matéria orgânica. Isso, somado à poluição crônica e onda de calor do período, intensificou o desenvolvimento da floração da alga e contribuiu para formação da zona morta superficial.
INFOGRAFIA: Ben Ami Scopinho, NSC Total
FONTE: Projeto Ecoando Sustentabilidade, UFSC

Ostras e mexilhões precisam de monitoramento

Para o professor Paulo Horta, do Laboratório de Ficologia da UFSC, ocorrências semelhantes em outros países, como a que ocorreu no verão passado, no Chile, não foram boas. O professor defende que deva haver um monitoramento para saber sobre a suspensão do consumo, inclusive de ostras, mas lembra que pesca e aquicultura são dependentes de sistemas saudáveis.

– Algo assim pode comprometer também o extrativismo. Muitas pessoas fazem a extração de mexilhões para subsistência ou para comercializar, e isso precisa ser acompanhado.

Horta acredita que o momento de excepcionalidade exija maior flexibilidade das instituições que fazem esse monitoramento sobre a qualidade da água do sistema, e que seja urgentemente discutido.

Continua depois da publicidade

Leia mais:

> Lagoa da Conceição: “Nenhum técnico previu o risco de rompimento”, diz engenheiro

> Entenda o que causou a inundação de ruas e casas na Lagoa da Conceição em Florianópolis

> Mulher que reclamou de bacon no cachorro-quente deixa Florianópolis após ameaças de morte

Destaques do NSC Total