Um estudo feito pela Defesa Civil de Santa Catarina aponta oito tipos de desastres climáticos que são pontos sensíveis no Estado: enxurradas, estiagem, vendavais, inundações, granizo, movimento de massa, erosão costeira e tornados. Em um cenário onde eventos extremos se tornam cada vez comum, conforme especialistas, o contexto exige ações imediatas.
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Somente no mês passado, para se ter ideia, três cidades do Oeste do Estado registraram tornados: Dionísio Cerqueira, Xanxerê e Faxinal dos Guedes. Além disso, a chuva deixou um rastro de destruição em Luiz Alves, no Vale do Itajaí. A passagem de um ciclone, na última semana, atingiu a Grande Florianópolis e três pessoas morreram. A pergunta que fica é: o que pode ser feito para reduzir os impactos desses fenômenos?
De acordo com o secretário de Estado Mário Hildebrandt, são necessárias ações de curto, médio e longo prazo. Ao longo dos últimos meses, o governo de SC anunciou a liberação de quase R$ 500 milhões para obras e ações de prevenção a tragédias naturais. Os recursos são para limpeza de rios e ribeirões, construções de barragens de contenção de cheias e instalação de estações hidrometeorológicas.
— A estação pega a velocidade do vento, a temperatura. E com esses dados, quando se está em um local com formação de chuva, é possível saber, por exemplo, se aquele é um cenário propício para granizo ou se pode gerar uma microexplosão — exemplifica Hildebrandt. São pelo menos R$ 9 milhões previstos para aquisição desse tipo de equipamento em várias cidades.
O cenário, porém, não é perfeito. As estruturas das cidades pequenas são hoje um ponto extremamente sensível para a proteção e Defesa Civil. Isso porque a grande maioria dos municípios tem equipes reduzidas, com pouca estrutura técnica e, muitas vezes, sem servidor preparado exclusivamente para atuar na área. E é justamente lá, na ponta, que tudo acontece primeiro.
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A alternativa nesse cenário, segundo a Secretaria de Estado da Defesa Civil, está em investir no que para o órgão é um dos grandes avanços. As cidades estão recebendo kits carro, drone, computador, televisão e tablet. A proposta é simples: oferecer mobilidade para vistorias e atendimentos; condições para avaliação de áreas de risco, e computadores e tablets para operar sistemas e emitir alertas.
Em novembro, o governador Jorginho Mello anunciou kits destes para 14 cidades do Vale do Itajaí, com um investimento de R$ 5,6 milhões. É para essa região, inclusive, que estão em andamento três licitações. A construção de uma barragem de contenção de enchentes em Mirim Doce, outra em Botuverá e a reforma da estrutura em José Boiteux. Essas obras devem sair do papel em 2026 por R$ 277,9 milhões.
No Sul, onde as inundações também são um problema para a comunidade, o governo informou no começo de dezembro que vai apontar cerca de R$ 101 milhões. No pacote estão contemplados os desassoreamentos do Rio Tubarão, Rio Madre, Rio Itoupava e Campos Verdes. Conforme Hildebrandt, o governo busca uma parceria para um estudo completo da Bacia do Rio Tubarão.
A ideia é avaliar, tal qual ocorreu com o Vale do Itajaí após as enchentes de 1983 e 1984, um plano com as obras e intervenções para reduzir as inundações. Uma enchente em Tubarão, em 1974, matou 199 pessoas. Depois da tragédia, houve a retificação e dragagem do rio, mas passadas cinco décadas, outras intervenções são necessárias, aponta o secretário de Defesa Civil de SC.
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Veja fotos da tragédia de 1974 em Tubarão
Eventos extremos em série em SC
Mas e quando o assunto são as microexplosões e tornados, como ocorreu no Oeste de Santa Catarina em novembro? Hildebrandt diz que primeiro é preciso investir em informação de qualidade para os moradores e prepará-los para agir corretamente quando houver algum alerta do gênero. E aí entra um projeto em desenvolvimento atualmente para usar a inteligência artificial como aliada.
O objetivo é criar ferramentas que possibilitem dar mais previsibilidade em casos de tempestades severas, com alertas mais pontuais. A medida é urgente. Afinal, Santa Catarina está em uma região geográfica com alto risco para tornados, integrando a segunda maior área de incidência no mundo — ao lado do Rio Grande do Sul, Paraná, norte da Argentina e Paraguai. Só este ano foram 14 no Estado.
A outra frente de enfrentamento é estrutural quando o assunto são ventos fortes. Jorginho Mello se comprometeu em construir salas de aula com estrutura reforçada contra temporais em escolas localizadas em regiões sujeitas a tempestades severas. Chamadas de salas seguras e projetadas como bunkers, elas farão parte das grandes reformas da rede estadual e também das novas construções.
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“Recentemente, a equipe de meteorologistas foi ampliada para atender essa área, elaborando previsões mais regionalizadas para os municípios e materiais didáticos que orientam a população sobre como agir antes, durante e após tempestades severas”, pontua a Secretaria de Proteção e Defesa Civil de SC.
Quem também deve receber investimento é Florianópolis. Na última semana, a passagem de um ciclone extratropical provocou muita chuva na região e o resultado foram três mortes e dezenas de casas alagadas. Um estudo apresentado recentemente na 30ª Conferência das Partes (COP) apontou que o número de desastres climáticos relacionados a esse fenômeno, e até às frentes frias, está 19 vezes maior.
Agora, de acordo com Hildebrandt, um radar deve ser instalado no Morro das Almas, para monitorar as nuvens de circulação marítima. A expectativa é contar com esse equipamento para 2027.
— Queremos tentar ser o mais pontual possível. Então entram nisso as plataformas de previsão e os radares que a gente tem. E aí é importante saber que teremos um novo radar em Florianópolis. Hoje a cidade é atendida pelo de Lontras, mas vamos ter um radar para pegar as nuvens mais baixas, as de circulação marítima — pontua o secretário.
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Tanto dinheiro faz sentido. Nos últimos 30 anos, de acordo com dados da Secretaria de Estado da Proteção e Defesa Civil, foram 5.540 ocorrências no Estado, com R$ 25,71 bilhões em prejuízos acumulados. Para se ter uma ideia, só a catástrofe de 2008 no Vale do Itajaí, que matou 87 só nesta região, acumulou R$ 5,8 bilhões em danos e prejuízos por enxurradas e deslizamentos.
— Quanto mais informação e antes ela chegar, mais a gente consegue proteger a comunidade. É o que fizemos em relação ao ciclone desta semana, que afetou o litoral. Criar uma cultura resiliente no Estado nos dá uma condição de proteção tão boa quanto temos em Blumenau, que quando falamos quantos metros vai chegar o nível do rio a comunidade sabe o que fazer. É o que temos de construir gradativamente em SC em relação a tornados, microexplosão, ciclones, tempestades severas — afirma Mário Hildebrandt.
Relembre a tragédia de 2008 nas fotos abaixo
Evolução do investimento em Defesa Civil
- 2023: R$ 84,3 milhões
- 2024: R$ 81,5 milhões
- 2025: R$ 278 milhões
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Fonte: Defesa Civil de Santa Catarina
Recursos liberados para obras e ações
- Barragem de Botuverá: R$ 156,5 milhões
- Barragem de Mirim Doce: R$ 110 milhões
- Reforma da barragem de José Boiteux: R$ 11,4 milhões
- Instalação de estação hidrometeorológicas em cidades de SC: R$9 milhões
- Aurora: R$ 2 milhões para desassorear 2 km do Rio Itajaí do Sul
- Ituporanga: R$ 4 milhões para desassorear 19,3 km do Rio Itajaí do Sul
- Tubarão: R$ 26,2 milhões para desassorear os rios da Madre e Tubarão
- Trombudo Central: R$ 6 milhões para desassorear 20 km dos rios Trombudo e Braço do Trombudo
- Presidente Getúlio: R$ 4,9 milhões para desassorear 4,6 km dos rios Krauel e Índios
- Pomerode: R$ 6 milhões para desassorear 22 km do Rio Testo
- Ermo: R$ 2,5 milhões para desassorear 3,08 km do Rio Itoupava
- Laguna: R$ 1,5 milhão para desassorear do Rio Campos Verdes
- Fonte: Defesa Civil de Santa Catarina

































