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Sistema de baixa pressão, umidade e influência dos morros contribuíram com a chuva de mais de 100 milímetros em seis horas, concentrados na área central
As chuvas que atingiram Florianópolis no fim de semana impressionaram pelo volume acumulado de 100 milímetros em apenas seis horas e pelas cenas de alagamentos e estragos. Mas por que choveu tanto na Grande Florianópolis? A união de dois fenômenos é a resposta: neste fim de semana, um sistema que traz chuva ocorreu junto de um fluxo de ar quente e úmido, aumentando os volumes.
Por conta desse grande volume de chuva, foram ao menos 30 ocorrências de deslizamentos em Florianópolis, segundo a Defesa Civil do município. Uma delas causou a morte de mãe e filha no bairro Saco Grande.
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A cidade teve também duas quedas de muro no Morro da Penitenciária, no bairro Agronômica, e uma queda de calçada no José Mendes. Além disso, houve alagamentos em ruas centrais da Capital, no acesso às pontes e interdição do trânsito em um trecho da SC-401. Após os estragos, o domingo ainda seguiu com previsão de mais chuva até a noite.
Neste domingo, a presença do cavado sobre SC ocorreu junto de um fluxo de ar quente e úmido que vem do Norte do país em direção ao Sul. A influência desse fenômeno já teria sido sentida durante a semana, com a chuva que persistiu em todo o Estado, com mais intensidade em regiões como o Alto e Médio Vale.
Nesses casos, outros fenômenos e as áreas de baixa pressão exerceram influência para provocas as chuvas que também causaram enchentes no Vale. Essa umidade trazida pelos ventos ajuda a explicar a alta nebulosidade que pairou sobre a região.
– Não é uma situação atípica, ainda mais em janeiro (época de chuvas). O que é um pouco mais atípico está sendo esse canal de umidade vindo do Norte do país, que deveria estar mais voltado ao Sudeste, estar desta vez mais voltado à região Sul. Por conta disso, cavados e outros fenômenos acabam sendo potencializados e gerando como consequência esse volume de chuvas – explica Tatiane.
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O técnico em Meteorologia e apresentador da NSC TV, Douglas Márcio, detalha que esse cavado não se deslocou, permanecendo sobre o Litoral de SC, e acrescenta um terceiro fator a essa combinação: a chuva orográfica, ou chuva de relevo. Isso acontece quando nuvens mais baixas encontram no caminho morros, que acabam reforçando a instabilidade já existente.
– O que chama a atenção é que tivemos chuva, como previsto, em várias regiões, Litoral e áreas próximas, mas a chuva desse domingo ficou extremamente concentrada no Sul da Ilha e na região central, próximo ao bairro Itacorubi – explica.
A chuva deste domingo ocorre depois de uma semana em que a instabilidade não deu trégua em praticamente todas as regiões do Estado. Em três dias, o Estado registrou o volume de chuva esperado para todo o mês. Por conta disso, em muitas áreas o solo já está encharcado, o que favorece a ocorrência de deslizamentos como os registrados na Capital.
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As chuvas em Florianópolis chegaram a 100,8 milímetros em um intervalo de apenas seis horas, segundo dados do sistema Epagri/Ciram. O volume de chuva na Capital foi um dos maiores do Estado e considera o período da manhã até o início da tarde deste domingo (24), entre 7h50min e 13h50min. Guabiruba, no Vale do Itajaí, também teve índices elevados de chuva e destruição de casas, empresas e ruas neste domingo.
Em algumas estações da Capital, como a da Casan, chegou a ser registrado o acumulado de 130 milímetros. A quantidade de chuva é quase metade do esperado para todo o mês. Segundo a Epagri/Ciram, a média histórica de janeiro costuma ficar entre 200 e 250 milímetros na Grande Florianópolis.
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Embora o alerta emitido nos últimos dias pela Defesa Civil envolvesse também outras regiões da área Leste do Estado, como Vale do Itajaí e Norte, a Grande Florianópolis foi a principal região atingida pelas chuvas deste domingo. Cidades da região também tiveram volumes expressivos de chuva, mas abaixo da Capital. Em Palhoça, o acumulado foi de 59 milímetros neste mesmo intervalo de seis horas. São José (59 milímetros) e Rancho Queimado (39 milímetros) também aparecem entre os mais atingidos.
O volume de chuva pode ser comparado a outros episódios como as chuvas de janeiro de 2018 em Florianópolis, quando a capital sofreu com alagamentos e estragos em várias regiões e também registrou mais de 100 milímetros de chuva em 24 horas. No entanto, ficou abaixo de outros episódios de cheias.
Em novembro de 2008, quando regiões como o Vale do Itajaí sofreram com a calamidade, Florianópolis teve acúmulo de 160 milímetros em 24 horas, segundo material divulgado no site da Epagri/Ciram. Em entrevista à CBN Diário, o prefeito Gean Loureiro chegou a comparar o volume com o registrado na enchente de 1995, considerada a pior da cidade. Na época, no entanto, o acumulado de chuva chegou a 372 milímetros em três dias, o dobro da média mensal na ocasião, conforme reportagem do portal G1-SC que recordou o episódio.
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A previsão para os próximos dias ainda é de condição semelhante à deste domingo, com instabilidade, tempo fechado e chuva a qualquer hora. Por conta disso, o alerta permanece e moradores de regiões de encostas devem ficar atentos a barulhos e movimentações de terra. Qualquer situação de risco pode ser comunicada para a Defesa Civil pelo telefone 199.
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