Seis meses depois da chegada do coronavírus a Blumenau, o secretário de Saúde, Winnetou Krambeck, tenta entender o comportamento da Covid-19 e fala, até, em imunidade de rebanho na cidade. Durante esse meio ano, perguntas ainda ficaram sem respostas e nem a própria ciência consegue enteder algumas interrogações.
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Após o pico da doença em julho e 149 vidas perdidas (até a noite desta quinta-feira, conforme dados da prefeitura), Krambeck acredita que a diminuição e estabilização nos números foram possíveis graças ao fechamento de diversos setores no começo do segundo semestre. Difícil é explicar por que a quantidade de contaminados não aumentou após a reabertura dos espaços.
Krambeck cogita uma possível imunidade rebanho (que ocorre quando boa parte da população já se infectou, o que dificulta a circulação do vírus), mas teme que a resistência não seja duradoura, o que resultaria em uma nova onda do coronavírus.
Aliás, o secretário não exclui a possibilidade de um novo pico, mas acredita que se acontecer, será menos severo em comparação ao primeiro.
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Em entrevista, Krambeck disse aguardar o resultado do estudo epidemiológico, que está em fase de análise, para tentar estimar o percentual de moradores assintomáticos (que contraíram o coronavírus, mas não apresentaram sinais da doença). Para isso, centenas de blumenauenses sem sintomas gripais foram testados nos ambulatórios gerais nas últimas semanas.
Confira a entrevista com o secretário de Saúde de Blumenau:
Ouvi você comentando na live da prefeitura sobre a reportagem do Santa de uma possível segunda onda da pandemia na cidade. Vocês temem um novo pico?
É como disse ontem (quarta-feira, 23): sobre uma segunda onda, não posso afirmar nem que sim, nem que não. O que a gente observa é que os números não remetem a isso, até porque a gente já passou pelo período da reabertura e não tivemos o impacto no número de casos positivos.
A gente entende que pode ter um aumento, mas não tão intenso como o que teve em julho. Se ocorrer, vai ser em uma proporção menor ou talvez questões mais localizadas, como surtos. É difícil falar em surto dentro de uma pandemia, mas a gente pode ter aumentos em uma região isolada.
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E como você acha que os moradores de Blumenau reagiriam a um novo pico?
Acho que vai ser uma dificuldade motivar essas pessoas a entender e manter o regramento. Isso pode ser um complicador. As pessoas estão cansadas, realmente. É até natural, muitos se empenharam, mas as pessoas têm de entender que o vírus não vai embora, mesmo com a chegada da vacina. Olha o H1N1, todo ano tem vacinação e todo ano pessoas vão parar na UTI e morrem por causa dele.
O que causou a queda nos números?
Duas coisas: primeiro a medida de parar foi importante para que a gente conseguisse ter uma diminuição drástica (da circulação do vírus). Isso foi fundamental. E acho que a consciência da população também ajudou muito. A gente sempre vai ter uma parcela da população que acha que o vírus não está aí, mas grande parte entendeu o recado, teve cuidado.
Se essa medida de fechar deu certo, por que os casos diminuíram apesar da reabertura? É difícil de entender esse ponto.
Também nos perguntamos. Será que é imunidade de rebanho? Será que não é? E se a imunidade não for duradoura? Então o vírus vai começar a circular de novo. Por enquanto não temos uma ideia exata do porquê de agora não está havendo um aumento de casos no município. É uma perspectiva minha, claro que o inquérito vai me ajudar a pensar nisso: eu acho que a gente já criou uma certa imunidade na nossa cidade. Se ela vai ficar, aí é outra discussão.
Então há a possibilidade dessa estabilização ser explicada pela imunidade de rebanho?
Até pode ser, mas a gente não consegue definir a imunidade do vírus. Para ser imunidade de rebanho precisa gerar imunidade duradoura. De fato temos casos de subnotificação, de pacientes que não tiveram sintomas e não procuraram o órgão de saúde. O que a gente vai ter com o inquérito é dosar qual a porcentagem da população que possa ser assintomática. Pode ser uma imunidade de rebanho, porque estamos na normalidade. São essas respostas que queremos entender com o inquérito epidemiológico.
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Qual a estimativa de subnotificação que a prefeitura trabalha?
Essa estimativa de subnotificação eu posso te responder depois que fecharmos o inquérito epidemiológico. Ele vai dar uma ideia da subnotificação que a gente possa ter. Acho que em uma ou duas semanas a gente vai apresentar os resultados.
Estou sentindo muita expectativa em cima desse inquérito. Qual a importância dele e tem algum outro estudo que estejam planejando para entender o comportamento do vírus em Blumenau?
Sim, o inquérito vai dar uma noção para gente de imunidade, de quantos possam ser assintomáticos. Lógico, é um estudo, você tem um intervalo de confiança, tem tudo isso que tem que ser levado em consideração, que os resultados vão apontar. Com base no resultado desse estudo nós vamos focar em qual outro estudo queremos fazer.
Qual foi a medida mais assertiva no combate ao coronavírus?
Foi testar. Quando começamos a testar, a gente passou a observar a nossa situação. Estávamos tendo uma demora do Lacen (laboratório do Estado) para termos os resultados do nosso município e isso dificultava todas as estratégias. A partir do momento que assumimos isso e passamos a testar, ajudou a organizar melhor as estratégias do combate.
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Blumenau pensa em distribuir testes pra população, como outras cidades têm feito?
Isso está no radar, se entendermos que for necessário podemos fazer, mas a gente ainda prefere as ações focadas. Agora, por exemplo, quem trabalha em padaria está sendo testado. Nós estamos trabalhando a possibilidade de ampliar para os funcionários de supermercados. Então por enquanto vamos fazer ações focadas para ter a qualidade da informação.
Há casos de reinfecção em Blumenau? Ou suspeita deles?
Não, aqui em Blumenau, pelo que estou lembrado, não teve, mas já teve em outros locais.
Você não se arrisca a dizer que se as aulas retornarem os casos vão subir bastante?
Não, não tenho como afirmar, até porque a gente não sabe qual a parcela dessas crianças que também possam ser assintomáticas e tiveram contato com o vírus, o que acaba bloqueando (o contágio).