Um cartaz de divulgação da Schützenfest, a tradicional “festa dos atiradores”, que acontece há mais de 30 anos, jogou Jaraguá do Sul na fogueira da polarização. A imagem do panfleto, com pessoas em trajes típicos empunhando armas – em destaque, uma representação da rainha da festa segurando uma carabina de pressão estilizada – é um prato cheio na arena das redes sociais.
Continua depois da publicidade
Receba notícias do DC via Telegram
De um lado, parte da esquerda progressista passou a acusar a festa de promover o armamentismo. O que não é verdade. O ex-deputado federal Jean Wyllys chegou a associar a estética duvidosa do cartaz com o nazismo. De outro, a extrema direita bolsonarista tenta forçar uma associação da festa e das tradições dos imigrantes com o movimento pró-armas. O que também não é verdade.
Lula vem a Santa Catarina em maio
Um exemplo dessa tentativa de apropriação vem da deputada Ana Campagnolo (PL) e da coordenadora regional da Embratur, Julia Zanatta (PL), ativistas pela flexibilização das armas, que andam posando com a tiara “de Frida” – usada nas festas típicas – para a divulgação de eventos do movimento pró-armas.
Continua depois da publicidade
Mas voltemos a Jaraguá do Sul. A despeito da estética do cartaz, que causa justificada estranheza em quem não conhece a tradição local, a Schützenfest não é uma festa armamentista, nem uma feira de armas, e muito menos um evento político. Pode-se dizer que é uma Festa Pomerana com mais competições de tiro ao alvo.
Polêmico, uso de fuzis por Guardas Municipais chega a SC
Aliás, tiro esportivo, de seta ou chumbinho. Nem pensar em armas ou munições reais. E, justiça seja feita, Jaraguá do Sul nunca quis tornar sua festa tradicional uma “Oktoberfest dos armamentistas”.
Por mais estranho que possa parecer para quem olha de longe, em um país tão extenso e diverso quanto o Brasil, o tiro esportivo, com armas de pressão, é uma diversão antiga e respeitada em diversas cidades pelo interior de Santa Catarina. As “sociedades de atiradores” nasceram junto com as colônias de imigrantes germânicos e, em essência, não têm nada a ver com os atuais clubes de tiro que se multiplicaram pelo país nos últimos anos, na esteira da flexibilização das armas. Sempre foram tão populares quanto as ligas de bolão e há um movimento para que não se percam, como tantas outras tradições que ficaram para trás.
Pelo bem da festa e da tradição, seria prudente que a organização minimizasse o risco de ruído na comunicação sobre o que é a Schützenfest com uma imagem menos ostensiva. Mas talvez nem isso funcionasse, diante do maniqueísmo que impera nestes dias tão estranhos. O fato é que a politização é o pior que pode acontecer às nossas festas típicas. Seja pelas acusações xenofóbicas, seja pelas tentativas de apropriação. Que nem pensem em mexer com o eisbein.
Continua depois da publicidade
Participe do meu canal do Telegram e receba tudo o que sai aqui no blog. É só procurar por Dagmara Spautz – NSC Total ou acessar o link: https://t.me/dagmaraspautz
Leia mais
Convocada por engano em concurso em SC, candidata vai receber indenização após largar emprego
Porto de Itajaí pode ficar com chineses ou árabes após leilão
“Jeitinho” na lei vai ajudar prédio de 140 andares em Balneário Camboriú; entenda
Guarapuava e Criciúma: por que o novo cangaço mira cidades de médio porte
Portuários vão a Lula contra desestatização do Porto de Itajaí prevista por Bolsonaro