Cada vez mais estudadas e determinadas, mais mulheres lideram negócios, empreendem e, ao mesmo tempo, constituem família e buscam realizações. A referência número um no Brasil quando se considera todos esses protagonismos é a empresária Luiza Helena Trajano, que como gestora transformou o Magazine Luiza, também conhecido como Magalu, numa das maiores e mais admiradas empresas do país, da qual é presidente do conselho de administração. E também foi co-fundadora e preside o Grupo Mulheres do Brasil, que luta em várias frentes pelos direitos das mulheres. No evento dos 110 anos da Associação Empresarial de Florianópolis (Acif), em 08 de maio, que atraiu mais de 3 mil pessoas, ela fez palestra sobre esses temas e deu entrevista exclusiva para a NSC.

Continua depois da publicidade

Entre na comunidade exclusiva de colunistas do NSC Total

O que fez do Magazine Luiza uma grande empresa, segundo ela, foi a inovação constante. A empresária afirmou que não sentiu discriminação por ser mulher porque veio de família com mulheres líderes e sempre soube se posicionar com ideias próprias no mundo empresarial.

Veja mais fotos de Luiza Trajano no evento dos 110 anos da Acif e em Florianópolis:

Continua depois da publicidade

Com o propósito de colaborar ainda mais para impulsionar empresas lideradas por mulheres, Luiza Trajano informou nos últimos dias que vai lançar na próxima quinta-feira (22) a “Comunidade Seller Mulheres de Negócios de Luiza”. O projeto visa oferecer uma trilha de formação e também vantagens financeiras para mulheres parceiras do marktplace do Magalu.

Sobre o Grupo Mulheres do Brasil, fundado em outubro de 2013, ela destacou que é um movimento que já conta com 135 mil mulheres associadas e tem defendido grandes causas femininas como a luta pelos direitos das mulheres por salários iguais aos dos homens em mesmas funções, equidade em cargos de liderança, redução da violência contra a mulher e por mais saúde com uso de vacinas.

Ela fez palestra no evento da Acif ao lado da empresária catarinense Sônia Hess, ex-presidente da Dudalina e atual vice-presidente do Grupo Mulheres do Brasil. Depois, elas participaram de eventos do movimento em Florianópolis para falar sobre causas femininas. A seguir, a entrevista de Luiza Helena Trajano:

A senhora foi convidada pela Acif para falar a empreendedores. Qual será a principal mensagem que pretende transmitir?
– Estarei ao lado da Sônia Hess, minha amiga, também empresária e excelente gestora. O que pretendemos transmitir é a nossa visão sobre o momento atual: como enxergamos a inteligência artificial, o mercado, e as facilidades e dificuldades enfrentadas pelas mulheres empreendedoras e líderes de negócios. Também abordaremos a questão dos juros, que continuam elevados — ontem mesmo houve um novo aumento. Queremos compartilhar como enxergamos esse cenário.

Continua depois da publicidade

E como está o atual momento do Magazine Luiza, empresa que a senhora liderou e da qual hoje preside o conselho de administração?
– O Magazine Luiza está indo muito bem. Amanhã, apresentaremos os resultados ao mercado. Após um período de grande crescimento nos últimos cinco anos, o setor varejista enfrentou uma espécie de “ressaca” no pós-pandemia. A Covid, paradoxalmente, foi um momento positivo para o varejo digital, mas já faz mais de um ano que voltamos a crescer com lucratividade consistente.

As lojas físicas seguem fortes, continuam recebendo prêmios, e os resultados são bastante positivos. Recentemente lançamos nossa própria nuvem, a primeira cloud brasileira — uma conquista muito relevante. Embora tenhamos nascido no varejo físico, hoje somos uma empresa altamente digital.

Qual foi o momento mais desafiador que a senhora enfrentou à frente da empresa? E qual foi o ponto de virada ou o momento mais marcante?
– Essa é uma pergunta que ouço com frequência. Costumo comparar com a criação dos filhos: há momentos em que tudo vai bem e é importante aproveitá-los, pois eventualmente surgem desafios, muitas vezes inesperados. Já passei por vários momentos assim. Inclusive, hoje respondi algo parecido a um grupo de 60 jovens, durante uma conversa sobre carreira. Disse que, na vida, lidamos com ônus e bônus.

Com o tempo e a experiência, aprendemos a administrar melhor os dois, especialmente os momentos mais difíceis. Hoje lido com essas situações de forma muito mais tranquila do que quando tinha 20 anos. Não me geram tanto estresse ou preocupação como antes.

Continua depois da publicidade

Mas é inevitável: quem está ativo — e eu continuo muito ativa — sempre enfrentará tanto problemas quanto alegrias. O Magazine passou por diversos pontos de virada: quando decidimos criar uma loja virtual, quando lançamos o site, ao abrirmos 50 lojas em São Paulo…

E agora teremos mais um marco: vamos inaugurar uma loja na antiga Livraria Cultura, que será uma espécie de extensão física do nosso site. Vai se chamar Galeria Magalu. Estamos sempre inovando. E, sempre que uma inovação dá certo, damos um grande salto.

Como foi ser mulher à frente de uma grande empresa? A senhora sofreu discriminação?
– Durante muitos anos fui a única mulher no meu segmento. Mas, pessoalmente, não senti tanto, por dois motivos: primeiro, venho de uma família onde já era comum as mulheres trabalharem. E segundo, porque nunca me deixei intimidar. Tenho consciência de que o machismo existe, está enraizado, mas nunca me revoltei — apenas me posicionava com firmeza. Quando chegava em eventos, vinda do interior de São Paulo, com o meu sotaque típico da região, que é quase mineira, dizia com convicção: “Acho que vocês deveriam me ouvir, tenho uma boa ideia”. Nunca saía com raiva, mas também nunca deixava de me fazer ouvir. Isso me ajudou muito.

Hoje, reconheço o machismo estrutural, mas entendo também que muitos homens foram criados para não demonstrar fragilidade ou erros. Tento abordar isso com empatia, apontando quando há atitudes machistas, mas sem guardar ressentimento. É claro que precisamos provar nossa competência constantemente, mas isso também nos torna ainda mais preparadas.

Continua depois da publicidade

Por isso, hoje luto muito pelos direitos das mulheres. Não aceito receber menos e batalho por mais representatividade feminina nos cargos de liderança. Criamos o grupo Mulheres do Brasil, que já reúne 135 mil mulheres — o maior grupo do mundo nesse formato — e atua em diversas frentes, especialmente na promoção do protagonismo feminino na política e em todas as esferas da sociedade.

O Brasil ainda tem poucas mulheres em cargos de liderança no topo das empresas. O que pode ser feito para mudar essa realidade?
– Precisamos avançar rumo à paridade. Nosso objetivo é alcançar 50% de participação feminina na política — hoje, temos apenas 18%. Já evoluímos bastante, mas ainda há muito a conquistar. A presença da mulher é positiva também para os homens. Não somos contra eles — somos a favor das mulheres e buscamos equilíbrio.

E qual é o principal desafio para que mais mulheres cheguem ao topo? Falta qualificação?
– Não, a falta não é de qualificação. Durante um tempo, fui favorável às cotas, que são medidas transitórias para corrigir desigualdades históricas. Hoje, acredito que precisamos dar ainda mais visibilidade às mulheres, pois já há muito mais oportunidades e abertura do que havia há cinco anos.

Mesmo liderando uma grande empresa, a senhora também foi mãe. Como foi conciliar maternidade e trabalho?
– Tive três filhos em três anos e meio. Novamente, venho de uma família em que a mulher já trabalhava, então não sofri com cobranças ou julgamentos. Mas é necessário ter rede de apoio e, acima de tudo, vontade. É preciso também lidar com a culpa. Falo muito sobre isso em palestras. Minha mãe me ensinou que não há receita para criar filhos. Há mulheres que ficam em casa e têm filhos incríveis, e outras que trabalham fora e também criam filhos incríveis. Se houvesse uma fórmula, todos fariam igual.

Continua depois da publicidade

Qual conselho a senhora dá para mulheres que desejam crescer profissionalmente e, ao mesmo tempo, construir uma família?
– Em primeiro lugar, é essencial ter uma rede de apoio. Depois, saber delegar e descentralizar. E, por fim, querer de verdade. Tudo começa com a vontade. Tenho funcionárias que foram mães e decidiram continuar trabalhando, e outras que optaram por outro caminho. A escolha é pessoal e legítima.

Eu gostaria de saber um pouco mais sobre o Mulheres do Brasil, movimento que a senhora lidera. Como ele está hoje e quais os impactos gerados?
– Hoje, contamos com mais de 15 mulheres aqui no evento. Em Florianópolis temos um núcleo, assim como em outros 154 locais. O movimento está em plena expansão. Prestamos serviços e atuamos principalmente na defesa de políticas públicas, pois acreditamos que é por meio delas que vamos promover transformações reais no país. Trabalhamos em muitas frentes, mas nosso foco é influenciar positivamente as políticas públicas e contribuir para um Brasil melhor.

Antonietas

Antonietas é um projeto da NSC que tem como objetivo dar visibilidade para a força da mulher catarinense, independente da área de atuação, por meio de conteúdos multiplataforma, em todos os veículos do grupo. Saiba mais acessando o link.

Leia também

Artesanato do Bioma Mata Atlântica da Região Sul ganha exposição no Rio de Janeiro

Fusão Marfrig-BRF: o que levou a inclusão das marcas Sadia e Perdigão na nova gigante MBRF

Com unidade comercial em Xangai, Aurora vira multinacional e acelera vendas na Ásia

Presidente da WEG fala sobre estratégia da empresa diante das tarifas de Trump

Inteligência artificial do Google e transição energética na agenda de catarinenses em NY

‘Rei do Ovo’ conclui compra de granja nos EUA, recebe boas-vindas da bolsa e investe mais