Se as medidas restritivas de julho reduziram o número de casos de coronavírus em Blumenau, por que o fim precoce delas não geraria o efeito contrário? A essa altura, depois de todos os erros cometidos por Santa Catarina na gestão da pandemia, é difícil acreditar que prefeitura e empresários não se questionem sobre essa óbvia relação causal.

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Faça as contas, caro leitor. De 21 a 27 de julho vigorou a quarentena na cidade, com comércio, restaurantes e serviços em geral fechados. Entre o início do isolamento mais rigoroso e a virada da curva passaram-se nove dias.

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O pico de casos ativos em Blumenau ocorreu no dia 29 (3.140 pessoas em tratamento). A partir do dia 30, o gráfico muda de direção e, nesta quarta-feira (5), a redução já atingia 35%, com 2.324 casos. Observa-se tendência semelhante nos atendimentos em ambulatórios e hospitais.

Porém, ainda no decorrer da semana do dia 21 a prefeitura começou a relaxar medidas. Desde o dia 28, intensificou o retorno à normalidade, permitindo o funcionamento de serviços que atraem o blumenauense à rua. Agora, amplia a flexibilização, incluindo o fim de semana do Dia dos Pais.

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Como a reabertura é mais gradativa que o fechamento, e os ônibus permanecem parados desde o dia 14 de julho, o impacto no gráfico também deve ser menos brusco. Mas que motivo existe para acreditar que, cedo ou tarde, ele não virá? Nunca é demais lembrar: a situação do Vale do Itajaí é gravíssima.

Ápice de mortes

Como estimam os epidemiologistas, mudanças na vida social impactam por último os dados de mortes causadas por Covid-19. O efeito de medidas mais ou menos restritivas só pode ser observado depois de 15 dias. Estamos acompanhando isso exatamente agora.

Enquanto todos os demais indicadores reverteram a tendência de crescimento, inclusive a ocupação de UTIs, o número de blumenauenses mortos por coronavírus segue alto. Só na quarta-feira foram seis vidas perdidas. Embora mais de 60 pessoas sigam internadas em tratamento intensivo, é provável que a tragédia arrefeça nos próximos dias. Porém, com o aumento da circulação, também deve-se esperar mais vítimas no fim de agosto.

É por isso que a Organização Mundial da Saúde (OMS) orienta governos a promover a reabertura em fases, separadas entre si por intervalos de duas semanas. Isso se o contágio estiver sob controle. Ao fim do processo, de volta à vida normal, o sistema de saúde teria folga para tratar os doentes e o município poderia concentrar-se em testar, rastrear contatos e isolar novos doentes.

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Essa estratégia, comprovada empiricamente na Ásia e na Europa como a mais eficiente, proporcionaria meses de alívio à saúde e à economia. Com esforço agora, compraríamos passaporte, quem sabe, até a chegada das vacinas.

É compreensível o desespero de empresários e trabalhadores sob intensa pressão econômica, mas a impaciência coletiva ameaça o que se conquistou em julho e projeta mais e mais prejuízos adiante.