Itajaí é exemplo sui generis de combate à pandemia do novo coronavírus em Santa Catarina. Embora seja médico, o prefeito Volnei Morastoni escolhe políticas de saúde com a precisão científica de uma benzedeira. Na cidade, faltam UTIs, testes e controle da Covid-19, mas sobram medicamentos duvidosos e promessas mirabolantes de cura.
Continua depois da publicidade
> Aplicação retal de ozônio para tratar coronavírus deve ser cancelada em Itajaí, recomenda MP-SC
Em Itajaí, para um contingente de 3.648 pessoas infectadas há 105 mortos. É um índice de letalidade próximo de 3%, superior a cidades como Joinville (1,7%), Florianópolis (1,5%) e Blumenau (0,6%). Com 200 mil moradores, a cidade teve, apenas em julho, mais mortes que Blumenau (357 mil habitantes) em toda a pandemia.
> Clique aqu para receber notícias do Vale do Itajaí pelo WhatsApp.
A explicação óbvia é a subnotificação de casos, por falta de testagem. Como a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima em 0,6% a taxa de letalidade da Covid-19, pode-se deduzir que, para cada caso confirmado, Itajaí deva ter outros quatro desconhecidos.
Continua depois da publicidade
Sem saber quem são e por onde circulam os doentes, o município permite que continuem transmitindo o vírus. Não à toa as UTIs da Foz do Itajaí Açu estão no vermelho desde maio.
Então, como os fatos e a ciência não oferecem boas notícias à população, a prefeitura tratou de criar os próprios fatos e o próprio conhecimento científico. Primeiro foi a cânfora, depois a ivermectina e, agora, o ozônio.
Ozônio
Morastoni promete inscrever Itajaí em um estudo nacional sobre a aplicação de ozônio no tratamento de coronavírus e, antes mesmo de qualquer conclusão, garante que ela tem “um excelente resultado”. Isso para quem topar a aplicação retal do medicamento — num país em que homens evitam o exame de toque para combater o câncer.
Morastoni transformou Itajaí em um grande laboratório e os itajaienses, em cobaias. Baseia-se em “aulas” de uma médica ultrassonografista (?!) paulista disponíveis no YouTube. E garante: os remédios “não fazem mal nenhum”. As garrafadas das benzedeiras, idem.
Continua depois da publicidade
— Nós vamos fazer tudo, o impossível, para ajudar a nossa população.
Melhor para os itajaienses se Morastoni começar pelo possível.