Na porta de entrada do imponente e colorido Castelo das Nações, que dá acesso ao que o Beto Carrero World, em Penha, costuma chamar de “mundo da fantasia”, uma integrante da equipe de comunicação do parque dá as boas-vindas à coluna. E logo avisa, com ares de alguém que anuncia uma espécie de prêmio:
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— O Alex dificilmente dá entrevistas.
É uma terça-feira, 12 de setembro, e o maior parque temático da América Latina só não está totalmente vazio porque funcionários e operários ziguezagueiam pelas ruas do complexo fazendo a manutenção de brinquedos e limpando as áreas comuns.
Fora da alta temporada, o Beto Carrero abre de quarta a domingo. Foi justamente num dia sem a frenesi do público que costuma lotar o parque que Alexandre Von Janke Murad abriu uma rara exceção para conversar com um veículo de imprensa.
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Aos 44 anos, o presidente do conselho administrativo do Beto Carrero surge de óculos escuros, relógio no pulso esquerdo, calça e tênis. Veste camiseta preta com uma estampa que faz alusão ao “Rebuliço”, um dos tantos brinquedos radicais que atraem visitantes de todo o Brasil e também de outros países.
O bate-papo com a coluna aconteceu nas futuras instalações da primeira área temática Nerf do mundo, a ser inaugurada em outubro com um investimento de R$ 100 milhões. Durante pouco mais de uma hora, Alex, como é mais conhecido, lembrou do legado do pai, João Batista Sérgio Murad, o “teimoso” idealizador do Beto Carrero, falou sobre a rotina como gestor e revelou o assédio que sofre de investidores que querem comprar o parque.
— Todo dia chega uma proposta — diz o herdeiro do eterno caubói, que garante que uma venda é “praticamente impossível” de acontecer.
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Ao fim da entrevista em que repetiu várias vezes a palavra “sonho”, experiência que o Beto Carrero busca vender ao público com suas mais de 100 atrações, Alex insistiu para ser acompanhado em uma volta no Spin Blast, brinquedo radical que será uma das atrações da futura área Nerf. A coluna não teve como dizer não.
O que o Alex tem de parecido com o Sérgio Murad?
Ah, é o DNA. Eu acompanhei a parte artística do meu pai desde pequeno, desde a época dos Trapalhões e do circo. Sempre gostei. O meu pai ficava na linha de frente e eu nos bastidores. Ele plantou todas essas árvores (aponta para a área do parque), o sonho na cabeça das pessoas, a idealização disso aqui. Eu sou a continuação de um sonho que ele plantou.
E o que tem de diferente?
Diferente é ser parecido com ele (risos). Hoje em dia eu me esforço ao máximo para impulsionar o parque cada vez mais, trazendo marcas de fora, tecnologias novas e adaptando o sonho que ele construiu muito tempo atrás. Meu pai faleceu já faz 15 anos. Como te falei, é um sonho que ficou na cabeça de toda uma equipe, uma galera que está trabalhando com a gente há muitos anos. Não é só uma pessoa, aqui a gente faz as coisas em grupo.
Quantas pessoas trabalham no parque hoje?
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Hoje são 1,6 mil pessoas diretas. Até o fim do ano a gente calcula que esse número pode saltar para uma casa próxima de 2 mil pessoas.
Como é a sua rotina? Você está no parque todo dia?
Eu venho todo dia brincar aqui (risos). Vou na montanha-russa, às vezes vou na Big (Tower). Gosto de vivenciar bastante o chão de parque e estar em contato com as pessoas. O grande segredo nosso é esse, estar em contato com as pessoas para buscar feedbacks positivos e negativos para cada vez mais melhorar a nossa experiência de atendimento aqui dentro.
O Beto Carrero muitas vezes é chamado de a Disney brasileira. O que você acha dessa comparação?
Eu acho muito legal ser comparado com o melhor player mundial de mercado. Às vezes essa comparação é boa e outras nem tanto. O nível é muito, muito alto. A gente se compara com outros parques. Quando você tira Disney e Universal da escala, que são parques hors concours, é muito difícil alcançar aquele nível, todos os outros parques em volta do mundo inteiro a gente tem o mesmo nível. A gente pode ser comparado com ótimos parques na Itália, na Espanha e em qualquer lugar da Europa. A gente traz muitas pessoas de fora para pegar feedback, temos relacionamento entre empresas de países diferentes. O olho brilha quando elas veem o que a gente fez aqui. É um parque de 30 anos que todo ano está se modernizando, trazendo equipamentos novos, se atualizando.
Boa parte do recurso que entra a gente reinveste. Quem conhece o Beto Carrero há muito tempo vê que todo ano tem alguma coisa diferente aqui. A gente gosta do que faz. Não é uma questão financeira mais. É um sonho que a gente coloca para frente.
Não só eu, é um grupo de pessoas muito grande, com funcionários muito antigos, que têm essa DNA na veia. A minha parte é a mais fácil que tem. Eu basicamente não faço nada aqui, mas ninguém descobriu ainda (risos).
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O Beto Carrero não deve nada a nenhum parque do mundo em termos de atrações e áreas temáticas. Isso aumenta a responsabilidade de manter o legado do seu pai?
Esse sonho nasceu de uma viagem que o meu pai fez para a Disney. Ele foi para lá e botou na cabeça que ia fazer um troço desse no Brasil.
Todos os amigos tentaram tirar esse sonho da cabeça dele e ninguém conseguiu. Ele era teimoso, mas na questão positiva. Ele começou isso aqui do zero.
O catarinense conhece, o Beto Carrero passou por várias fases até chegar ao que é hoje. Levamos 31 anos para chegar nesse nível de detalhamento que você encontra em parques como a Universal Studios. A gente está muito contente com o que a gente tem feito ultimamente. E o parque passa por um retrofit geral. Se você andar pelas ruas do parque, você vai ver que a gente sempre está modernizando.
Como funciona o planejamento do parque para fazer esse retrofit e trazer novas atrações?
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Essa área aqui (aponta para a Área Nerf) nem foi entregue e já estamos pensando em uma área temática que vai ser entregue daqui a cinco anos. Hoje em dia a gente tem que antever tendências e começar a desenhar muito antes. O prazo é muito longo. A gente está há três anos para fazer essa área aqui e trabalhando todo dia. A galera tá suando, tem mais de 300 a 400 pessoas diariamente nessa área pintando, fabricando peças. Tudo que vocês estão vendo aqui foi produzido em casa, para ter a questão da qualidade. Queremos peças que durem. Cada pintura aqui tem um nível de detalhe absurdo. Foi um trabalho muito bem feito. Fico muito orgulhoso do nível que a gente está. Isso começou algum tempo atrás com a primeira parceria internacional que a gente fez, com a Dreamworks. A gente fez a área do Madagascar, que é um brinco e podia estar em qualquer lugar e chão de parque do mundo. Depois a gente fez o Hot Wheels, agora estamos fazendo essa aqui e já pensando em fazer uma área temática daqui a cinco anos.
O que é a Área Nerf?
É a primeira área temática da Nerf, fruto de uma parceria muito legal que a gente fez. Eles estão muito contentes e superempolgados. Fizemos um trabalho muito legal, que eu acho que superou todas as expectativas que esses caras tinham em relação ao que a gente podia entregar. Isso aqui (apontando para área) é a complementação de 31 anos de sucesso e de batalha de muita gente. Estamos superansiosos e querendo estrear isso o mais rápido possível.
Veja fotos na nova área Nerf do Beto Carrero
O que o público vai encontrar?
São duas atrações que a gente trouxe, inéditas no Brasil. A parte de tematização também é muito legal, que a gente carregou bastante. Por isso que as coisas demoram muito mais. Se fossem só brinquedos seria bem mais fácil. Esses brinquedos já estão há mais de dois anos aqui. A gente faz manutenção, faz giro. Inclusive você vai dar uma voltinha com a gente. Você deu uma corridinha antes, mas a gente não vai te esquecer (risos).
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Quando inaugura?
Tem, mas eu só posso falar depois que desligar as câmeras (risos). Posso falar que está muito perto.
Você comentou que o parque já começou a desenhar uma nova área temática para daqui a cinco anos. O que pode antecipar?
A gente está buscando tendências. Tem que saber o que vai ser legal daqui a cinco anos. Hoje em dia o mundo é muito rápido. A molecada gosta de uma coisa hoje e amanhã já gosta de outra. Estamos em fase de pesquisa. (Antes) a gente quer inaugurar essa área aqui (a Nerf). A gente quer que a galera venha, curta, que o catarinense que faz tempo que não vem ao parque volte. Ele vai ver um parque totalmente diferente e muito mais moderno.
Nos últimos anos surgiram especulações de que o parque poderia estar à venda. Houve propostas de fundos de investimento e de outras empresas. Existe essa intenção?
Todo dia chega uma proposta. E cada vez que chega a gente fica mais contente porque sabemos que estamos indo no caminho certo. O que a gente fez aqui, o que o meu pai começou e essa galera tem continuado, são poucos casos em volta do mundo inteiro. Eu viajo bastante. Vou para parques europeus e em tudo quanto é lugar do mundo. É muito difícil ter essa atmosfera daqui. É um parque vivo, que tem alma. Às vezes você entra em um parque e você não sente aquela alegria. Aqui é um organismo vivo, você se sente alegre, tem uma atmosfera, uma história diferente, é mais cativante. Não é só uma empresa. Não é uma questão de dinheiro ou quem dá mais. É um sonho que está todo mundo aqui continuando, um sonho que meu pai plantou há mais de 30 anos. É praticamente impossível isso (a venda) acontecer. Mas eles vão continuar me assediando e cada vez a gente fica mais contente.
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Se chegar proposta nem vai ouvir?
Provavelmente não, porque não é uma questão que está no nosso radar. O caminho que a gente trilhou é de sucesso, de muita luta. Poucas pessoas entendem isso aqui. Tem que ter DNA, tem que gostar. Não é uma questão financeira, não é uma empresa qualquer. São muitas famílias envolvidas, tem todo um jeito diferente de trabalhar. Vejo poucos parques no mundo que reinvestem tanto quanto a gente e estão procurando fazer novas coisas. Tem alguns players que o foco é buscar dinheiro e rentabilidade. E aqui isso é uma consequência de um trabalho. Um trabalho bem feito vai ter essa consequência, mas não é o objetivo número um. Essa área custou uma fortuna. Eu acho muito difícil um player de fora olhar isso e querer fazer desse jeito.
O parque tem espaço para crescer, com outras áreas ao redor. Como está a relação com a prefeitura de Penha? Ela tem sido parceira?
Área para crescer temos bastante. O nosso relacionamento é mais com o governo do Estado. A gente está muito contente com essa galera nova que veio, secretários, governador, temos trocado ideias. Entenderam que o turismo é uma questão que temos que olhar com prioridade. Há outras questões que podem ajudar a gente, como a BR-101 e o Aeroporto de Navegantes. A gente tem que deixar esse transporte mais facilitado. Santa Catarina é uma referência em atrações turísticas. Vocês podem ver Balneário Camboriú, está começando a vir uma atração atrás da outra, uma coisa muito parecida com o que aconteceu com Gramado (RS). Temos um destino muito grande na mão. Gosto muito de Santa Catarina e a galera faz as coisas muito bem feitas aqui. É um consolidado de muitas atrações.
Como você vê o crescimento desse mercado de entretenimento na região, com o surgimento de tantas novas atrações?
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A gente fica muito contente. É a consolidação de um destino. As pessoas, para virem para Santa Catarina, querem passar no mínimo uma semana aqui. Quanto mais atrações tiver, melhor para todo mundo. Isso soma para fortalecer o destino. Além das praias, as atrações turísticas são muito importantes. Tem o Beto Carrero, tem Pomerode, Balneário Camboriú, atrações aqui próximas saindo. O que a gente puder ajudar, a gente ajuda também.
O Beto Carrero já tem uma história de mais de 30 anos. Como você gostaria de entregar o parque o dia que sair?
Um dia eu recebi uma cartinha do meu pai. Ele me deu uma caneta e falou que com ela eu poderia assinar vários contratos que fortaleceriam o Beto Carrero para a eternidade. É nessa base que eu toquei a minha vida. Com a equipe que me ajudou, a gente trouxe vários contratos para cá e cada vez estamos trazendo mais, trazer esse chão de parque de Orlando aqui para o Brasil, para ser uma opção de primeiro nível.
Confira trechos da entrevista
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