A cobra urutu-cruzeiro, conhecida cientificamente como Bothrops Alternatus, pode ser encontrada em muitos lugares da América do Sul. No Brasil, há alta incidência de acidentes em Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Essa espécie de serpente é terrestre e apresenta um corpo pesado, não se locomovendo de forma tão rápida.
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Com tamanho médio de 1,7m, a cobra urutu-cruzeiro possui uma variação de cor entre bege e marrom. Esse tipo de cobra é encontrado em diversos espaços e possui grande distribuição geográfica, mas os lugares mais comuns para se deparar com uma serpente dessa espécie são áreas de pântanos, ribeirinhas ou em outros habitats úmidos.
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Como identificar uma urutu-cruzeiro
A urutu-cruzeiro possui marcas verticais e horizontais em seu corpo, com desenhos bem definidos ao longo do comprimento. Segundo a pesquisadora Simone de Fátimas Nunes, mestre em Ciências Biológicas, essa serpente apresenta de 24 a 27 marcas ao longo do corpo, nas suas laterais, que se encontram ou se alternam no dorso.
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Nessa espécie, a fêmea é maior do que o macho, já que é necessário que o macho se mova e se desloque de forma rápida para gerar um maior número de acasalamentos. Enquanto isso, nas fêmeas, o maior tamanho tende a aumentar a fecundidade, já que esses animais são vivíparos, ou seja, o embrião cresce dentro da mãe. Os períodos em que há mais reprodução das serpentes são na primavera e verão, porque é preciso uma temperatura corporal elevada para que haja o nascimento de novas cobras da espécie urutu-cruzeiro.
Da onde vem o nome urutu-cruzeiro
Em algumas regiões, essa cobra é chamada apenas de urutu, já no Rio Grande do Sul a espécie é conhecida como cruzeira. Isso se dá porque, além de todo o desenho que se estende ao longo de seu corpo, a serpente possui uma marca branca em fundo preto em cima da cabeça. Esse detalhe tem a forma de uma âncora ou cruz e batiza a cobra com o nome popular de urutu-cruzeiro.
A urutu-cruzeiro é perigosa?
A cobra urutu-cruzeiro é muito temida pela população brasileira. No Sul, Sudeste e Centro-Oeste, o ditado “A urutu quando não mata aleija” é muito disseminado. O veneno dessa espécie é forte e a picada da cobra causa necrose na pele e pode levar à morte, se não tratada a tempo. Há três tipos de acidentes que podem acontecer com o efeito da picada: o leve, quando causa um edema discreto e sai pouco sangue; o moderado, quando aparece o edema e há liberação de sangue; e o grave, que apresenta um edema muito extenso ou largo e ocorre hemorragia e choque.
Além de hemorragias locais, a picada da urutu-cruzeiro pode levar a problemas sistêmicos, como a produção de toxicidade nos rins e hemorragias no cérebro e nos pulmões. Seu efeito é rápido e deve ser tratado imediatamente, já que pode levar a complicações sérias e deixar sequelas após a picada. A vítima precisa ser socorrida e levada a um hospital ou centro de saúde para que um soro antiofídico seja usado como antídoto. O veneno dessa espécie de serpente é tão forte que chegou a matar uma cobra de 600 kg em Santa Catarina.
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Urutu-cruzeiro mata vaca de 600 kg em SC
Uma urutu-cruzeiro matou uma vaca de 600 kg em uma chácara perto do perímetro urbano em São Joaquim, na Serra catarinense. O caso aconteceu em dezembro de 2020. A cobra foi capturada por um vizinho e sua espécie foi identificada pelas marcas no corpo. A serpente era um fêmea e chegava a quase dois metros de comprimento.
A vaca de quatro anos estava em processo de engorda e recebia alimentos próximo a um cocho. Ela foi atacada pela urutu que tem um veneno forte e provoca necrose no tecido devido à decomposição das proteínas.
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Esse tipo de cobra é muito comum em algumas regiões de Santa Catarina e, principalmente, no Rio Grande do Sul. Em 2019, as ocorrências com serpentes do gênero Bothrops representavam 90% dos acidentes com cobras notificados no Brasil. Esse gênero possui mais de 47 espécies com características diferentes, na aparência e no veneno, por exemplo. A urutu-cruzeiro não possui um dos venenos mais fortes do gênero, mas é marcada pela quantidade que produz.
Como identificar se uma cobra é venenosa
As cobras venenosas normalmente possuem cabeça triangular e achatada, dentes compridos na parte da frente da boca, olhos com fenda, cauda que afina rapidamente e tenta atacar quando se sente ameaçada ou está sendo perseguida. Por outro lado, as serpentes que não possuem veneno têm a cabeça estreita e alongada, os dentes não são alongados, os olhos possuem pupila circular, como de humanos, a cauda afina gradualmente com o corpo e o animal foge quando se sente perseguido ou ameaçado.
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Apesar de essas características serem identificáveis, é recomendado que ao avistar uma cobra de qualquer espécie, seja ela venenosa ou não, a pessoa não se aproxime ou faça movimentos bruscos para não assustar ou ameaçar o animal.
O que fazer se avistar uma cobra
A bióloga Taciana Seemann do Centro de Informação e Assistência Toxicológica de Santa Catarina (CIATox/SC), que atende no Hospital Universitário, em Florianópolis, explica que o número de casos de acidentes com animais peçonhentos (cobras, escorpiões, aranhas, por exemplo) aumenta em média 30% no verão. Nessa época do ano, os animais estão mais ativos, saem de seus abrigos para troca de calor e estão no período reprodutivo.
Dados do Instituto Butantan mostram que a maioria das serpentes brasileiras são de porte médio. Por isso, as partes baixas do corpo são as mais atingidas nas picadas de cobras, sendo 70% os pés e pernas, 13% mãos e antebraços e 17% outras áreas.
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As cobras do mesmo gênero da Urutu-Cruzeiro, normalmente só atacam um ser humano quando se sentem ameaçadas. Por isso, ao avistar uma cobra em uma área de natureza, desvie dela e siga o seu caminho. Se você encontrar uma serpente em sua casa ou em áreas urbanas, mantenha distância e acione os Bombeiros ou a Polícia Militar Ambiental para fazer a retirada do animal.
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O que fazer para não ser picado por uma cobra
Caso você trabalhe em áreas de florestas, manguezais, rios ou regiões úmidas é necessário a utilização de equipamentos de segurança individual (EPI), como, bota cano longo, luvas de punho alongado e óculos de proteção.
Quando for fazer uma trilha ou um passeio em áreas que possuem cobras, não estacione o veículo próximo a mato, lagoa, lugar escuro ou úmido; use calçados fechados e calças compridas e preste atenção onde você colocará suas mãos e pés.
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Em sua casa ou trabalho, mantenha o quintal limpo e não acumule lixos ou materiais de construções, por exemplo. Locais com roedores atraem répteis.
As cobras atacam quando estão ameaçadas, por isso, você não deve persegui-la ou tentar capturá-la. Esses animais se tornam mais agressivos em condições extremas de calor e durante a época de acasalamento. Uma cobra assustada injeta mais veneno.
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As fontes luminosas atraem serpentes. Em acampamentos, certifique-se que as luzes fiquem desligadas durante a noite e antes de sair da barraca no outro dia, sacuda seus pertences, inclusive sapatos.
O que fazer se você for picado por uma cobra
Cerca de 100 pessoas morrem por ano no Brasil devido a picadas de cobras venenosas. As ocorrências podem ser tratadas de forma simples, quando atendidas a tempo. Por isso, quando alguém que está perto de você for picado por uma cobra, é preciso agir de forma rápida, mas com cuidado para que o veneno não se espalhe e cause mais danos.
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O Centro de Informação e Assistência Toxicológica de Santa Catarina (CIATox/SC) elenca os cuidados necessários ao ser picado por um animal peçonhento:
• Lavar o local da picada somente com água e sabão.
• Manter o acidentado em repouso. Se a picada tiver ocorrido no pé ou na perna, procurar manter a parte atingida em posição horizontal, evitando que o acidentado ande ou corra.
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• Dar água para a vítima beber, desde que esteja consciente.
• Levar o acidentado o mais rapidamente possível a um serviço de saúde.
• Se possível, levar o animal para identificação (mesmo se estiver morto). Ou tirar uma foto do animal para identificação da espécie.
• Ligue assim que possível para o CIATox/SC – 0800 643 5252.
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O centro especializado também enumera as ações que não devem ser feitas ao ser picado por um animal peçonhento, como uma serpente:
• NÃO amarrar o membro acometido, NÃO fazer torniquete ou garrote, pois isso dificulta a circulação do sangue podendo produzir necrose ou gangrena e não impede o veneno de ser absorvido.
• NÃO cortar o local da picada. Alguns venenos podem inclusive provocar hemorragias e o corte aumentará a perda de sangue.
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• NÃO chupar o local da picada, pois não se consegue retirar o veneno do organismo após a inoculação. A sucção pode piorar as condições do local atingido.
• NÃO colocar substâncias no local da picada, como folhas, querosene, pó de café, pois elas não impedem que o veneno seja absorvido, pelo contrário, podem provocar infecção.
• NÃO dar para o acidentado beber querosene, álcool ou outras bebidas, pois estas além de não neutralizarem a ação do veneno, podem causar intoxicações
CIATox/SC ajuda no tratamento de pessoas acidentadas
O CIATox/SC presta informações específicas em caráter de urgência a profissionais de saúde, principalmente médicos da rede hospitalar e ambulatorial e de caráter educativo/preventivo à população em geral 24 horas por dia pelo número 0800 643 5252.
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Uma equipe multidisciplinar e especializada atende ocorrências e acompanha o paciente desde o acidente até a recuperação, indicando medicamentos, doses e tratamentos específicos, de acordo com as reações de cada um.
No caso da urutu-cruzeiro, a picada deve ser tratada com ampolas do Soro Antibotrópico (SAB), de 3 a 12, a depender da extensão dos danos e da gravidade dos sintomas. Como os soros são específicos para cada tipo de serpente, é de suma importância que seja tirado uma foto do animal ou até mesmo que ele seja levado até a unidade de saúde juntamente com o paciente.
Apesar de a urutu-cruzeira ser conhecida pelo poder do seu veneno, quando as picadas são tratadas de forma rápida e com assistência de pessoal especializado, os sintomas e consequências são menores e recuperáveis.
*Com supervisão de Carolina Marasco
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