Desde tentativas de desacreditar as urnas eletrônicas até a invasão e depredação das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023, a prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) neste sábado (22) é fruto de uma escalada de episódios envolvendo o político ao longo dos últimos anos. Em setembro de 2025, Bolsonaro foi condenado a 27 anos e meses de prisão pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.
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Apesar do julgamento, a prisão deste sábado não tem relação com a condenação do ex-presidente e se trata de um cumprimento de medida cautelar. Em ordem expedida pelo STF, Moraes apontou que Bolsonaro estaria planejando uma fuga e afirmou que a tornozeleira eletrônica do ex-presidente foi violada por volta de meia-noite deste sábado.
Além disso, Moraes entendeu que uma vigília convocada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) “configura altíssimo risco para a efetividade da prisão domiciliar decretada e põe em risco a ordem pública e a efetividade da lei penal”. O ex-presidente foi levado para a Superintendência da Polícia Federal, onde ficará em uma sala reservada para autoridades de alto escalão.
Bolsonaro estava em prisão domiciliar desde 4 de agosto por descumprimento de medidas cautelares impostas pelo STF.
Os 10 passos que levaram à prisão de Bolsonaro
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Veja a linha do tempo que levou à prisão de Jair Bolsonaro
Ataques ao sistema eleitoral
Em março de 2021, após uma decisão do STF anular as condenações de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e torná-lo novamente elegível, Bolsonaro intensificou os ataques ao sistema eleitoral. Em julho daquele ano, em uma live transmitida também pela TV Brasil, o ex-presidente questionou as urnas eletrônicas e disse que “nunca mais tocaria no assunto” caso a proposta de voto impresso fosse derrotada no Congresso — o que aconteceu no mês seguinte.
Perto da campanha eleitoral das eleições de 2022, em julho, Bolsonaro afirmou que teria provas de que teria vencido ainda no primeiro turno as eleições de 2018. O ex-presidente convocou uma reunião com embaixadores de mais de 70 países em que questionou as urnas eletrônicas e citou supostas informações de um hacker, nunca confirmadas.
Em meio aos questionamentos das urnas, ministros, militares e aliados de Bolsonaro também teriam articulado uma tentativa de golpe para impedir a posse do presidente eleito Lula e manter Bolsonaro no poder.
Bloqueio nas rodovias nas eleições de 2022
No dia do segundo turno da eleição presidencial de 2022, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) fez blitze em rodovias federais que, segundo investigadores da PF, teriam dificultado o acesso de eleitores a zonas eleitorais em que o então candidato Lula (PT) havia recebido mais votos no primeiro turno.
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Acampamentos em frente a quartéis do exército
Logo após a divulgação do resultado do segundo turno da eleição, com a vitória do presidente Lula, grupos bolsonaristas fizeram bloqueios em rodovias e deram início a acampamentos em frente a quartéis do Exército em todo o país. Nesses locais, estenderam faixas pedindo intervenção militar e a manutenção de Bolsonaro no poder.
Bolsonaro demorou 44 horas para falar pela primeira vez após o resultado e não reconheceu a vitória de Lula. A investigação da PF mostrou que muitos desses acampamentos teve apoio financeiro para oferta de refeições e manutenção de estrutura com banheiros. O acampamento montado em frente ao quartel de Brasília serviu de ponto de encontro de manifestantes que participaram dos ataques aos prédios públicos nos atos de 8 de janeiro de 2023.
Trama golpista e operação “Punhal Verde Amarelo”
Entre outubro e dezembro de 2022, logo após os resultados das eleições presidenciais, Bolsonaro com comandantes do Exército e da Marinha elaboraram uma minuta de golpe. O documento foi encontrado mais tarde na casa do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres, e descreve tentativas de sequestro e assassinato do ministro Alexandre de Moraes, do STF, do então presidente eleito Lula e do vice Geraldo Alckmin (PSB), que receberam o nome de operação “Punhal Verde Amarelo”.
Bolsonaro permaneceu recluso na maior parte do período, mas aliados como o ex-candidato a vice-presidente Walter Braga Netto chegou a falar a pedir a aliados que “não percam a fé”. Nesse período, a PF também evitou um ataque a bomba no aeroporto de Brasília duas semanas antes da posse de Lula, em dezembro de 2022.
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Ataques de 8 de janeiro
No dia 8 de janeiro de 2023, manifestantes com roupas e mensagens de apoio a Bolsonaro invadiram e depredaram os prédios dos Três Poderes. O ato resultou em policiais feridos e destruições do Palácio do Planalto, prédios do Congresso e do Supremo Tribunal Federal. No dia seguinte, mais de 1 mil pessoas suspeitas de participar dos atos antidemocráticos foram presas.
Uso de tornozeleira eletrônica e prisão domiciliar
Em julho de 2025, Moraes determinou que a Polícia Federal realizasse uma operação de busca e apreensão na casa de Bolsonaro e impôs medidas restritivas ao ex-presidente. Na ocasião, o ministro alegou suspeitas de cometimento dos crimes de coação no curso do processo, obstrução à Justiça e ataque à soberania nacional por Bolsonaro e seu filho Eduardo Bolsonaro.
A decisão impôs o recolhimento domiciliar noturno, a proibição de usar redes sociais diretamente ou por meio de terceiros, a vedação de se comunicar com diplomatas e réus da ação penal da trama golpista, e o uso de tornozeleira eletrônica.
No mesmo dia, e Bolsonaro deu uma série de entrevistas e declarações que foram transmitidas em redes sociais. Ele afirmou que era alvo de “perseguição” e defendeu a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de elevar as tarifas contra produtos brasileiros. Após o episódio, Moraes determinou que a defesa do ex-presidente explicasse em até 24 horas se ele havia descumprido as medidas restritivas.
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Três dias depois, em 24 de julho, Moraes considerou que Bolsonaro descumpriu restrições impostas a ele, mas disse em decisão que não decretaria a prisão preventiva por entender que foi uma “irregularidade isolada”.
Em agosto, o ex-presidente mandou uma mensagem aos manifestantes que estavam em Copacabana, na Zona Sul, do Rio de Janeiro, através de um vídeo publicado nas redes sociais de Flávio Bolsonaro (PL). Em resposta ao que considerou como descumprimento das medidas cautelares, Moraes decretou sua prisão domiciliar no mesmo mês.
Julgamento por tentativa de Golpe de Estado
No dia 11 de setembro, Bolsonaro foi condenado a 27 anos e 3 meses de prisão pela tentativa de golpe após as eleições de 2022. O ex-presidente foi condenado pela Primeira Turma do STF pelos crimes de organização criminosa, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano ao patrimônio público e deterioração de patrimônio tombado.
Bolsonaro teve redução de pena nos crimes por ter mais de 70 anos, mas teve a punição aumentada por outros agravantes, como o papel de líder da organização criminosa, segundo a maioria dos ministros do STF. Do total da pena, 24 anos e 9 meses são de reclusão, pena imposta a crimes mais graves e que preveem punição em regime fechado, e 2 anos e 9 meses de detenção, pena para crimes de menor gravidade, com pena em regime semiaberto ou aberto.
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O ex-presidente e os outros sete réus também condenados fazem parte do núcleo crucial do golpe.
Prisão preventiva
Neste sábado, Moraes determinou a prisão preventiva de Bolsonaro com como base um iminente risco de fuga do ex-presidente da prisão domiciliar. No texto, o ministro afirma que a vigília poderia causar tumulto nas proximidades da residência de Bolsonaro e servir como pano de fundo para um plano de evasão a alguma embaixada próxima, por exemplo.
À 0h08min deste sábado, Bolsonaro teria, ainda, violado a tornozeleira eletrônica com o suposto objetivo, segundo Moraes, de “garantir êxito em sua fuga, facilitada pela manifestação convocada por seu filho”. A região em Brasília onde ficam as embaixadas está a cerca de 13 quilômetros da casa de Bolsonaro, um trajeto que poderia ser feito em cerca de 15 minutos.
O documento ainda destaca que a prática de fuga do país é comum no núcleo político do ex-presidente e cita, por exemplo, os casos de Eduardo Bolsonaro, que está nos Estados Unidos, e de Carla Zambelli, que está presa na Itália, condenada por invasão de sistemas do Conselho Nacional de Justiça e falsidade ideológica, em parceria com o hacker Walter Delgatti Neto, e por porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal.
Moraes ainda escreveu, no pedido de prisão preventiva, que vigília a favor de Bolsonaro poderia reeditar os acampamentos golpistas que ocorreram após as eleições de 2022.
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Em nota, a defesa de Bolsonaro disse que irá recorrer e afirmou que a prisão pode colocar a vida do político “em risco”.
“A prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro, decretada na manhã de hoje, causa profunda perplexidade, principalmente porque, conforme demonstra a cronologia dos fatos, está calcada em uma vigília de orações”, diz trecho da nota.










