O apresentador Edu Guedes revelou no último final de semana que recebeu o diagnóstico de câncer no pâncreas e precisou passar por uma cirurgia de emergência. Ele teve alta nesta sexta-feira (11), dez dias antes do previsto. A agilidade entre a doença ser diagnosticada e o procedimento cirúrgico no caso do apresentador se diferenciam da realidade enfrentada por pacientes que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS).
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“Não foi fácil”: Edu Guedes se emociona em pronunciamento após receber alta
O diagnóstico de câncer de pâncreas costuma ocorrer através de sintomas secundários da doença. Normalmente, ele é feito após alterações em exames de imagem, sem apresentar sintomas, ou em exames de sangue, como o marcador tumoral CA 19-9 em uma minoria dos pacientes. É o que explica o oncologista clínico especializado em tumores gastrointestinais, Victor Hugo Fonseca de Jesus.
— Os sintomas mais importantes dependem da localização da doença. O pâncreas é anatomicamente dividido em cabeça, corpo e cauda. Os tumores que se originam na cabeça frequentemente deixam o paciente amarelado pelo acúmulo de bilirrubina — o que se chama de síndrome colestática — explica o médico.
Ainda, outros sintomas que ocorrem no caso de tumores na parte chamada de “cabeça” do pâncreas são coceira no corpo, escurecimento da urina, fezes claras, perda de peso, dor abdominal, náuseas, vômitos, fraqueza e diminuição do apetite.
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— Já nos tumores que se originam no corpo e na cauda, o principal sintoma é a dor abdominal. Outros sintomas dos tumores de pâncreas nesta localização (corpo/cauda) incluem perda de peso, náuseas e vômitos, fraqueza e diminuição de apetite. Em casos mais avançados, sinais de doença mais extensa, como aumento do volume do abdômen por líquido (ascite) ou massa palpável, podem ser evidenciados — explica Victor Hugo.
Tempo médio de 60 dias para diagnóstico
O oncologista afirma que um levantamento recente com dados referentes ao ano de 2023, incluindo somente pacientes do SUS, foi identificado que o tempo médio entre o início dos sintomas e o diagnóstico definitivo nesses casos foi de cerca de 60 dias. Já o tempo médio entre o início de sintomas e o início de tratamento foi de cerca de 130 dias.
— Isso ocorre pelos sintomas frequentemente inespecíficos que a doença apresenta no início, pela natureza comumente agressiva que a doença possui e pela dificuldade diagnóstica. Já que o exame de eco-endoscopia, muitas vezes necessário para o diagnóstico, está disponível em pouquíssimos centros — detalha.
Diagnóstico de Edu Guedes
O apresentador relatou que, no mês de abril, foi urinar e expeliu uma “pedra”, algo que já havia acontecido com ele quando era mais jovem. Edu, que também é piloto de automobilismo, chegou a ser aconselhado pelo médico a não correr em Interlagos, mas resolveu ir para a pista mesmo assim, já que estava se sentindo bem.
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Porém, depois, Edu começou a se sentir mal durante um almoço com um colega. No restaurante, ele foi ao banheiro e acabou desmaiando, momento que precisou ser levado ao hospital. O chefe de cozinha definiu a dor que sentiu no momento como “absurda”.
Edu precisou passar por uma cirurgia para retirar uma “pedra” no rim de 1,6 cm. Depois, quando retornou ao consultório para retirar os cálculos que ainda estavam nos rins, o médico disse que tinha visto algo de estranho no pâncreas do apresentador e o encaminhou a um especialista.
O diagnóstico evitou que o câncer se espalhasse. O apresentador explicou que a cirurgia durou cerca de seis horas, e foi “um sucesso”. O tumor atingiu a cauda do órgão. No procedimento, ele retirou essa parte do pâncreas, o baço e outros nódulos ao redor. Agora, Edu Guedes está fazendo fisioterapia respiratória, já em casa.
Tratamento do câncer de pâncreas
O tratamento do câncer de pâncreas depende se a doença está localizada ou se há metástases. Nos casos em que a doença está localizada, o tratamento é feito em uma combinação de cirurgia e quimioterapia. Já nos casos de doença com metástase, o tratamento com quimioterapia é considerado o padrão, e a cirurgia é destinada para alguns casos específicos, considerados exceções.
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Os tratamentos na rede privada e na rede pública contra o câncer de pâncreas são semelhantes, afirma Victor Hugo, já que apenas uma das drogas ativas contra a doença não se encontra aprovada para uso no SUS. Contudo, o tempo para início do tratamento ainda é um desafio.
— Um desafio que ainda existe no SUS é encurtar os tempos para que os pacientes consigam realizar o diagnóstico e iniciar o tratamento da maneira mais precoce possível. Esta talvez seja a grande diferença em termos de cuidados no setor público e no setor privado — afirma o especialista em tumores gastrointestinais.
No caso em que a cirurgia é a recomendação, ela também muda conforme a localização do tumor. Em tumores localizados na “cabeça” do pâncreas, é realizada a chamada duodenopancreatectomia, cirurgia que retira a cabeça do pâncreas, o duodeno e às vezes uma parte do estômago.
Já no caso de tumores localizados no corpo e na cauda do pâncreas, é feita a remoção desta parte, chamada de pancreatectomia corpocaudal, assim como a retirada do baço, necessária para garantir que os linfonodos (ínguas ou gânglios linfáticos), que ficam entre o pâncreas e o baço, serão removidos, e evitar potenciais novos focos de doença.
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Chance de cura
O oncologista Victor Hugo destaca que o adenocarcinoma ductal pancreático é uma doença grave. As chances de cura variam conforme a extensão da doença no diagnóstico.
— Nos grandes estudos se observa que entre aqueles diagnosticados com doença localizada, cerca de 20% dos pacientes ficam curados da doença, com cerca de 30% dos pacientes vivos em 5 anos. Infelizmente, em situações onde a doença é diagnosticada em fases mais avançadas, as chances de cura são pequenas — explica.
O médico detalha ainda que o termo câncer de pâncreas é usado para se referir a diferentes tumores, com diferentes prognósticos. De todos os tumores malignos do pâncreas, o tipo mais comum é o adenocarcinoma ductal, que corresponde a cerca de 85 a 90% do total dos casos.
— Esta é uma doença de comportamento mais agressivo e menores chances de cura. No entanto, outros tumores, como tumores neuroendócrinos, neoplasias císticas pancreáticas e tumores sólidos pseudo-papilares apresentam comportamentos clínicos muito diferentes daquele do adenocarcinoma ductal e chances de cura muito mais elevadas — afirma.
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O câncer de pâncreas costuma atingir pessoas a partir dos 60 anos, apesar de dados recentes mostrarem um aumento dos casos entre pessoas mais jovens. Ele tem uma incidência um pouco maior no sexo masculino, e entre os principais fatores de risco estão: tabagismo, obesidade, diabetes tipo 2 e consumo excessivo de álcool.
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