Depois de uma corrida pelo poder deflagrada durante a pandemia da Covid-19, Santa Catarina passa a ter, novamente, um governador em definitivo. Não mais um “governador afastado” ou uma “governadora em exercício”. A volta de Carlos Moisés (PSL) à cadeira, definida pelo tribunal de julgamento na sessão desta sexta-feira (7), põe fim a uma temporada de reviravoltas políticas em SC e indica que pode haver trégua, mesmo que parcial, até 2022.
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O Estado, que há 23 anos não tinha um governador na mira de processo de impeachment, viu logo dois em pouco menos de um ano. Ambos com afastamento e mudança temporária do governo.
Impeachments de governadores entraram na pauta de vários Estados por conta de suspeitas ligadas à pandemia. No Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC) se tornou o primeiro governador a sofrer impeachment desde a redemocratização por supostas fraudes e contratos firmados na crise da Covid-19. Em SC, a compra fraudulenta de respiradores para combate à doença foi o principal problema que Moisés precisou enfrentar nos últimos meses.
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O “tira casaco, bota casaco” a que os catarinenses assistiram com mudanças no governo causou mudanças no discurso, nas restrições de combate à pandemia e até no comando da Secretaria de Saúde.
Dois julgamentos depois, é como se o Estado parasse novamente no mesmo lugar: Moisés e Daniela nas cadeiras de origem, uma divisão exposta entre ambos e incertezas sobre como serão os próximos passos do governo.
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Se por 16 anos Santa Catarina assistiu a um ambiente político de pouca obstrução nas administrações da chamada tríplice aliança, arquitetada pelo ex-governador Luiz Henrique da Silveira, os últimos três anos têm sido diferentes. Em 2018, o eleitor catarinense embarcou na onda bolsonarista e rompeu com a ampla coalizão ao escolher Moisés para ser a representação de Jair Bolsonaro em solo barriga-verde. De lá para cá, o Estado assistiu a sobressaltos e a um enredo político de fazer lembrar as reviravoltas de um episódio de House of Cards.
A analogia do bombeiro obrigado a apagar incêndios é tão clichê quanto verdadeira. Por vezes, as ações dele geraram faíscas com setores estratégicos. Moisés atraiu a ira de parte de seus eleitores bolsonaristas ao tentar marcar posição mais distante do presidente no início do governo. Confrontou o agronegócio em uma polêmica pela tentativa de taxação de agrotóxicos e instigou os poderes ao levantar a bandeira de redução do duodécimo.
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Em outros casos, viu outros incendiários atacarem focos específicos do governo, como na CPI dos Respiradores, que repetia a pergunta: “quem apertou o botão da compra dos R$ 33 milhões?”. No combate, arvorou-se em ações do governo como o pagamento de dívidas da saúde e a ampliação de leitos durante a pandemia.
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Relação com deputados fragilizou primeira metade do governo
Os maiores estragos ao governo Moisés vieram mesmo da relação com os deputados estaduais. Apontado como distante do parlamento, o governador viu quase toda a Assembleia Legislativa (Alesc) reprová-lo no período mais crítico, quando os dois pedidos de impeachment foram aprovados no Legislativo, no segundo semestre de 2020. Ironicamente, foi salvo por votos de deputados nos dois julgamentos de impeachment – em especial no desta sexta-feira.
Houve quem apontasse uma intenção inicial de depor Moisés e Daniela, em uma tacada só, promovendo o então presidente da Alesc, Julio Garcia (PSD), a governador, com incumbência de conduzir eleições indiretas.
Um voto-surpresa, do deputado bolsonarista Sargento Lima (PL), frustrou qualquer possível plano parlamentarista. Ele salvou apenas Daniela do primeiro processo, e somente governador ou vice poderiam seguir no cargo. Com a disputa entre Moisés e Daniela, os deputados estenderam a mão a Moisés.
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A volta de Moisés pode ser outro reinício, o terceiro, para o governo eleito com mais de 70% dos votos. Um armistício para quem há um ano, desde a compra dos respiradores, esteve no fogo cruzado. Mas o fôlego político pode durar pouco, já que o próximo ano é de eleições gerais.
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Nesse ‘sprint’ final do mandato, as ações em desafios do Estado, como obras, sequência da vacinação e um pós-pandemia podem indicar quanta força restará a Moisés em um eventual projeto de reeleição, caso ocorra.
Na cadeira ao lado, Daniela volta à condição de vice, mas sem o direito de ser decorativa se quiser estar em eventual chapa bolsonarista em 2022. Na raia do presidente, a propósito, correm ainda nomes como o senador Jorginho Mello (PL) e há uma aparente aproximação de Gelson Merisio (PSDB), apontado como articulador desse segundo governo interno de Daniela. Outros projetos também devem se estruturar para 2022. Até lá, a dianteira será novamente de Moisés.
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