Com o título “Semeador de Baobás”, numa referência às árvores gigantes nativas da África, que estão entre as maiores e mais longevas do mundo, o professor catarinense Antenor Naspolini lança livro sobre a sua trajetória. A obra, com 295 páginas, aborda desde a infância, em Criciúma, Santa Catarina, até as carreiras como professor universitário, planejador e gestor de políticas públicas para a educação em SC e no Ceará e como consultor no exterior pelo Unicef, o Fundo das Nações Unidas para a Infância.

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O lançamento do livro será na noite desta segunda-feira, às 19h30min, no auditório da Udesc Esag (Universidade do Estado de Santa Catarina), em Florianópolis, durante a 10ª Semana Acadêmica. Na terça-feira, o autor também fará um lançamento às 19h, no restaurante Lîle Brasserie, em frente ao Beiramar Shopping, na mesma data em que celebra aniversário de 85 anos. Os dois eventos são abertos a interessados.

Veja mais imagens sobre a trajetória e o livro do professor Antenor Naspolini:

Antenor Naspolini é reconhecido em SC, no Brasil e exterior como um dos planejadores e gestores referência em educação. Filósofo com mestrado em Planejamento Educacional pela PUC do Rio de Janeiro, ele foi professor de Filosofia da UFSC, professor e primeiro diretor eleito da Esag (Centro de Ciências da Administração e Socioeconômicas) da Universidade do Estado de Santa Catarina. Foi um dos articuladores das bases que tornaram a Esag uma das melhores escolas de Administração do Brasil.

Em SC, foi o idealizador do projeto Pró-Criança, do primeiro governo de Esperidião Amin, de 1983 a 1987, voltado a crianças de zero a seis anos, que a Organização das Nações Unidas (ONU), considerou referência mundial. Depois, foi convidado a levar o modelo para o Ceará. Lá foi convidado para ser secretário estadual de educação e executou programa que teve continuidade e mantém até hoje o estado com uma das melhores educações do Brasil, sempre com notas elevadas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que mede o aprendizado dos estudantes no ensino fundamental e médio do Brasil.  

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Naspolini diz que o título “Semeador de Baobás” tem duplo significado. Um deles é que ele se apaixonou pelas árvores baobás quando era consultor de educação peo Unicef na África e se tornou um semeador das mesmas no Brasil, tendo dado mudas para muitas pessoas e instituições. O outro e porque a educação precisa ser de alta qualidade e forte sempre, numa referência à longevidade dos baobás, que é uma das maiores e mais longevas árvores do mundo, chegando a durar 1.500 anos. Saiba mais sobre o livro e a trajetória do professor Antenor Naspolini, na entrevista a seguir:

Nesta segunda-feira (20) o senhor lança na Udesc o livro “Semeador de Baobás”, que fala da sua trajetória. O que o senhor destaca mais na obra?

– Na verdade, esse livro foi nascendo aos poucos. Dividi em cenários, os principais da minha vida. Para cada cenário, fiz um capítulo isolado. Ou seja, o leitor pode começar a leitura do livro em qualquer capítulo. Não é uma sequência lógica, uma dependência de um capítulo para o outro, são vários cenários que representam momentos distintos da minha vida. Momentos em Santa Catarina, pelo Brasil, no Ceará, e também em Angola, locais em que eu trabalhei. É muito autobiográfico. É uma reflexão sobre várias vivências feita hoje sobre o passado. Foi também uma emoção muito grande escrever esse livro.

O senhor conta no início a história da sua família, do seu casamento…

– Minha esposa, a Stela (com quem teve três filhos), foi uma pessoa muito importante na minha vida. E também na educação nacional. Ela foi coordenadora da educação pré-escolar do Brasil, do Ministério da Educação, e consultora do Unicef, onde desenvolveu projetos importantíssimos. Ela faleceu em 2006, de câncer de mama. Teve um momento que parecia estar curada. Depois a doença  voltou com toda a força e ela faleceu, infelizmente.

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O senhor poderia falar sobre a escolha do nome do livro, Semeador de Baobás?

– O Semeador de Baobás tem um sentido real e um sentido metafórico. O sentido real é porque eu, de fato, semeio baobás. Eu cultivo a planta baobá. A planta baobá foi conhecida no mundo, inicialmente, mais pelo livro Pequeno Príncipe, de Exupéry. No Pequeno Príncipe ela parece como uma árvore quase daninha. Mas não tem nada a ver com daninha. Na verdade, o baobá na África é uma árvore sagrada. O pessoal a respeita. E o baobá fornece a múcua, que é o fruto dessa árvore e alimenta muita gente. Do baobá tudo se aproveita.

E eu sou um semeador porque trouxe sementes da África, de Angola. Essas sementes foram autorizadas pelo Ministério da Agricultura daquele país. Entrei no Brasil também com reconhecimento do Ministério da Agricultura e semeei. Eu sou um semeador de baobás do ponto de vista físico, da planta.

Por outro lado, o baobá é uma das árvores que mais dura no mundo. Ele disputa longevidade com o cedro do Japão, com a sequoia americana. Eu tenho uma foto de um baobá em Angola que mede 21 metros de circunferência. São 12 pessoas para abraçar essa árvore, 12! No livro eu publico uma foto na frente desse baobá e eu desapareço porque ele é imenso. Deve ter uns 1.500 anos. Então o baobá, além de tudo se aproveitar, ele é um símbolo de longevidade. 

Sendo assim, o sentido metafórico do livro é de que nós devemos plantar sementes de algo que seja permanente. Percebo que muitas instituições surgem em dado momento para dar uma resposta àquela pergunta que é feita. Depois muda a pergunta e a resposta continua a mesma. Ou seja, a instituição fica fazendo a mesma coisa, apenas garantindo o emprego das pessoas. Isso não pode ser. Tem que mudar. O baobá é exatamente uma planta que enfrenta tempo, intempéries e dura.

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Quer ver um exemplo? Eu fui o primeiro diretor eleito da Esag (Centro de Ciências da Administração e Socioeconômicas) da Universidade do Estado de Santa Catarina, onde será o lançamento do livro. A Esag é um baobá da educação, da administração pública, do ensino da administração. Por quê? Porque desde aquela época se procurou dar a resposta adequada à pergunta que se fazia. Hoje está com 60 anos, com o prestígio que tem. Então eu volto a dizer, o livro tem o nome de Semeador de Baobás no sentido real de semear e no sentido figurado.

Ainda falando da Esag e da Udesc, o senhor teve uma participação importante na qualidade do ensino da Udesc Esag. Como foi a sua colaboração?

– Na Esag, como já comentei, fui o primeiro diretor eleito. Então, na verdade, a implantação da Esag foi no meu tempo. A Esag é a primeira escola de administração do Sul do Brasil. Existia curso de administração em faculdade de economia, era um curso anexo. Mas não uma escola só de administração. E a Esag foi a primeira escola criada especificamente de administração. E eu fui eleito diretor com 26 anos.

Eu era professor e entramos lá por concurso público. Então, a entrada foi pela parte da frente. E nós, professores e alunos, queríamos uma escola de qualidade. Então nós tínhamos assembleias permanentemente para discutir os problemas da escola e buscar solução para aqueles problemas.

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A Esag manteve o alto nível, sempre procurou dar as respostas adequadas. Depois criou curso de administração pública, curso de economia, prestou muitos serviços a empresas e ao Estado, sempre marchando na onda do momento, sabendo como navegar nessa onda.

Um dos primeiros capítulos do seu livro fala sobre o Projeto Pró-Criança, que o senhor elaborou para o primeiro governo de Esperidião Amin (1983-1987). Quais eram as bases desse projeto para a infância?

– O Projeto Pró-Criança, que foi do governo de Esperidião Amin, tinha como presidente Ângela Amin, na Ladesc, a Liga de Apoio ao Direito Catarinense. Na ocasião, a Stela, minha esposa, assessorava a Ângela, e eu assessorava o Esperidião. Nós tínhamos contato direto com os dois. E foi usado o poder público em benefício das crianças. Qual era o ponto de partida? É que tudo se decide antes da criança completar seis anos. Tínhamos esse lema na ocasião. Tudo se decide antes dos seis anos.

Por quê? Em termos de nutrição, de saúde, de estimulação, se não se atender bem os primeiros anos de vida, depois será difícil recuperar. Além de ser difícil, é mais caro. Então, o Espiridião tinha como lema do seu governo prioridade ao pequeno, e ninguém é mais “o pequeno” do que a criança. 

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A proposta veio em total afinidade com a proposta de governo. Esse programa foi tão inovador que o sistema das Nações Unidas, o Unicef, tomou conhecimento, pediu para avaliar. Vieram especialistas nternacionais, um da Argentina, um outro do México, um outro dos Estados Unidos e um brasileiro. Eles passaram tempo aqui em Santa Catarina avaliando o programa e foi publicado um documento no Circuito das Nações Unidas enaltecendo o programa porque era uma coisa inovadora, inédito no Brasil, e que servia de exemplo para outros países.

Foi a partir do Pró-Criança que eu fui convidado para ir para o Ceará. Porque o diretor do Unicef do Brasil perguntou se um programa que era sucesso em um estado rico como Santa Catarina também funcionaria em um estado pobre. Respondi que o problema não é de riqueza, o problema é de decisão política. Se o Estado tiver decisão política, poderá fazer algo igual. A minha ida para o Ceará foi decorrente exatamente do desempenho do Pró-Criança aqui em Santa Catarina.

Depois, o Pró-Criança não teve continuidade em Santa Catarina? O que aconteceu com ele?

– Existe uma grande diferença do que aconteceu no Ceará com o que aconteceu em Santa Catarina. O Ceará tem mais de 30 anos de continuidade das políticas públicas sociais. Ou seja, muda o governo, mas as políticas sociais básicas continuaram.

Então, o sucesso da educação do Ceará, hoje, não se deve só a mim. Se deve a um processo todo de continuidade de decisões na mesma direção. E na ocasião, o candidato de Santa Catarina que veio depois de Esperidião Amin, ele dizia ‘isso aí é uma coisa bonita, a própria democratização da educação, isso foi muito participado, muito democrático. Vamos manter’, e quando assume, muda. Ou seja, o governo que assume derruba o que o outro fez.

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Acho que tem que acabar esse tipo de coisa. Vamos ver o que é sério, o que tem consistência, e manter. Então, o sistema das Nações Unidas publica documentos recomendando o projeto para outros países, e o estado onde o programa foi feito simplesmente desprezou essa caminhada.

Se o senhor fosse convidado para fazer um novo plano para melhorar a educação de Santa Catarina, quais seriam as linhas gerais deste plano?

– É difícil dizer porque eu estou afastado de Santa Catarina há muito tempo. Eu fui ao Ceará, aliás, eu achava que tinha ido ao Ceará quando, na verdade, eu fui para o Ceará. Na ocasião, o contrato era por dois anos nas Nações Unidas, e dali eu poderia ir para outro canto do mundo.

No fim, foi renovado o contrato com as Nações Unidas no Ceará e o Tasso Jereissati, quando assumiu, me convidou para ser secretário de Educação. Eu fui Secretário de Educação durante os dois mandatos dele como governador.

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Então, hoje, eu sou um cearense também porque recebi esse título concedido pela assembleia legislativa do estado.  E, nesse período, não acompanhei diretamente o desempenho de Santa Catarina e os indicadores. Então, eu não tenho condições de elaborar, no momento, uma proposta para Santa Catarina. Mas aqui há pessoas competentes que devem ser ouvidas para fazer uma proposta para o Estado.

Mas a base do seu programa, o que deu certo naquele momento, funcionaria hoje também, na sua opinião?

– O Ceará, por exemplo, universalizou o ensino fundamental, mas com o município como o líder desse processo. Até a quinta série, o ônus é do município, mas o bônus também, o recurso também é do município, e a avaliação desse processo, que é muito importante junto com a publicação desses resultados. Isso foi feito muito no Ceará.

A formação e a valorização do magistério foram duas forças muito sérias. A municipalização do primeiro ao quinto ano, a formação dos professores, e a valorização funcional, com remuneração adequada também, foram coisas básicas que mexeram no processo do Ceará.

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Mas é difícil isolar um elemento ou outro, porque há todo um conjunto, e isso no livro eu falo. Sou um retirante às avessas. Normalmente, o retirante é quem sai do Nordeste para o Sul, para outro canto. Eu fui um retirante às avessas, fui do Sul para lá.

O livro tem um capítulo chamado Retirante às Avessas?

– Exatamente. Um capítulo chamado Um retirante às avessas e suas travessias no Ceará, onde comento porque fui para o Ceará, em que condições, e como é que o Tasso Jereissati me convidou para ser Secretário da Educação, e o que eu disse para ele na ocasião.

Falei ‘estou atônito’, e ele quis saber o porquê. Eu não era amigo dele na época. Hoje somos amigos, mas na ocasião eu não era. Eu achei que ele queria conversar sobre o Unicef. Ele disse, ‘não, eu já sei o que o Unicef está fazendo aqui, eu quero que você assuma a Secretaria de Educação do Estado’.

Argumentei que não tinha filiação partidária, que se fosse obrigatória eu estaria fora do processo, que não era cearense. Ele deu uma risada e disse ‘acho que é por isso que eu estou lhe convidando’. Ou seja, o que eu pus como dificuldade, ele pôs como força propulsora.

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O senhor também é conhecido pelo seu trabalho no exterior, na área de educação. O que fez no exterior, em que países?

– Eu fui consultor do Unicef, que me convidou para apresentar o Pró-Criança de Santa Catarina e também, depois, o projeto desenvolvido no Ceará. Foram os dois projetos que deram mais visibilidade internacional, que me levaram a fazer palestras e debates em vários países da América Latina.

Eu estive na Colômbia, no Peru, na Costa Rica, no México, no Chile. Na Ásia, nos tigres asiáticos, foi mais sobre o Ceará. O Banco Mundial considerou a nossa experiência no Ceará uma experiência inovadora para o mundo todo.

Estar lá foi muito bom. Na época das viagens para Angola, depois de sair da Secretaria de Educação, eu passava três meses lá e três aqui. Isso foi depois da guerra, quando acabou a guerra por lá, em 2003, em 2004, e me convidaram para uma consultoria.

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Em Angola conseguimos que a criança, de 0 a 6 anos, fosse o polo, digamos assim, da paz do país, porque o país tinha acabado uma guerra, mas a guerra não acaba quando se decreta, né? Há todo um sentimento que permanece.

Então, tinha que se recompor o país. E a criança foi a grande força para isso. Eu lá sugeri e foi feito um fórum nacional sobre a criança de 0 a 6 anos. Até hoje é feito esse fórum. E aí nasceram os principais compromissos de Angola com relação à criança. Foi uma experiência muito interessante com Angola.

E eles executaram os projetos que planejaram?

– Sim! Continua até hoje. E Angola era um país com uma das mais altas mortalidades infantis do mundo. Mudou muito isso. Mas é um país pobre, continua um país pobre ainda.

E o que o senhor faz atualmente?

– Presto algumas consultorias e apoio uma escolinha de golfe para alunos de escola pública do Ceará, no único campo de golfe público existente no Norte e Nordeste, que fica no Parque Estadual do Cocó, em Fortaleza. Também jogo golfe e, como sou aposentado, estou curtindo mais a minha vida com familiares e amigos.

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