Inspirados no fundo ‘endowment’ da Universidade de Harvard, dos Estados Unidos, que tem patrimônio de US$ 53 bilhões e usa somente o lucro para pagar parte de suas atividades, alunos e ex-alunos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) criaram o Fundo Catarina, com o mesmo foco, que começa investir na qualidade das engenharias. Como é novo, com apenas seis anos de fundação, o fundo da UFSC ainda concentra um esforço grande para ampliar o recebimento de doações e ter um maior número de doadores.
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O Fundo Catarina já conquistou apoios e atraiu conselheiros importantes, entre os quais o presidente do conselho de administração da WEG, Décio da Silva, egresso do curso de Engenharia Mecânica da UFSC; e o CEO do Grupo Kuerten, Rafael Kuerten, que cursou Ciência da Computação na instituição, entre outros. Conta, na diretoria, com 85 membros voluntários e já impactou mais de 990 alunos, informa o presidente e um dos idealizadores do fundo, Raphael Zimmermann.
Veja imagens de apoiadores do Fundo Catarina e de universidades:
– As engenharias da UFSC são muito importantes, são referências no Brasil. Então, isso me levou a ajudar por meio do Fundo Catarina. Eu estudei de graça nessa que é uma das melhores escolas. Então, a gente tem que ajudá-la de alguma maneira para que ela continue sendo boa – destaca Décio da Silva, que está à frente do conselho de uma das empresas mais admiradas do Brasil.
Um dos primeiros doadores do Fundo Catarina e que segue colaborando, o líder da WEG acompanha o mundo das engenharias e de tecnologias em função da sua atividade. Por isso, tem uma visão mais precisa sobre os desafios desse segmento da educação no Brasil e no mundo.
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– Você não vai encontrar um país com alto desenvolvimento que não tenha uma quantidade expressiva de engenheiros de todas as áreas. Uma sociedade desenvolvida pressupõe universidades fornecendo formação ampla e robusta aos seus engenheiros. Então, essa é a minha razão de estar ajudando. Eu sinto que tenho uma dívida com a universidade. Acho que todos sentimos isso – destaca o industrial.
Quando as pessoas sentem que foram privilegiadas em poder participar de uma universidade tão boa, podem fazer uma contribuição, pequena que seja, podendo ser mensalmente ou da forma que considerarem mais adequada, para que a instituição possa continuar mantendo a sua qualidade de ensino, observa ele.
Outro empresário que colabora com o Fundo Catarina é o CEO do Grupo Kuerten, Rafael Kuerten. O curso que ele fez, de Ciência da Computação, também integra o Centro de Tecnologia da UFSC, que reúne as engenharias e a informática.
– Eu sou um entusiasta dos fundos endowments porque eles são perenes. Todo o valor que a gente doa fica no fundo, só é utilizado o ganho financeiro dele, descontada a inflação. Então, ele sempre existirá. Isso faz com que busquemos ter um volume considerável de dinheiro para poder aplicar – afirma Rafael Kuerten.
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Para esclarecer mais quem não vive o dia a dia das finanças, ele cita como exemplo que, para poder investir mais de R$ 100 mil, o fundo precisa ter pelo menos R$ 1 milhão de patrimônio (no atual momento financeiro do Brasil). Assim, terá retorno financeiro aproximado de R$ 150 mil e, descontando a inflação e outros custos, o fundo terá cerca de R$ 100 mil por ano para aplicar em projetos de melhoria da qualidade do ensino, em laboratórios ou de outra forma na qualificação de alunos.
O Fundo Catarina começou com quatro doadores e Rafael Kuerten, que é vice-presidente do conselho de administração, foi um deles. Ele conta que colabora como pessoa física, mas que o Grupo Kuerten e o Instituto Guga Kuerten já doaram ao fundo. Além desse fundo, ele destaca que também colabora com outras instituições que atuam principalmente com esporte, educação e saúde.
Fundo criado por alunos e ex-alunos
Um dos fundadores e presidente do Fundo Catarina, Raphael Zimmermann, ressalta que a UFSC é uma universidade de excelência com professores incríveis, que formou e forma pessoas incríveis. Entre elas estão empresários e executivos que lideram algumas das maiores empresas do mundo. Pode-se citar o Décio da Silva, da WEG; Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS; e Michel Doukeris, CEO global da Anheuser-Busch InBev.
– O Fundo Catarina surgiu da iniciativa de alunos que queria retribuir de alguma maneira para o Centro Tecnológico (CTC) e para o ecossistema aquilo que conquistaram. Tiveram formação de alta qualidade no CTC e isso permitiu a inserção profissional no mercado e, também, cultivar uma rede de profissionais e amigos que se formaram – destaca Raphael Zimmermann.
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Segundo ele, o Fundo Catarina é um dos maiores endowments universitários do Brasil. Por enquanto, os líderes preferem não revelar o valor patrimonial, mas o fundo tem mais de 300 doadores. Embora a instituição busque mais a colaboração de ex-alunos, todos podem doar. Um dos primeiros doadores foi o empresário e investidor Luis Stuhlberger, de São Paulo.
A atuação do ‘endowment’ é basicamente no apoio financeiro para projetos de pesquisa, formação profissional, bolsas meritórias e empreendedorismo. Ao criar um fundo patrimonial para apoiar o centro de tecnologia, o grupo está, também, colaborando para resolver um problema de escassez de profissionais técnicos qualificados atuais e do futuro.
Raphael Zimmermann cita estudo da consultoria McKinsey segundo o qual a demanda por profissionais de tecnologia explodiu. Até 2030, o Brasil vai necessitar de 1 milhão desses profissionais e esse número vai aumentar em função da alta demanda do setor de tecnologia, inclusive de empresas internacionais.
– Se considerarmos os alunos de graduação do Brasil, que são cerca de 8 milhões, menos de 2%, ou seja, menos de 150 mil são estudantes de engenharia ou de ciência da computação. E se pegarmos só o curso de computação, 53% dos alunos desistem. E se considerarmos os 10 melhores cursos de computação do país, eles somam cerca de 1.200 vagas por ano. Isso é alarmante. Precisamos formar mais pessoas – observa o presidente do Fundo Catarina.
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O Centro Tecnológico da UFSC conta com mais de 8 mil alunos de engenharia e tecnologia, 90 laboratórios, mais de 30 projetos de extensão e mais de 500 pesquisas em andamento. Isso coloca a universidade entre as principais escolas de engenharia do Brasil, avalia Raphael Zimmermann.
Movimento para fortalecer engenharias
O empresário Décio da Silva defende um esforço para melhorar a qualidade de ensino das engenharias no país. Quando recebeu o título de Eminente Engenheiro do Ano 2024, em outubro, do Instituto de Engenharia do Brasil, em São Paulo, o empresário, que também é presidente dos conselhos da holding WPA e do Grupo Oxford, defendeu uma atenção especial para a formação de engenheiros no Brasil.
Ele observou que existe um déficit muito grande no país na formação profissional das engenharias mais tradicionais como a mecânica, elétrica, civil e agronomia, mas o déficit é maior nas novas engenharias.
– Temos um déficit muito maior nas novas engenharias que vêm aí, como segurança cibernética, inteligência artificial e para descarbonização do nosso Planeta. É muita coisa que temos que fazer. Temos belíssimas escolas de engenharia, algumas ilhas de excelência, mas temos que – o Estado, a iniciativa privada e toda a sociedade – entender a importância de, efetivamente, investir mais nas escolas de engenharia, dar atenção ao corpo docente e à infraestrutura que, na maioria delas, está muito inadequada para o estágio tecnológico que estamos vivendo – enfatizou Décio da Silva no seu discurso no Instituto de Engenharia.
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Projetos apoiados pelo fundo
Desde quando iniciou investimentos para apoiar o setor de tecnologia da UFSC, considerando a governança estabelecida de investir só o lucro, o Fundo Catarina já apoiou diversos projetos e impactou positivamente cerca de mil estudantes. Os investimentos vão além da questão específica do aprendizado e abrangem benefícios à comunidade.
– Um dos projetos que aprovamos para este ano é de uma esteira para criancinhas pequenas aprenderem a primeira marcha (começar a caminhar), muito voltado para crianças especiais. Uma esteira de academia começa com uma velocidade de 1,5 quilômetro por hora. Essa é uma esteira especial que é pequenininha e começa lá do 0,1 quilômetro por hora. É para uma criança cadeirante aprender a fazer a marcha. Já foram vendidas 15 dessas esteiras e serão feitas também para adultos com dificuldades para caminhar – destaca Rafael Kuerten.
Por uma das regras de governança, todos projetos para serem apoiados devem ser apresentados por meio de editais. O objetivo é selecionar ideias criativas para impactar direta ou indiretamente a qualidade da formação profissional. O fundo tem também um programa de bolsas desenvolvido em parceria com empresas.
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