Passarinhar é um verbo que com o passar do tempo mudou o sentido. Décadas atrás, significava andar à caça de pássaros. Hoje, significa sair a campo para observá-los. Vê-los, fotografá-los e registrar as características sem tocá-los, deixando-os livres na natureza é prioridade para os passarinheiros. Com uma cobertura vegetal rica e diversificada, Santa Catarina favorece a atividade por contar com o privilégio da presença de um dos biomas mais biodiversos do planeta, a Mata Atlântica.

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Para se ter uma ideia desta riqueza, a Amazônia tem mais espécies da avifauna, cerca de 1,3 mil. Mas a área é quatro vezes maior. Na Mata Atlântica vivem 891 aves, cerca de 45% de todas as espécies encontradas no território brasileiro. Mas há perigos permanentes, como caça e tráfico. Também existem problemas decorrentes da inadequada recondução de aves à natureza.

Mudar esta mentalidade passa pela educação dos mais jovens. É o que pretende o do “De lixo a bicho”, um projeto de ensino, pesquisa e extensão desenvolvido desde 2015 por estudantes e servidores do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), em Itajaí. O objetivo é promover a transformação socioambiental e instigar o pensamento crítico e sustentável a partir da educação lúdica. Para isso, são criados jogos, como o “Detetive da Mata”, apresentado nesta reportagem, adaptado para a versão digital.

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De acordo com a professora Rita Inês Petrykowski Peixe, uma das coordenadoras, o projeto é resultado de uma rede colaborativa de instituições que inclui empresas geradoras de resíduos e instituições educacionais de ressocialização (parte dos jogos é confeccionada em um canteiro de trabalhos de um presídio no Paraná).

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Professores e estudantes criam peças a partir de materiais residuais limpos, oriundos das indústrias, e os jogos utilizados em ações de educação ambiental, prioritariamente voltadas à educação básica. O projeto inclui o desenvolvimento de jogos que buscam a aplicação dos aspectos sociais, ambientais e culturais; a releitura de brincadeiras cotidianas e a utilização, quando possível, de resíduos oriundos da indústria.

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Até o momento, oito jogos foram desenvolvidos e aguardam a possibilidade de serem produzidos em série, quer seja por meio de uma empresa e ou instituição interessada na reprodução e distribuição ou de subsídios para a fabricação. Os jogos contemplam diferentes questões ambientais: o Detetive da Mata (perda de biodiversidade de aves); Bichoruga (resíduos sólidos nos oceanos); De Olho no Bicho (atropelamento de animais silvestres em rodovias); Jogo dos R’s e Ecoprisma (consumo e sustentabilidade); Bioinvasão Marinha (invasões biológicas); Todos por um Planeta (limites planetários e resiliência ambiental); Manoches (biodiversidade marinha).

Número de passarinheiros cresce no país

Apreço pela natureza, respeito à liberdade, gosto pelas cores e cantos das aves. A observação de pássaros ou o chamado “birdwatching”, em inglês, se caracteriza em observar os bichinhos no seu habitat. É uma forma de ressignificar o passarinhar, com a vantagem de não precisar ser exatamente um “birding”, que é o nome dados aos praticantes assíduos.

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Quem quiser fotografar pode, inclusive, participar da comunidade digital brasileira onde os passarinheiros publicam os registros feitos, a plataforma Wiki Aves. A ferramenta também atende aqueles que prefere apenas curtir as imagens:

– Fotografar os pássaros na natureza me dá uma sensação de paz muito grande – conta Chirley Mendes, que há sete anos se dedica a observar as aves.

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(Foto: Chirley Mendes, Arquivo Pessoal)

Proprietária de um sítio em Anitápolis, na Grande Florianópolis, Chirley já consegue identificar as espécies pelo canto e cores das penas:

– Um dos dias mais emocionantes foi quando fotografei uma araponga no alto de um ipê – recorda a obersavdora.

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A prática desse turismo recreativo tem aumentado. Os últimos dez anos têm sido de crescimento no país. Temos um bom motivo: o Brasil é o segundo país da América com maior número de espécies de aves, fincando apenas atrás da Colômbia. Explorar este potencial pode parecer economicamente interessante. Nos Estados Unidos existem 45 milhões de observadores, o que gera 40 bilhões de dólares por ano, incluindo gastos com viagens e equipamentos. O valor equivale ao PIB catarinense de 2018. Ou, pegando um dado mais atualizado, um pouco próximo do superávit da balança comercial brasileira de 2020, a qual ficou em 50,9 bilhões de dólares.

Onde praticar birdwatching

Existem vários lugares nas cidades catarinenses para quem quiser passarinhar. Em Florianópolis, um desses lugares é o Parque Natural Municipal do Morro da Cruz. Inaugurado em 2013, a área conserva um pedaço de mata recortado por trilhas, e do alto se pode observar o Centro da cidade, a Ponte Hercílio Luz, o continente.

Também tem o Parque Municipal do Córrego Grande, ao lado da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A trilha circular oferece a possibilidade de observar saracuras, bem-te-vis e o tapicuru, bastante comum em Florianópolis. Também são comuns sabiás e rolinhas.

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Outra alternativa é durante uma caminhada pela Avenida Beira-Mar Norte e que, apesar do movimento intenso, é atrativo para quero-queros, nos canteiros, ou biguás, entre um mergulho e outro. Ainda que impróprias para o banho, as praias do Continente também são locais onde se pode apreciar a elegância das garças, os dorminhocos socós, as atentas gaivotas. Mais ao Sul do Ilha, o Parque Municipal da Lagoa do Peri também mostra a exuberância da Mata Atlântica. Não tem como marcar encontro, mas com sorte se pode apreciar tucanos, gralha-azul, beija-flores.

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(Foto: Chirley Mendes, Arquivo Pessoal)

Em São José, também na Grande Florianópolis, tem o Parque Temático Ambiental dos Sabiás. Localizado no bairro Forquilhinhas, tem 35 hectares com trilha interpretativa, viveiro de mudas nativas, açude. Dependendo da época da visita, pode-se observar ninhos na copa da arvores. Entre as presenças mais comuns estão joão-de-barro, pica-paus, pula-pula (sebinho).

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Mas tem um lugar que é fascinante e que o visitante pode ir que com certeza para encontro com muitas aves: o Parque Estadual do Tabuleiro. Maior unidade de conservação do Estado, o parque é farto e conta com a presença de cerca de 300 espécies de aves. Junto com a Ilha de Santa Catarina, é área com maior conhecimento da avifauna e que vem sendo acompanhada desde 1970 por pesquisadores como Helmut Sick, Lenir Alda do Rosário e Denize Alves Machado.

O trabalho dos ornitólogos inspirou muitos outros que nos ajudam a reconhecer espécies como macucos, marrecas, mergulhões, gaviões, papagaios, corujas, tesourinhas. A sede do parque fica em Palhoça, na Baixada do Maciambu.

Fique Ligado

Confira algumas dicas para praticar birdwatching:

– Comece a observar os pássaros próximos de você

– O ideal é buscar sempre a companhia de um guia, de preferência, de alguém que já conheça o local e as aves

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– Leve binóculos, pois o equipamento permite observar melhor, mais aproximado e nitidamente

– Leve câmera fotográfica, celular e um bloquinho para anotar as espécies que encontrar

– Se pretende ser um praticante assíduo de birdwatching e fazer parte de comunidades, é bom investir em equipamentos

– Quando for observar os pássaros, use roupas com cores discretas para não afugentá-los

– Se for em matas, use camisa de manga comprida, calça e bota. Não esqueça do repelente

– No momento de procurar os pássaros, caminhe lentamente e em silêncio

– Observe, fotografe, anote; mas mantenha uma certa distância para não assustar os bichinhos

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