Existe uma teoria – não comprovada – relacionando um asteroide que se chocou com a terra e a extinção dos dinossauros. A colisão teria levantado tanta poeira que por décadas a atmosfera ficou encoberta e impediu a entrada da luz do sol. A noite permanente dizimou 75% das espécies existentes. Temos testemunha do fato? Dizem que sim, a araucária, uma das árvores mais comuns no sul do país. Outra suposição dá conta que a essa espécie secular também teria presenciado a separação dos continentes, consequência da movimentação das placas tectônicas.

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Conjeturas à parte, o fato é que Santa Catarina abriga pelo menos cinco araucárias gigantes. A maior delas, o Pinheirão, encravada numa propriedade particular em São Joaquim, na Serra Catarinense, tem 39,2 metros de altura e um diâmetro de 3,25 metros. Para se ter uma ideia do tamanho, a estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, tem 38 metros. Mas como esse exemplar pode ser considerado o maior, se na estação experimental da Embrapa, em Caçador, tem um com 44 metros de altura?

– O fator altura é importante, mas cientificamente a gente leva em conta o diâmetro de cada árvore, e no caso da araucária de Caçador, o diâmetro é inferior, com 2,38 metros – explica Marcelo Callegari Scipioni, professor e pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

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Scipioni é professor de dendrologia, a ciência que estuda as árvores. A conexão vem de longe:

– Quando criança, lá em Pato Branco (PR), eu sempre queria saber o nome das árvores que encontrava pelo caminho – recorda o especialista.

A ideia de catalogar as grandes árvores de Santa Catarina surgiu em 2013, depois que ele visitou alguns parques nos Estados Unidos, onde cada estado americano faz este tipo de trabalho. Também agrônomo, o doutor em engenharia florestal trabalhou no Serviço Florestal Brasileiro como técnico especializado no Centro Nacional de Manejo Florestal e tem experiência na área de Recursos Florestais e Engenharia Florestal, com ênfase em Silvicultura e Conservação da Natureza, atuando principalmente em dendrologia, florestas de crescimento antigo, silvicultura urbana e inventário florestal.

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O pesquisador está à frente do projeto Florestas de Alto Valor de Conservação (FAVC), o qual busca identificar onde essas florestas se localizam. A partir do reconhecimento das FAVC, os pesquisadores analisam que espécies fazem parte de cada ambiente encontrado e monitoram como se dá o estágio de sucessão – processo de regeneração da floresta depois do desmatamento. Depois que identificam as matas, os pesquisadores apontam o manejo apropriado e as espécies adequadas para fazer parte do processo de restauração das áreas degradadas. Quando uma gigante é localizada é como um tesouro encontrado:

– Além da beleza e respeito que impõe, esses exemplares gigantes precisam ser conservados, pois promovem abrigo para animais, e ensinam sobre o ambiente onde vivem há centenas de anos.

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Infográfico: Os segredos revelados pelos anéis de crescimento da araucária

Resultados mostram que árvores com mais de três metros de diâmetro não existem no Sul do país. Mesmo com dois metros quase não são encontradas. A medida do tronco indica a idade da planta, e dá pistas sobre o passado da região: a exploração da indústria madeireira e a chamada conversão das florestas em áreas agrícolas e urbanas, processos intensificados a partir da década de 1950, quando foram dizimados milhares de quilômetros quadrados de biodiversidade.

Historicamente essas gigantes sempre estiveram na mira comercial, um dos motivos que fomentou a Guerra do Contestado (1912-1916), a partir dos privilégios concedidos para a Souther Brazil Lumber & Colonization Company. A madeira nativa foi usada para construção de casas e de pontes, dormentes para a estrada de ferro, fabricação de móveis. Hoje, a araucária está na lista de espécies ameaçadas de extinção no Brasil e pela União Internacional para a Conservação da Natureza. Estudos alertam que pode desaparecer até 2070.

Para celebrar o Dia da Árvore, comemorado nesta quinta-feira (21), veja detalhes do Pinheirão no infográfico a seguir, produzido por Ben Ami Scopinho:

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Nem só de araucárias são feitas as pesquisas de Scipioni. O professor do Campus de Curitibanos da UFSC também desenvolve um projeto que busca catalogar imbuias e gigantes de diferentes outras espécies. Árvore símbolo de Santa Catarina, a imbuia, cientificamente conhecida como Ocotea porosa, igualmente corre risco de extinção. Encontrada em maior concentração no Norte e Meio-oeste catarinense, a espécie de valor histórico concentra aspectos importantes para a fauna e a flora, pois promove abrigo para outros animais, como mamíferos, aves e insetos.

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O professor explica que, por terem uma longevidade muito maior, as imbuias acabam por dar guarida em seu tronco e copa para outras formas de vida, acolhendo plantas epífitas, como orquídeas e bromélias. A espécie promove o sequestro de carbono, que é um processo de retirada de gás carbônico (CO2) da atmosfera e acumulado em sua biomassa e promove fotossíntese transformando-o em oxigênio. Por fim, se for feito manejo florestal sustentável, pode servir como madeira de qualidade para construção de casas e de móveis, sem “importar” as madeiras da região Amazônia.

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Em 2013, quando retornou dos Estados Unidos para o Brasil, Scipioni começou a catalogação pela araucária, icônica no Sul do Brasil, ampliando para outras espécies, como imbuias e canafístulas. No contexto do bioma da Mata Atlântica, foi definido que o registro se daria a partir de um metro e meio de diâmetro. Desde então, já são mais de 1 mil árvores mensuradas, a maioria em propriedades particulares, conservadas de geração em geração. Essas imbuias gigantes se localizam em municípios como Vargem Bonita, Frei Rogério, Três Barras, Fraiburgo.

Veja fotos das imbuias gigantes localizadas em Santa Catarina

O pesquisador explica que, além das árvores derrubadas pelo crime ambiental, também aquelas que forem ao chão por força da natureza são úteis para o trabalho de pesquisas em dendrocronologia. O método científico que determina a idade, com base nos anéis de crescimento das árvores, círculos visíveis no corte transversal do tronco.

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– Nós vamos até o local e fazemos a coleta de amostras de madeira – diz.

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Scipioni dá dicas para quem encontrar uma árvore que considere gigante:

– Para nomear uma árvore grande, primeiro se deve ter certeza da identificação correta da espécie, em seguida, fazer algumas medições básicas para determinar a circunferência na altura de 1,30 m do solo, se possível medir a altura da árvore em metros. A gente pede para que a fotografia tenha uma pessoa ao lado da árvore, o que facilita a verificação do tamanho do tronco. Saliências na base e bases tabulares podem ser incluídas na altura de 1,3 m, como ocorre com as figueiras. A localização geográfica da árvore é obrigatória para o registro da árvore no banco de dados – explica Scipioni.

Os resultados dessas pesquisas foram feitos com o financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

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É difícil cravar onde está a árvore mais antiga do Brasil. Mas existem referências entre as 9 mil espécies que marcam a nossa biodiversidade. Batizada de Patriarca da Floresta, o jequitibá-rosa (Cariniana legalis) com 42 m de altura, 4 m de diâmetro e 11,3 m de circunferência está localizado em Santa Rita do Passa Quatro (SP), a cerca de 245 km da capital, seria a espécie mais antiga. Fica dentro de um parque. A idade chegou a ser estimada em mais de 3 mil anos, contudo, segundo pesquisas mais recentes, teria entre 600 e 900 anos.

Isso significa que antes do colonizador Pedro Álvares Cabral chegar por aqui, os povos originários já o conheciam. Na América do Sul, o Chile seria o caminho: no parque nacional Alerce Costero, no sul, um cipreste-da-patagônia (Fitzroya cupressoides) é, supostamente, a árvore mais antiga do mundo.

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A descoberta é relativamente recente, quando, em 2020, o climatologista Jonathan Barichivich, do Laboratório de Ciências do Clima e Meio Ambiente e Meio Ambiente de Paris, conseguiu atingir 40% do interior da planta, alcançando uma idade estimada de 2.400 anos. A partir daí, o pesquisador utilizou um modelo preditivo para calcular a idade total da árvore, chegando à estimativa de 5.484 anos. Como não se trata do método tradicional de contagem, a descoberta não é reconhecida por toda a comunidade científica.

Ainda assim, o modelo preditivo acaba sendo a solução para estimar a idade de muitas espécies, quando o núcleo já se encontra podre. Para os que concordam com o método do climatologista, o cipreste-da-patagônia bateu o concorrente americano, um antigo pinheiro (Pinus longaeva) espécie mantida em segredo para garantir sua segurança, na Grande Bacia do Nevada, na Califórnia.

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Por muito tempo, essa foi considerada a árvore viva mais antiga do mundo, somando 4853 anos, popularmente chamado Matusalém, que teria 4853 anos. O nome é uma referência ao personagem bíblico que viveu mais: 969 anos. A história dele está registrada em Gênesis (5 : 21-32).

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