Mais de uma semana após o ataque à creche em Saudades, que deixou cinco mortos, os moradores ainda tentam assimilar tudo o que aconteceu naquela fatídica terça-feirça, 4 de maio. Em meio ao drama do dia a dia, um grupo de pessoas se une em trabalho voluntário para reformar a Escola Infantil Pró-Infância Aquarela, local do crime. Entre elas, está Vanda Beatriz Garnatz, que tinha uma ligação com praticamente todos os envolvidos e, inclusive, foi professora do autor da chacina.

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Trabalhando como professora da Escola Estadual Rodrigues Alves há 19 anos, Vanda já conheceu muitas pessoas. As duas professoras mortas no ataque à creche Aquarela, Keli e Mirla, foram alunas de Vanda antes de se tornarem colegas de profissão.

A filha mais nova de Vanda, que hoje tem quatro anos de idade, estudou por dois na Aquarela – tempo esse em que Vanda fez parte da Associação de Pais e Professores, e a filha do meio, por três anos, estagiou no local.

A outra relação é com o autor do crime. O jovem de 18 anos, que está preso pelo assassinato das cinco vítimas, era aluno dela desde o oitavo ano.

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– Era um aluno tranquilo, com algumas dificuldades, mas que sempre recebeu uma atenção muito grande de todos os professores, visto que tinha um bom comportamento e nunca causou problemas – recorda.

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Quando soube do trabalho voluntário, que está sendo organizado pelos clubes de serviço e associações de Saudades, Vanda não teve dúvidas de que iria ajudar. Acolhida pela cidade há mais de 20 anos, ela destaca que aprendeu a conviver de forma harmoniosa com todos:

– Quando cheguei aqui eu achei estranho porque todos sempre se cumprimentavam e se ajudavam, mesmo sem se conhecer. Sempre foram pessoas queridas. Então, eu aprendi a ser assim também e ajudar os outros sabendo que, se um dia eu precisar, também receberei essa ajuda.

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Como será a reforma na creche que sofreu o ataque em Saudades

As reformas da escola vão desde a aplicação de uma nova pintura até a mudança do espaço físico. A sala onde foram mortas as vítimas, por exemplo, já foi demolida e dará espaço a um novo lugar.

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Mesmo sem a definição sobre quando serão retomadas as aulas neste espaço, os voluntários estão divididos em três turnos para agilizar o processo e, na maioria dos casos, atuam em serviços que não fazem parte do seu dia a dia.

O aposentado Eloi Afonso Mohr, que sempre morou em Saudades, é um exemplo disso. Há 63 anos no município, Eloi faz parte da equipe de pintores que tenta, de forma criativa, dar uma cara nova ao espaço. Tanto para os alunos e professores, quanto para a comunidade em geral.

Eloi Afonso Mohr
O aposentado Eloi Afonso Mohr está no grupo que ajuda na reforma da creche (Foto: Sirli Freitas, especial)

– Foi um choque enorme para todos. Nasci e me criei aqui e jamais esperava passar por isso – explica.

Eloi revela um misto de emoções pelo serviço que está prestando para ajudar a creche.

– Eu não queria que o motivo de estar ajudando fosse por um fato tão triste como este, mas a sensação de estar aqui é, de qualquer forma, de satisfação por poder retribuir à comunidade que é tão unida sempre que precisa – completa.

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Na Escola Infantil Pró-Infância Aquarela ainda não há data para a retomada, mas as aulas nas demais escolas da rede municipal de Saudades voltam na próxima segunda-feira (17), conforme planejamento da prefeitura.

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Relembre o crime

O ataque a creche aconteceu no dia 4 de maio. O jovem de 18 anos invadiu a unidade Pró-Infância Aquarela por volta das 10h. Ele desferiu golpes contra cinco pessoas, entre elas quatro bebês menores de dois anos. Três deles morreram.

Além das crianças, a professora Keli Adriane Aniecevski, de 30 anos, e a agente educadora Mirla Renner, 20, também foram mortas. Os corpos das cinco vítimas foram velados juntos no Parque de Exposições Theobaldo Hermes na quarta-feira (5). O sepultamento aconteceu no cemitério municipal de Saudades.

O único sobrevivente do ataque é um bebê de 1 ano e 8 meses. Ele teve um dos pulmões perfurados e precisou ser submetido a uma cirurgia. No domingo (9), a criança teve alta hospitalar após cinco dias hospitalizada.

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Quem são as vítimas

Keli Adriane Aniecevski, 30 anos, professora

Mirla Renner, 20 anos, agente educacional

Sarah Luiza Mahia Sehn, de 1 ano e 7 meses

Murilo Massing, de 1 ano e 9 meses

Anna Bela Fernandes de Barros, de 1 ano e 8 meses

*por Vinicius Rigo, especial

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