Após um ano do início da pandemia do coronavírus, o mundo agora tem uma preocupação a mais: as novas variantes. Além do alto potencial de transmissão, especialistas temem que essas diferentes “versões” do vírus tenham maior capacidade de driblar os anticorpos e, assim, prejudicar a eficácia das vacinas desenvolvidas até então.
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Um levantamento do Observatório Covid-19 da Fiocruz identificou que 63% dos casos de coronavírus em Santa Catarina são causados por novas variantes. Até 11 de março de 2021, 21 pacientes foram contaminados com a variante P.1 do Sars-CoV2, identificada pela primeira vez no Amazonas no fim de 2020.
No início do mês, casos de transmissão local da variante brasileira – quando não se identifica a origem da infecção – foram confirmados no Estado. No último fim de semana, 47 casos suspeitos da variante britânica do coronavírus foram identificados em solo catarinense, segundo a Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive-SC).
Na Grande Florianópolis, mais de 80% dos casos de Covid-19 são por infecções da P.1. A informação é de uma pesquisa feita pelo laboratório Santa Luzia em parceria com o Observatório Covid-19 da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e as vigilâncias estadual e municipal.
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> Seis em cada dez casos de Covid-19 em SC são de novas variantes
Os professores do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da UFSC, André Báfica e Glauber Wagner, explicam o que já se sabe sobre as novas variantes do vírus e como podemos combatê-las.
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Diferenças entre as variantes e o coronavírus “original”
A variante brasileira P.1, originária de Manaus, é uma das “variantes de preocupação”, chamadas VOCs (sigla utilizada para descrever formas do vírus com mutações que podem causar estrago do ponto de vista de saúde pública). De acordo com o professor de imunologia da UFSC, André Báfica, em comparação com o vírus “original”, a P.1 tem 17 mutações únicas, incluindo três mutações no domínio RBD da proteína Spike, que liga o coronavírus às células humanas.
Além dessa variante, outras também causam preocupação. Entre elas, a P.2, identificada pela primeira vez no Rio de Janeiro, a B.1.1.7, que surgiu no Reino Unido, a B.1.351, localizada inicialmente na África do Sul, e duas linhagens encontradas nos Estados Unidos, a B.1.526, encontrada em Nova York, e a CAL.20C, no sul da Califórnia.
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Pesquisadores da Rede Vírus, da Rede Corona-ômica-BR e do Laboratório Nacional de Computação Científica, encontraram uma nova variante, ainda não caracterizada como uma linhagem distinta, no país. Batizada de N.9, essa forma vem de uma outra parte da árvore evolutiva do Sars-CoV-2, distinta daquela que originou a P.1 e P.2, mas também possui a mutação E484K, que reduz a ação de anticorpos neutralizantes.
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Variante Ômicron
Em 18 de noembro, uma nova variante da Covid-19 foi detectada em um paciente na África do Sul. Nomeada como Ômicron, a nova cepa B.1.1.529, tem sintomas diferentes dos comuns do coronavírus.
É necessário lembrar que desde a descoberta de uma nova mutação da Covid-19 o mundo se mobiliza para conter a disseminação do novo vírus, já que uma nova onda da pandemia pode acontecer.
Todos os continentes já registraram pacientes que testaram positivo para a variante Ômicron. Até agora nenhuma morte foi confirmada pela nova cepa do coronavírus. Cientistas afirmam que ainda não é possível dizer se a nova variante é resistente às vacinas já criadas e aplicadas na população.
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Variantes do coronavírus são mais transmissíveis
Uma das principais preocupações destacadas por especialistas é a maior transmissibilidade das variantes. O professor Glauber Wagner explica que isso ocorre porque as mutações geram maior reconhecimento das células humanas, o que permite que o vírus invada mais rapidamente a célula e na mesma velocidade consiga se replicar.
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Além disso, algumas das mutações que estão presentes na variante já foram associadas a reinfecções, o que também mostra uma capacidade de escapar do sistema imune natural.
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Como as variantes surgem
Uma variante pode surgir a qualquer momento, em qualquer lugar do mundo. Basta ela invadir uma célula, replicar, ter um acúmulo de mutações no seu material genético e essas mutações melhorarem a capacidade do vírus de causar o processo infeccioso. As variantes que têm esse “sucesso” se tornam mais predominantes.
— Quanto mais gente infectada, mais o vírus se multiplica. Quanto mais o vírus circula, mais mutações vão aparecer, mais chances de ter variantes novas surgindo pelo mundo — explica Wagner.
Como combater as mutações do coronavírus
Apontadas muitas vezes como a causa da piora da pandemia no Brasil, e em Santa Catarina, as variantes são resultado do descontrole da pandemia e da alta circulação de pessoas. Para os professores de imunologia da UFSC, a melhor forma de combater a circulação da variante é a adoção de medidas mais restritivas pelas autoridades e a vacinação rápida para todas as pessoas.
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— A solução é bloquear a transmissão do vírus. Evidentemente, a melhor forma de fazer isso é a imunização. A única coisa que realmente vai permitir a volta a uma normalidade, ainda que não seja a normalidade pré-pandemia, é a vacina. Não tem jeito, nós precisamos ter uma vacinação em massa no Brasil para ontem. Isso deveria ter sido prioridade da prioridade, mas infelizmente não foi o que aconteceu — destaca Glauber Wagner.
Para o professor, sem vacinação em massa, o caminho então é realizar fechamentos de atividades, como lockdown, mesmo que temporário.
— Por que muitos pesquisadores do mundo inteiro estão preocupados com o Brasil? Porque o Brasil não está controlando a pandemia. Como nós temos uma variante altamente infectiva, a taxa de transmissão é muito elevada. Isso faz com que exista a possibilidade de criação de mais variantes no país.
As variantes podem atrapalhar as vacinas?
A variante britânica não parece causar impacto potencial nas vacinas disponíveis contra a Covid-19. A variante da África do Sul, quando testada contra o soro de indivíduos vacinados com as vacinas da Pfizer, Moderna e Oxford/AstraZeneca, diminuiu significativamente o nível de anticorpos presentes no sangue.
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Como a ação de anticorpos é um dos mecanismos de resposta imune, essa variante pode potencialmente reduzir a eficácia das vacinas, segundo estudos feitos na África do Sul com as vacinas da Novavax e da Janssen, que tiveram uma redução na eficácia de seus imunizantes (de 89,1% para 48,6%, no caso da Novavax, e de 72% para 64%, para a Janssen) quando testados naquele país.
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Estudo com o soro de indivíduos vacinados com as vacinas da Pfizer e Moderna contra a variante de Manaus apontou redução nos anticorpos neutralizantes, embora em uma proporção menor do que o observado com a B.1.351. A Janssen conduziu testes na América Latina e verificou uma redução da eficácia de sua vacina na região, embora não haja ainda confirmação de que essa redução estaria ligada à P.1.
Já dados preliminares ainda não divulgados oficialmente das vacinas da Oxford/AstraZeneca e CoronaVac indicam que essas vacinas são eficazes contra a P.1, de Manaus.
O estudo das vacinas da Pfizer e Moderna com soro de indivíduos vacinados apontou redução de anticorpos quando testados contra a variante P.2, mas não há dados concretos sobre redução de eficácia. Para as demais vacinas, não há dados.
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É importante ressaltar que, mesmo com a redução de eficácia, as vacinas ainda têm potencial em reduzir a hospitalização e severidade da doença, e não houve mortes no grupo de indivíduos vacinados dos dois estudos, indicando proteção contra mortes. Além disso, elas protegem contra a linhagem ancestral do vírus e ainda podem ser boas aliadas para a imunização da população.
Traduzindo: o que são linhagens, cepas, mutações e variantes
A terminologia da variação viral pode ser confusa. Ela reflete a biologia de replicação básica dos vírus de RNA (como o Sars-CoV-2) que resulta na introdução de mutações em todo o genoma viral.
— Mutação é uma alteração permanente do genoma viral através da mudança de um ou mais nucleotídeos. No caso de vírus, isso acontece durante o ciclo de replicação intracelular. Algumas dessas mutações podem conferir uma vantagem para os vírus, como uma facilitação no processo biológico de transmissão. Quando mutações específicas, ou conjuntos de mutações, são selecionadas por meio de várias rodadas de replicação viral, uma nova variante pode surgir — esclarece o professor de imunologia da UFSC, André Báfica.
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As mutações são comuns. Se o vírus estiver circulando de forma descontrolada entre as pessoas, o que tem acontecido no Brasil e em Santa Catarina com a diminuição de medidas de combate à Covid-19 desde o início do ano, há maiores chances de surgirem variantes com vantagens evolutivas.
O professor de imunologia da UFSC também explica as distinções entre cepa e linhagem.
— Se a variação da sequência produzir um vírus com características fenotípicas distintas, a variante é denominada cepa. Quando, por meio do sequenciamento genético e da análise filogenética, uma nova variante é detectada como um ramo distinto em uma árvore filogenética, temos uma nova linhagem.
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Saiba mais sobre as variantes da Covid-19
*Com informações da Folhapress e supervisão de Carolina Marasco
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