Preso em Joinville, onde entregou-se na Delegacia da Polícia Federal nesta terça-feira (26), após permanecer quase dois meses foragido, o caminhoneiro bolsonarista Marcos Antônio Pereira Gomes, conhecido como Zé Trovão, não foi interrogado. Seguiu direto para o Presídio Regional, e ainda não há informações de quando será ouvido pelas autoridades. 

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O caso, no entanto, deixou um rastro de perguntas ainda sem resposta. A coluna separou três dos principais questionamentos que as autoridades ainda precisam responder.

1 – Como Zé Trovão entrou no Brasil sem ser preso

Quando o STF expediu mandado de prisão contra o caminhoneiro Marcos Antônio Pereira Gomes, por descumprimento de ordens judiciais, ele estava no México. Ainda em setembro, a PF colocou o nome dele na lista vermelha da Interpol, onde estão os brasileiros com mandado ativo de prisão. Com isso, notificou a polícia internacional de que Zé Trovão era procurado pela Justiça no Brasil.

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Assim como funciona no Brasil, no México a prisão de um estrangeiro precisaria ser referendada pela Justiça local. O fato do mandado mirar em um aliado do governo brasileiro tornou o caso uma saia-justa diplomática, e é provável que por esse motivo não tenha havido encaminhamento. Mas, com o mandado de prisão ativo, Zé Trovão seria detido no momento em que retornasse ao país. O que não aconteceu.

Nem a Polícia Federal, nem a defesa do caminhoneiro, informam como ele entrou no Brasil. Fontes ouvidas pela coluna apontam a possibilidade de que Zé Trovão tenha seguido até a Argentina ou o Paraguai de avião, e feito o restante do trajeto por meio rodoviário. Mas chama atenção que não tenha sido identificado em nenhuma fronteira brasileira. Ao site local Top Elegance, Zé Trovão disse antes de se apresentar à polícia que já estava em casa, em Joinville, desde o último domingo (24). 

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2 – Por que se entregou

Há diferentes versões sobre os motivos que teriam feito Zé Trovão, foragido, retornar ao Brasil. A primeira delas foi levantada por fontes próximas ao caminhoneiro e pela sua antiga defesa, que apontaram dificuldades financeiras para que ele continuasse no México. As fontes de financiamento teriam se esgotado ao longo do tempo.

Em uma petição anexada ao inquérito que investiga a organização dos atos de Sete de Setembro, que corre em sigilo no Supremo, seu antigo advogado afirmou que o caminhoneiro é pai de um filho recém-nascido em Joinville, que depende “do trabalho e da renda paterna”.

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A advogada Thaise Mattar Assad, que assumiu recentemente o caso de Marcos Antônio Pereira Gomes e o acompanhou nesta terça-feira, disse à coluna que, além de questões familiares, Zé Trovão passou a “confiar na Justiça” e por isso se entregou. Ela informou que apresentará um pedido de liberdade para o caminhoneiro ao ministro Alexandre de Moraes.

Mas há ainda uma leitura política sobre o contexto da entrega do bolsonarista Zé Trovão, que coincide com uma nova mobilização de caminhoneiros – desta vez, insatisfeitos com o preço do diesel e a tabela do frete. Seria um recado à categoria, um “sacrifício” pró-governo (manobra arriscada, já que Zé Trovão não é reconhecido como liderança pelos motoristas). O presidente Jair Bolsonaro chegou a anunciar um auxílio para caminhoneiros para tentar frear os ânimos da categoria.

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3 – Quem financiou seu turismo internacional pela América Central

É fundamental para as autoridades entender como um desconhecido caminhoneiro catarinense, alçado a influencer bolsonarista, consegue fazer turismo pela América Central enquanto é procurado pela Polícia Federal. Segundo informações da própria PF, Marcos Antônio Pereira Gomes passou pelo Panamá e pelo México, onde hospedou-se em Guadalajara, Cidade do México e em Cancún, conhecido destino turístico caribenho.

Caminhoneiros creditam ao setor do agronegócio mais próximo ao presidente Jair Bolsonaro o financiamento de Zé Trovão. Isso explicaria como ele conseguiu deixar o país e se movimentar livremente no exterior.

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Essa hipótese, no entanto, era afastada por sua antiga defesa. Seu ex-advogado disse à coluna que o caminhoneiro vinha se mantendo com “o básico do básico”, por meio de recursos que enviados por amigos e conhecidos – especialmente de SC, das cidades de Joinville, São Francisco do Sul e Itajaí. Uma chave Pix e uma conta bancária que eram usadas para o envio de doações anônimas para o caminhoneiro, foram bloqueadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Identificar a fonte de recursos do turismo internacional de Zé Trovão pode ajudar a explicar o financiamento de atos de teor golpista que estão na mira do Supremo e são inconstitucionais.

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