Dias antes da madrugada que mudou a sua vida para sempre, Jeferson Luiz Esmeraldino fazia um plano para dali a 9 meses. Queria organizar em um shopping de Tubarão a festa de 6 anos da sua filha Ana Liz. Mas o turno de 30 de novembro de 2020 na Polícia Militar em Criciúma acabou com esses planos.
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Uma quadrilha invadiu a cidade. Queria o dinheiro do Banco do Brasil. Conseguiram R$ 125 milhões. No caminho, havia o batalhão da PM. Por volta das 23h50min daquela noite de segunda-feira de céu claro e lua cheia, depois de sitiar policiais, se depararam com um pequeno grupo de homens da lei. Na troca de tiros, a sorte não estava ao lado do soldado Esmeraldino.
Baleado na Avenida Gabriel Zanette, a poucos metros do batalhão da PM, ele tornou-se um símbolo, com seu sangue e sofrimento, do que Criciúma viveu naquela madrugada e tornou-se notícia internacional. O jovem soldado, que completou 33 anos hospitalizado, em 1º de fevereiro, passou a lutar incessantemente pela vida. Os tiros foram potentes, de armas de grosso calibre, o que colaborou para deteriorar o quadro de saúde do soldado. – O tiro foi nele, mas nos acertou em cheio – não cansa de repetir a mãe do PM baleado, Sandra Aparecida Nunes.

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Em 5 de fevereiro, pouco mais de dois meses depois daquela trágica madrugada, Esmeraldino ganhou alta hospitalar. E começou a buscar a recuperação em casa, em Tubarão. Uma luta pesada, pois pulmões, fígado, estômago, rins e intestino foram atingidos em cheio nos disparos dos bandidos.
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E a festa de aniversário de Ana Liz?
Mas e o plano que Esmeraldino havia compartilhado com seus colegas de PM? De fazer aquela festinha bonita para a sua amada Ana Liz?
— Ela lembrou. E contou que estava triste pois não conseguiriam fazer a festa, pois o papai está doente — destacou a mãe do policial e avó da menina na noite desta segunda-feira (23), enquanto preparava as malas para uma breve e importantíssima jornada que seu filho encarará em breve.
Os médicos que cuidam de Esmeraldino souberam da história.
— E os dois médicos que fazem o tratamento de ozonioterapia nele ficaram com pena. A minha netinha queria a festa, e eles organizaram — revelou Sandra.
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E Ana Liz conseguiu comemorar os seus 6 anos na última sexta-feira (20) e do jeito que ela e o pai queriam.
— Os amigos trouxeram fantasias, ela queria uma festa de “A Bela e a Fera” e assim fizemos. Ela se vestiu de Bela, e o meu filho nós vestimos de Fera. Conseguimos colocar ele na cadeira de rodas e ele participou. Sem se mover, sem reagir, do jeitinho dele, mas estava ali — comentou a mãe, muito emocionada: — Não teve como não chorar — completou.

— Foi bom também pois descontraímos. O pessoal trouxe comida, bebida, decoração, arrumaram tudo. Foi muito bonito. E a Ana brincou com o pai, esteve sempre do lado dele — relatou a avó de Ana Liz. — O Jeferson dizia que queria fazer a festa dela no shopping, com esse tema. Ela memorizou isso, e essa surpresa foi muito grande. Quando viu o pai vestido de “Fera”, ela ficou muito feliz — referiu Sandra. — Ele sempre foi um paizão — emendou.
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Ana Liz está em tratamento psicológico, para encarar a nova realidade vivida com o pai, tão presente na vida dela.
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— Ela já está mais acostumada, disse que falta um pouco mais para se acostumar. Antes ela tinha medo dele, mas ela está consultando com psicóloga — confirmou a avó.

Uma cirurgia e a grande esperança
Sandra, o seu marido e Jeferson Esmeraldino vão para Florianópolis nesta terça-feira (24). Nesta quarta (25) vão dar um grande passo na luta pela recuperação do policial.
— Estamos de malas prontas. Vamos para Florianópolis, quarta-feira ele opera, vai usar uma válvula no cérebro, está com hidrocefalia. A expectativa é que colocando ele possa ter uma melhora. Não é 100%, mas tudo tem que ser feito — relatou a mãe.
Os médicos que acompanham Esmeraldino apontam que, com a válvula, é possível alcançar um estágio que possa levar o paciente a reagir.
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— Quem sabe ele possa interagir, dar retorno. Já era para ter colocado essa válvula, não adianta tirar o líquido pois volta, o certo é usar essa válvula, que será definitiva na cabeça dele — comentou Sandra. — Estamos esperançosos, ansiosos. Está tudo encaminhado, vamos para lá — sublinhou.
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Em casa desde o começo de fevereiro, Esmeraldino não teve qualquer reação. Segue como antes. Não fala, nem se move.
— Ele não teve nenhuma evolução. Segue com traqueostomia, ele se alimenta por sonda no estômago. Ele tem alguns movimentos muito pequenos de melhora, ele pisca, ele ouve o que a gente conversa, mas de evolução para conversar, falar, interagir, isso não — revelou.
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Esmeraldino vai se mudar em breve
Promovido pela Polícia Militar de soldado a cabo, por ato de bravura, Esmeraldino não voltará a ter vida normal. A família já está convencida disso. A luta é por conferir dignidade a ele. O tratamento conferido pela PM é elogiado pela família.
— Muito bom, cobrem todos os custos, a atenção é constante, ele está sendo muito bem assistido — confirmou Sandra.
Há alguns meses, colegas de PM lançaram uma campanha para arrecadar recursos visando ampliar a casa da família, para melhor acolher o policial baleado.
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Com o dinheiro somado, a família foi aos cálculos, e encontrou uma alternativa melhor. Em vez de construir uma edícula para abrigar Esmeraldino, vão trocar de endereço.
— Conseguimos alcançar o recurso. Avaliamos e a gente conseguiu negociar uma casa nossa na praia, juntar com o valor arrecadado, daí compramos uma casa, com a documentação toda certa, no nome dele, em um bairro melhor, onde ele terá privacidade e o conforto dele — detalhou a mãe.

A mudança será logo após a cirurgia a qual o PM se submeterá nesta quarta-feira em Florianópolis.
— Ele ficou muito exposto aqui, daí todo mundo sabe. É um lugar perigoso, e vamos para um lugar bem bom, perto do hospital, do posto de saúde, estamos felizes com essa solução — ponderou Sandra.
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Relembre o caso
Cerca de 30 bandidos estavam no grupo que praticou o chamado “novo cangaço” no ataque a Criciúma, que configurou o maior assalto da história de Santa Catarina. Até o momento, são 16 pedidos de prisão, há 15 presos e 1 foragido, e as investigações seguem em sigilo, já que ainda há outras pessoas sendo procuradas.
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