O governo de Santa Catarina tem medo de decretar lockdown completo por 14 dias, como pediram Ministério Público e outras instituições. O Estado tem optado em atender reclamos dos empresários, que, com sua natural veia capitalista, rejeitam a ideia de fechamento de todos os negócios porque perderão faturamento. 

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Já não dá mais para esconder que o agravamento da situação sanitária, com falta de leitos de UTI para atender pacientes com Covid-19, é reflexo de dois fatores preponderantes: 1. a lentidão e a timidez das autoridades em promover ações mais drásticas – o que já deveria ter sido feito há algum tempo -; e, 2. a irresponsabilidade das pessoas, que insistem em descumprir regras, aglomerando em diversas ocasiões e nos mais diferentes municípios catarinenses.

A argumentação das lideranças empresariais dá a ideia de que a transmissibilidade da doença acontece pouco dentro dos ambientes de trabalho; e vai até o discurso de um desejo de “vida plena”, o que inclui a normalidade do funcionamento das atividades econômicas. É indiscutível que só haverá “vida plena”, se antes, houver vida.

É evidente que ninguém sabe, exatamente, onde contraiu a doença, justamente porque elas, as pessoas, se expõe em lugares diversos: em reuniões, em festas, nos supermercados, nas lojas e, inclusive, no ambiente profissional. 

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Claro que a economia move a sociedade, com formação de riqueza e criação de empregos. E por isso, é importante. SC é o segundo estado mais competitivo do país e detém a menor taxa de desemprego do Brasil. O PIB catarinense caiu 0,9% no ano passado; a média nacional foi de queda de 4,5%. 

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Quer dizer, há alguma gordura a ser queimada por aqui, mas ninguém está disposto a ceder nada. 

O crescimento econômico é diferente de desenvolvimento. Não basta crescer e termos elevada desigualdade; é essencial garantir a vida das pessoas para, num futuro de curto prazo, todos voltarem a ganhar. 

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O lockdown geral, de pelo menos duas semanas, é necessário, sim. Para preservar vidas, que ainda não foram ceifadas, mas que poderão vir a ser, se nada mais rigoroso for imposto à população. Quando há mais pacientes pedindo socorro por leitos de UTI do que a capacidade de atendimento, significa que o sistema entrou em colapso.

O cientista Miguel Nicollelis é claro: é fundamental a decretação de lockdown nacional por 21 dias, com unificação de ações em todo o país no combate à pandemia. 

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A decretação do lockdown está longe de ser “uma medida açodada”, como diz a FCDL-SC, em nota. A crise sanitária e o Covid estão entre nós há um ano. Repito: a crise sanitária e o Covid estão entre nós há um ano. E, justamente agora, vivemos o pico da doença. 

Santa Catarina vive seu pior momento. Somos, infelizmente, exemplo negativo para o país. Nesta hora crítica volto a citar Nicolelis: “não se enfrenta a pandemia na UTI, mas sim, na fronteira, para evitar a transmissibilidade”. 

Autoridades vão continuar com ações paliativas? Dirigentes empresariais vão continuar com o discurso de que em suas empresas nada acontece?

Sabemos que para ir aos locais de trabalho, as pessoas precisam pegar ônibus, ou vão de carro, andam a pé, cruzam com outras pessoas, inevitavelmente. Só medidas fortes, de contenção do povo em casa, poderá reduzir a quantidade de casos e diminuir a evolução do número de mortos. 

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